34. Algo incomodando...

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— Porque não estacionou na academia como de costume?

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— Porque não estacionou na academia como de costume?

— Não sei, me deu um aperto lembrar do desespero daquele dia, não viemos mais aqui e... — Respondo com a voz embargada, ela aperta minha mão e volta a falar.

— Também estou sentindo isso, mas precisamos entrar, mudar de casa é uma opção viável, já nas empresas, não seria nem inteligente essa opção, além de ser um gasto com o qual não podemos arcar. Vem, vamos entrar aqui primeiro, acho que será mais fácil, depois, vamos juntos para a academia.

Concordo com ela e abro a porta do carro, desço e ela também, dou a volta no carro até encontrá-la e novamente pegar em sua mão, entramos devagar, Nicole apenas diz bom dia e seguimos direto para a sala dela. Alguns minutos depois a assistente dela entra e agradecemos porque como ela já havia mandado flores e um cartão para nossa casa e também falado conosco pelo telefone, ela não toca no assunto e logo começamos a falar sobre os contratos da agência.

Cerca de quarenta minutos depois, estamos apenas nós dois na sala dela, Nicole para de ler um contrato e após alguns segundos em silêncio ela pergunta.

— Você que pediu para tirarem as coisas que tínhamos preparado para o bebê daqui?

— Não, achei que tinha sido você.

— Não fui, mas não importa, acho que foi até bom. Vamos para a academia?

— Tem certeza? Posso ir...

— Não, você não irá sozinho, vamos juntos, você ficou comigo até agora, e sei que para você também não será fácil, estou bem amor, não tente me preservar tentando carregar tudo sozinho.

— Eu te amo.

— Eu também te amo, agora vamos...

Dou um beijo nela e seguimos para a academia, ao contrário de como aconteceu na agência, que provavelmente a assistente de Nicole orientou a todos, assim que chegamos a recepção da academia, os funcionários já se aproximaram nos dando os pêsames e oferecendo apoio.

Agradecemos a atenção de todos e ao entrarmos em minha sala veio mais um baque, assim como fizemos na sala de Nicole, aqui também havíamos preparado um cantinho para o Noah, e ver tudo ali, sabendo que terei que me desfazer dessas coisas porque meu menino não poderá usufruir, me fez sentar no chão mesmo e começar a chorar. Nicole se abaixou me abraçando e também chorou.

— Desculpe minha vida, não consegui me conter, vem, o resguardo já acabou, mas não é bom você ficar nesse chão gelado. — Falo e me levanto ajudando-a a levantar.

— Não precisa pedir desculpas, você tem todo o direito de sentir a falta que Noah nos faz. Pode deixar, enquanto você faz o que precisa, eu vou tirar essas coisas daqui.

Penso em argumentar, mas ela me olha já dizendo sem palavras que é uma decisão e não irá voltar atrás, então me sento e começo a resolver algumas questões das academias, quando dou por mim, já passou e muito da hora do almoço, Nicole tirou as coisas do bebê da minha sala e disse que pediu a Ana que junte com as coisas que estavam na sala dela e que doe para alguém ou alguma instituição que precise.

Peço algo para comermos na lanchonete da academia mesmo, e durante o restante da tarde, seguimos tentando trabalhar. Nicole voltou a agência e eu fui busca-la para irmos pegar Maitê na escola. Ao chegarmos em casa, eu fiz o jantar enquanto ela ajudou minha irmã com a tarefa de casa e não demoramos muito a ir deitar depois de comermos e limparmos a cozinha.

E assim voltamos a nossa rotina e rapidamente mais um mês passou, na próxima semana, finalmente nos mudaremos para nossa nova casa, não que eu não goste desse apartamento, mas me sinto estranho ao passar pela porta do quarto do Noah, ninguém nunca mais entrou ali, e combinamos que depois de nos mudarmos, Ana virá retirar as coisas do quarto dele e levará para doação, deixando para nós apenas um porta retrato onde há uma foto em que eu e Nicole estamos abraçados com Maitê que está segurando a primeira ultrassonografia, as ultrassonografias que Nicole guardava e a primeira roupinha que compramos.

Não sei se pela proximidade da mudança ou se existe algum outro motivo, mas de uns três dias para cá, tenho notado Nicole inquieta, e ontem tive a impressão de que a culpa do que quer que seja que a está incomodando é minha, pois depois de levar Maitê para o quarto dela, enquanto acariciava Nicole, ela suspirou tão pesado algumas vezes que parecia até que estava bufando. Termino de tomar banho, e sigo para a cozinha, encontro minha mulher mexendo uma panela no fogão, como não vejo minha irmã eu me aproximo a abraçando.

— Hum, que cheirinho gostoso. E Maitê onde está?

—  Dormindo, ela tomou banho e como não tinha lição, deitamos para assistir um desenho e ela dormiu.

— Dormiu cedo na sexta-feira? Amanhã antes das sete vai estar pulando na nossa cama. — Novamente Nicole suspira ou melhor dizendo, bufa. — Está tudo bem?

— Não sei Noah, me diz você... Está tudo bem? Parece que está tudo bem? — Ela fala num tom áspero e sim, a minha impressão se confirma, ainda não sei o que há de errado, mas com certeza ela está me responsabilizando por isso.

— Larga isso aí, vem aqui... — Digo quase que num sussurro, desligo o fogo e a pego pela mão seguindo para o nosso quarto, ao entrar fecho a porta, me sento em nossa cama e a puxo para que sente e me olhe. — Amor, eu não sei o que está acontecendo, preciso que me diga, sei que tem algo te incomodando, venho percebendo isso há alguns dias, e a princípio até achei que era só coisa da minha cabeça, mas claramente não é. Me fala o que está te incomodando?

— Você ainda me ama Noah?

— Você tem alguma dúvida disso? — Agora quem suspira sou eu. — Que idiotice minha, óbvio que tem, ou não estaria me perguntando isso. Sinceramente, achei que todo cuidado, atenção, preocupação e carinho que tento demonstrar todos os dias, fossem mais do que suficientes para você sentir e saber o quanto eu te amo. — Respondo frustrado, porque nossa troca e reciprocidade sempre foi tão intensa que jamais pensei que essa dúvida sobre meus sentimentos por ela iria voltar a existir.

— Sim, você faz tudo isso que acabou de dizer, mas o que quero saber é se você ainda me ama como sua mulher?

Depois da ChuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora