Depois da Chuva

8. Reencontro?

Sinto um arrepio percorrer meu corpo ao ver a mulher de longos cabelos loiro escuro mexendo no cadeado do portão. Me aproximo dela já me apresentando.

- Olá, eu sou o Noah, proprietário do prédio e seu... - Paro de falar, pois ela imediatamente larga o cadeado e me olha, assim que escuta eu dizer meu nome.

Meu coração acelera e minha respiração fica ofegante, não estou acreditando, é ela! Minha Nicole está parada me olhando fixamente, eu a observo e um nervosismo começa a me tomar, não sei o que fazer, minha vontade é abraçá-la, beijá-la e depois explicar-lhe tudo o que aconteceu no passado. Porém não sei o que aconteceu com ela nesse tempo, e se ela já tiver alguém? Se ela não sentir mais nada por mim? Será que já me esqueceu? Voltamos a realidade quando escutamos uma buzina, e pelo vidro do carro que parou em frente ao sobrado uma mulher a chama.

- O que está acontecendo Nicole?

- Não consegui abrir o cadeado do portão mãe. Então fui à academia ver se conseguia alguém para me ajudar. - Ela diz desviando o olhar de mim e olhando para a mulher, mas logo volta a me olhar e continua. - Me desculpe, prazer Noah, sou Nicole, minha mãe alugou o sobrado para eu usar como instalação da minha empresa.

- Deixa eu dar uma olhada nesse cadeado... - Respondo meio sem graça, tentando disfarçar minha euforia e estendendo a mão para que ela me entregue a chave. Mas enquanto forço a chave para tentar abrir o cadeado, não consigo parar de pensar no que acabou de acontecer, se ela não me reconheceu, porque ficou parada me olhando? Merda! Bufo frustrado e continuo forçando a chave e o cadeado até que consigo abrir.

- Ah que bom, muito obrigada Noah.

- Imagina, sempre que precisar pode chamar... É... Nicole? - A chamo enquanto coloco a chave de volta na mão dela e ela me olha.

- Sim...

- Você não se lembra de mim? - Pergunto e ela novamente fixa o olhar no meu por alguns segundos, mas logo ela abaixa a cabeça e diz.

- Acho que sim, se não me engano estudamos juntos, certo?

Percebo que ela está mentindo, é obvio que ela lembra, mas ou ainda não me esqueceu e sofre pelo que aconteceu, ou tem outra pessoa e ficou constrangida com esse encontro. Sorrio para ela e decido ir devagar, quero descobrir como ela está antes de tentar falar do passado.

- Sim, e agora seremos vizinhos, se precisar de qualquer coisa pode me chamar ali na academia. Já vou providenciar outro cadeado para você, melhor descartar esse.

- Obrigada, mas eu compro outro, não precisa se incomodar.

- Não é incomodo, além do mais, eu devo te entregar todo e tudo no prédio em perfeitas condições de funcionamento. Até mais tarde. - Volto para a academia, mas ao invés de ir para a minha sala, vou para o andar superior e corro até a janela lateral, de onde consigo ver ela descendo do seu carro que agora está no estacionamento, também vejo a mãe dela, e fico as observando até que elas entram no sobrado.

Então volto para a minha sala e entro em contato com a imobiliária, peço a cópia do contrato de aluguel, sou informado que como de costume ela já havia sido enviada para meu e-mail, então me lembro que realmente a recebi, mas não abri já que sempre confiei nos serviços da imobiliária, e não era um assunto urgente, eu já havia lido o contrato na hora de assinar, porém não gravei o nome da empresa locatária.

Rapidamente abro o e-mail e verifico o nome e os dados da empresa, logo coloco na internet e confirmo que a empresa acabou de ser aberta, e as proprietárias são Nicole com noventa por cento das ações e pelo sobrenome acredito que a outra que por sinal foi quem negociou e assinou com a imobiliária, seja a mãe dela, com dez por cento das ações. Sorrio ao lembrar que ela sempre dizia que iria trabalhar com artistas, e fico feliz em ver que ela manteve seu sonho, já que a empresa é uma agência de modelos e atores.

Acabo não me contendo e desisto da ideia de investigar a vida dela antes, quero vê-la, conversar mais com ela, aviso na recepção que estou de saída e vou o mais rápido que consigo a uma loja que não fica distante, apenas três quadras de onde estamos. Compro um cadeado e volto para a academia, na lanchonete e cafeteria que temos aqui, peço para prepararem uma jarra de suco de laranja, assim que fica pronto, pego copos, alguns cookies e sigo para o sobrado.

Ao passar pelo portão que está apenas encostado, percebo que o carro da mãe dela não está mais, apenas o dela permanece no estacionamento. Me aproximo ficando cada vez mais ansioso, ao chegar na porta vejo que está aberta, olho para dentro e não há móveis, chamo por ela, mas estou tão nervoso que minha voz sai embargada, o que penso ser o motivo de eu não obter resposta.

Entro no sobrado e vou observando tudo, embora não tenha muito o que ver, está vazio, ainda não há nenhum móvel ou material de trabalho, o que faz todo sentido, já que hoje é a primeira vez que ela está vindo aqui, continuo andando para dentro da casa, procurando por ela, mas não consigo chamá-la, meu nervosismo e ansiedade me impedem.

Não consigo a localizar na parte térrea, então subo as escadas, e a cada degrau vou pensando no que dizer, tenho tanto a dizer, mas ao mesmo tempo, tenho muito medo do que posso ouvir dela, estou prestes a desistir quando lembro das palavras da mãe dela ao telefone, me agarro a essa esperança, se Nicole manteve o sonho de carreira, talvez ainda mantenha o sentimento por mim.

Continuo subindo, até chegar numa espécie de sala que dá acesso a dois corredores, a escada foi construída bem no meio do prédio, já havia me esquecido como esse imóvel é grande, decido procurar primeiro no corredor a direita, e assim que entro no cômodo que fica de frente para o corredor, meu coração se aperta ao ver...