Depois da Chuva

Não somos

Me surpreendo ao encontrar Daniel, seus pais, Emma e mais um homem que eu não conheço.

— O que querem aqui?

— Oi Noah, será que podemos conversar com você e Nicole? —O pai dele pergunta, e o desgraçado nem se quer levanta a cabeça para me olhar.

— Não tenho nada para falar com vocês, e sobre Nicole, esse filho da puta, já causou mal o suficiente a ela, vão embora. — Aponto para Daniel, que permanece olhando para baixo.

— Por favor, Noah, vocês sempre foram amigos... — A mãe dele me pede, mas não consigo nem sentir pena dela.

— Amigos? Eu fui amigo, pelo que ele revelou, ele sempre foi um verme invejoso que queria a minha garota. Olha, eu peço desculpa, vocês sempre me receberam bem na casa de vocês, mas vão embora, não quero que Nicole...

— Noah, quem está aí? — Nicole pergunta assim que aparece no topo da escada, me interrompendo, e merda!

— Ninguém importante, amor, já estão indo embora, você pode olhar as panelas para mim? — Tento manter a porta só entre aberta para que ela não veja, mas Nicole franze a testa e ao invés de ir para a cozinha, vem para o meu lado.

— O que você está fazendo aqui? — Ela grita e o desgraçado a olha.

Respiro fundo, minha vontade é socar a cara dele novamente, mas minha esposa está visivelmente alterada, Nicole tenta travar a mandíbula para não chorar e sua respiração fica   ofegante.

— Calma amor, eles já estão indo embora...

— Nicole, sei que meu filho é a última pessoa que você gostaria de ver, quem dirá falar. Mas você também é mãe, entende meu sentimento, e é como mãe que eu te imploro, nos escute? — A mulher começa a chorar e mesmo sendo mulher, sinto vontade de dar na cara dela também, escrota do caralho, não vê que Nicole está sensível?

— Amor, não precisa... Eles podem e vão embora... — A abraço e acaricio.

— Não, Noah, vamos ouvir e depois eles vão, entrem.

Suspiro, mas abro a porta e dou passagem, assim que sentamos o pai do Daniel, que tem o mesmo nome que ele, toma a frente da conversa.

— Bom, foi lamentável tudo o que aconteceu, mas viemos aqui, primeiro para Daniel pedir desculpas e depois para tentarmos chegar a um acordo.

— Acordo de? — Eu pergunto não entendo.

— Um acordo satisfatório para todos, esse caso com a exposição que Nicole fez, está sendo muito prejudicial às nossas empresas, estamos tentando contornar, mas está difícil. Já resolvemos a situação do casamento de Daniel, Emma voltou para casa e emitimos uma nota, onde declaramos que Daniel está sofrendo de transtornos psicológicos, quando fez e falou tudo aquilo, ele estava em surto. Mas...

— Falta de caráter agora é surto psicológico? — Não estou acreditando na merda que estou ouvindo. — E o que nós temos a ver com isso?

Nicole não diz nada, e eu a envolvo em meus braços e fico a acariciando, enquanto percebo Daniel nos olhar de canto, sem erguer totalmente a cabeça.

— As pessoas esperam uma declaração de vocês, dizendo que entendem e vão apoiar o amigo. Além disso, queremos propor que retirem a queixa, assim ficará mais fácil de todos seguirmos. Podemos inclusive compensar vocês financeiramente por todo esse transtorno...

— O senhor está querendo nos comprar? — Nicole questiona o encarando.

— Não é isso, quero apenas resolver e deixar todos satisfeitos para esquecermos esse assunto e seguirmos nossas vidas.

— E o senhor acha que um cheque e um aperto de mãos, vão me fazer esquecer o porco nojento do seu filho me segurando a força, tentando me beijar e enfiar o pinto podre dele dentro de mim? — Nicole olha para Daniel que a olha rapidamente, mas abaixa a cabeça novamente e não diz nada.

— O que é isso, menina? Olha o respeito com pessoas de idade.

— O que é isso? Pergunto eu. Quem vocês pensam que são para entrar em nossa casa com uma proposta dessas, teu filho é um verme, e vocês um bando de sem vergonhas, não precisamos do dinheiro de vocês, sou perfeitamente capaz de sustentar minha família e dar tudo que elas precisam ou querem. Também tenho dinheiro, mas ao contrário de vocês, tenho princípios, e dinheiro não resolve tudo.

— Noah, assim como você, estou tentando proteger minha família.

— Não, não é como eu, porque eu jamais tentaria comprar alguém para esquecer algum crime. Mesmo que as criminosas fossem minhas filhas. E você Emma, não sei qual motivo te leva a permanecer nessa família, mas sinto muito por você não conseguir ou não querer se livrar da presença deles. Agora que já falaram, caiam fora. Não nos procurem mais, já temos uma ordem de restrição contra Daniel, e vamos pedir uma contra todos vocês se for preciso, nos esqueçam. Sobre esse processo, não iremos fazer nada, ele vai seguir o curso da justiça.

Levanto puxando Nicole para me acompanhar, abro a porta e aponto para fora. Eles se levantam e não dizem mais nada. Quando passam por nós, Emma para por um segundo e nos olha.

— Vocês fizeram o certo, sinto muito pelo que passaram e estão passando.

Eles vão embora e confesso que senti pena dela, parece acuada e que está sendo obrigada a permanecer ao lado dele. Fecho a porta e abraço minha esposa que suspira e enfim deixa suas lágrimas rolarem.

— Estamos bem, fica calma minha vida, vai ficar tudo bem. — Pego no queixo dela, mas sinto cheiro de queimado. — Vem comigo amor, preciso desligar as panelas, a comida com certeza já era, mas temos que evitar por fogo na casa.

Consigo fazê-la dar um leve sorriso com meu comentário, então vamos para a cozinha, desligo tudo, não deu para salvar nada. Suspiro pensando em pedir algo para comermos, mas...