29. Mais uma estrelinha...

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Sei que Branca não contou a ela o que aconteceu, eu a abraço e respiro fundo antes de continuar dizendo

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Sei que Branca não contou a ela o que aconteceu, eu a abraço e respiro fundo antes de continuar dizendo.

— Maitê, você não poderá ir no hospital por enquanto, na verdade, teremos que aguardar para saber quando você poderá ir... Sabe, ainda faltavam algumas semanas para nosso Noah nascer, você lembra que conversamos sobre isso?

— Sim, mas a Branca disse que vocês estavam no hospital, que ele iria nascer antes do tempo.

— Eu sei princesa, mas acontece que só fomos para o hospital, porque a Nick sofreu um acidente... Tinham limpado a academia e o piso ainda estava molhado quando ela chegou, a Nicole escorregou e caiu, por isso tivemos que ir para o hospital e antecipar o nascimento do Noah.

— Então ele nasceu? Porque não posso vê -lo?

— Ele nasceu princesa, só que o tombo... — Engulo em seco, tentando me controlar, para minha sogra simplesmente disparei que o bebê nasceu morto, mas não posso falar assim para minha irmã.

— Conta logo Noah...

— Princesa, o tombo machucou a Nick e o bebê, Nick está dormindo, se Deus quiser, logo ela acorda e vai ficar bem, mas nosso bebê virou uma estrelinha, agora o papai e a mamãe vão cuidar dele, enquanto eu e a Nick continuaremos cuidando apenas de você...

Minhas lágrimas que eu havia conseguido segurar por alguns minutos, voltam a escorrer, aperto ela em meu abraço e me permito chorar, minha irmã não diz nada, apenas permanece abraçada a mim, até que Branca me chama.

— Noah, precisamos nos apressar, ou vamos nos atrasar.

— Princesa, precisamos nos arrumar, nós vamos no enterro do bebê, lembra quando fomos no enterro do papai? Então...

— Eu não quero ir, não quero... — Minha irmã diz aos prantos, me interrompendo.

Eu não consigo imaginar o que ela está pensando ou sentindo disso tudo, mas entendo. Se para mim que sou adulto, já está muito difícil assimilar e lidar com tudo isso, imagina para ela que ainda é uma criança. Porém não sei o que fazer, a opção seria chamar uma babá, mas Maitê nunca gostou muito disso, quem dirá num momento que ela está sensível.

— Eu fico com ela se não for problema para você, também acho melhor não ir. — Minha sogra diz, e percebo em seu olhar que ela está quase suplicando para que eu aceite, com certeza está sem coragem de ver o neto em um caixão.

— Tudo bem, vocês podem ficar.

— Venha Noah, vou preparar um café reforçado antes de você sair.

— Estou sem fome Branca.

— Eu sei, mas você precisa se alimentar, até porque você não irá voltar direto para cá, ou vai?

— Não, eu vou para o hospital, Nicole mesmo dormindo já está em um quarto, e não quero deixá-la sozinha mais que o necessário...

— Também quero ficar com a Nick, posso ficar junto com você? Eu fico quietinha até ela acordar. — Minha irmã diz ainda chorando e eu a acaricio.

— Sei que sim, mas Má, não pode entrar criança no hospital, sei que você está triste, que você também ama muito o Noah. Vamos precisar nos ajudar e ficar muito juntos para conseguirmos ficar menos tristes e continuar vivendo sem ele. Eu prometo que assim que o médico liberar a Nick, eu a trago para casa e você fica abraçada com ela, tudo bem?

Mesmo chorando ela acaba concordando, seguimos para a cozinha e como as duas insistem, eu acabo comendo um pouco. Minha irmã fica o tempo todo ao meu lado e quando estou saindo ela me chama.

— Eu sei que não é a mesma coisa, mas eu prometo que vou te abraçar, te dar muito carinho e ser muito obediente, e sempre que você estiver com muita saudade do Noah, você me chama e nós dois vamos juntos procurar as três estrelinhas mais brilhantes no céu, e então saberemos que eles estão lá, a mamãe, o papai e agora o Noah.

Novamente a abraço ao ouvir ela dizer isso em meio às lágrimas, e após alguns minutos também chorando eu me despeço.

— Obrigado princesa, eu sei que você vai nos ajudar muito, seu carinho é muito importante para nós. E você já me dá muito orgulho, sempre, eu te amo.

Dou um beijo no rosto dela e saio. Dirijo sem acreditar que estou indo enterrar meu filho, estou quase chegando quando recebo uma mensagem da funerária, dizendo que eles já chegaram ao cemitério, respondo rapidamente que também já estou próximo.

Quando estaciono, fico alguns minutos sentado em meu carro, respirando fundo e buscando forças e coragem para descer. Sem ter mais como adiar ou escapar desse momento inimaginável, eu desço e entro no cemitério, sigo direto para a área onde ele será enterrado, e ao me aproximar já consigo avistar o pequeno caixão branco, assim que chego ao lado, eu digo para os três homens que estão ali.

— Abre, eu quero ver o rostinho do meu filho.

— Tem certeza, senhor?

— Sim, abre. — Digo incisivo, e então um dos homens se aproxima abrindo.Eu levo minha mão ao rostinho do meu anjinho, acaricio por alguns segundos, então deposito um beijo em sua testa. — Vai com Deus meu amor, você sempre estará no meu coração e sei que no da sua mãe, no da sua avó e no da sua tia também, obrigado por me tornar pai, saiba que você sempre foi muito amado e desejado, e que vamos sentir muito a sua falta. Eu te amo, meu filho.

Dou mais um beijo em sua testa, observo por alguns segundos seu rostinho, ele é tão lindo quanto Nicole, parece um anjo que está apenas dormindo. Respiro fundo e digo que já podem fechar e prosseguir com o sepultamento.

Fico observando os homens, que fecham o caixão e começam a desce-lo, o cemitério parece um grande jardim, onde há um imenso gramado verde e flores. Minhas lágrimas rolam enquanto vejo eles jogarem terra em cima, não aguento a dor que estou sentindo e me ajoelho no chão, chorando sem parar.

Assim que eles terminam, colocam em cima as coroas de flores que eu encomendei, me dão novamente os pêsames, perguntam se eu preciso de mais alguma coisa e após a minha negativa, eles saem.

Eu fico ali, até que me sento no chão, e permaneço chorando enquanto olho para o túmulo do meu filho. Após algum tempo, começa a chover, mas eu não me importo de me molhar, e mesmo a chuva ficando cada vez mais forte, eu não me movo, pois o dilúvio maior está em meu coração. Não sei quanto tempo eu fico ali, não tenho coragem de levantar e sair deixando um pedaço do meu coração nesse cemitério, mas então...

Depois da ChuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora