Eu que vou?

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Sou parado pelo policial.

— Sinto muito, mas o senhor precisa entregar a bebê para sua sogra e nos acompanhar.

— Como?

— Anotamos o seu relato, mas por mais que sua ação tenha sido para defender sua esposa, até apurarmos o que realmente aconteceu aqui, o senhor será detido, o rapaz no chão foi violentamente espancado, mesmo que tenha sido caso de defesa de terceiros, houve um uso excessivo de violência e força.

— Você não pode fazer isso, olha para minha mulher? Ela não tem condições de ir ao hospital sozinha. Como minha sogra irá fazer? — O desespero me toma e eu insisto em sair do quarto.

— Por favor senhor, não complique sua situação.

— Por favor, digo eu, quer me prender? Ótimo, pode fazer isso, mas deixa eu levar minha mulher e minhas filhas ao primeiro hospital.

Minhas lágrimas escorrem, e ele conversa por um momento com o outro policial.

— Tudo bem, vamos fazer o seguinte, vamos conduzir vocês até o hospital, mas assim que suas filhas estiverem alimentadas, nós lhe daremos voz de prisão.

— E minha esposa? Preciso...

— A situação da sua esposa provavelmente demorará mais tempo para ser resolvida, ela irá passar pelo exame de corpo de delito e isso pode demorar, infelizmente não poderemos ficar aguardando, o que podemos fazer pelo senhor é isso?

— Ele é o bandido, e eu que vou preso? Isso é ridículo, não entendo essas leis.

Os paramédicos descem com Daniel e eu continuo tentando argumentar.

— Eu compreendo senhor, mas tente entender nossa posição, tiramos fotos, os paramédicos vão relatar a situação do rapaz, se não procedermos com as regras, podemos ser penalizados, além do que, isso pode prejudicar o processo que o senhor certamente enfrentará, por favor, aceite nossa oferta é tudo que podemos fazer pelo senhor no momento. — Um dos policiais me diz.

— Noah, é melhor aceitarmos. Vou ligar para a Ana e ver se ela pode nos encontrar lá e acompanhar Nicole.

Concordo com ela, então ela vai até o quarto e pega a bolsa das meninas, ainda bem que Nicole sempre deixa pronta para uma emergência. Minha esposa continua sentada chorando, sem reagir, me aproximo dela.

— Amor, vem comigo, nós precisamos ir ao hospital.  — Pego na mão dela, mas ela não levanta, então olho para o policial. — Será que o senhor pode segurar a bebê?

Ele concorda e pega minha filha nos braços, elas ainda estão chorando e meu peito parece levar mil facadas ao mesmo tempo. Pego Nicole em meus braços e sinto o corpo dela enrijecer, parece que ela está com medo até mesmo de mim.

— Me perdoa minha vida, me perdoa por tudo isso. Você vai ficar bem, eu prometo. — Sussurro no ouvido dela enquanto desço as escadas.

Antes de entrar com ela na viatura, vejo Branca ajeitando as meninas na cadeirinha em meu carro. Me sento com Nicole em meus braços e minha sogra se aproxima.

— Vou com seu carro, as cadeirinhas já estão lá, será mais rápido, já falei com a Ana, ela está indo para o hospital, também vai levar uma roupa lá da agência mesmo, para Nicole.

— Preciso que se lembre de buscar a Maitê na escola.

— Pode ficar tranquilo, também já liguei para o doutor Tavarez, ele vai para a delegacia, vamos resolver tudo, se Deus quiser, logo você estará em casa.

Depois da ChuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora