Escuto o barulho da porta sendo aberta, saio do banheiro rapidamente e Nicole não está no quarto, olho no armário de apoio que tem ao lado da cama, minha carteira está ali, mas meu celular e a chave do carro não, pego a carteira e saio descalço mesmo, pois só deu tempo de colocar a roupa e a meia, praticamente corro pelo corredor e quando chego na porta de entrada do hospital, a encontro.
— Calma, deixa que eu falo com ela, é minha mulher... — Digo a dois enfermeiros e um segurança do hospital que estão tentando segurá-la para que ela não saia. — O que aconteceu, amor?
— Preciso ir para casa, a Maitê está doente. — Ela me responde e entrega o celular, eu apenas o pego e nem leio a mensagem de Branca, pois, já imagino o que houve.
— Ok, mas vem comigo, você ainda não recebeu alta...
— Dane-se a alta Noah! Eu vou para casa, Maitê está doente e eu não vou ficar aqui, eu não posso, não posso perder mais ninguém, preciso cuidar dela. — Ela diz chorando e eu a abraço.
— Nós vamos para casa amor, mas você precisa pelo menos trocar de roupa, está de camisola, ela está toda aberta atrás e eu sou um tanto ciumento, não estou gostando de saber que esses enfermeiros estão vendo sua calcinha. Vem comigo, prometo que logo estaremos em casa com a nossa garotinha, sei que ela está bem, apenas com saudade de você.
Ela não para de chorar, mas me acompanha até o quarto, rapidamente coloco meu tênis e a ajudo a trocar de roupa, volto até a porta e peço para que uma enfermeira chame o médico. Assim que ele entra, Nicole fala.
— Estamos indo para casa.
— Desculpa, não entendi, minha intenção é lhe dar alta amanhã pela manhã... — O médico diz e me olha, eu então falo.
— Doutor, sei que gostaria de mantê-la em observação, mas acontece que a mãe dela me enviou uma mensagem, nós criamos a minha irmã, e ela está um pouco febril, sabemos que é por conta do estado emocional, ela é muito apegada a Nicole, aliás, as duas são apegadas uma a outra, então se o senhor puder nos liberar, prometo que mantenho Nicole deitada repousando, é que para minha irmã, Nicole representa a figura materna que ela nunca teve... — Ele me escuta atentamente e após suspirar responde.
— Tudo bem, vou lhe dar alta, mas por favor, qualquer sintoma fora das dores normais na recuperação da cesárea, a senhora procure o atendimento médico. Pelo que vejo, seu esposo ficará bastante atento. Estimo melhoras e novamente, sinto muito pela perda de vocês.
Agradecemos enquanto Nicole continua chorando, eu organizo nossas coisas e logo a enfermeira vem trazendo a alta e as receitas, também avisam que o médico prescreveu uma injeção para secar o leite e fazem a aplicação. Saímos do hospital e assim que abro a porta e ajudo Nicole a sentar, ela diz.
— Mas que merda, agora era para eu estar brigando com você, pela sua falta de jeito em colocar o Noah na cadeirinha, mas ao invés disso, estamos aqui, só nós dois, sem nosso bebezinho. — A abraço dizendo que sinto muito e permanecemos chorando por alguns minutos.
— Você quer ir no cemitério amor?
— Quero, mas não agora, primeiro preciso ver Maitê, a tarde você me leva, pode ser?
— Claro minha vida.
Dirijo acariciando a mão dela assim que entramos em casa, minha irmã corre em direção a Nicole e a abraça chorando, minha mulher imediatamente começa a chorar.
— Ei, princesa? Não chora, você está se sentindo melhor? — Nicole pergunta e minha irmã diz abraçada a ela.
— Estou triste, e estava com medo que você não voltasse.
— Eu sempre estarei com você, sempre será a minha garotinha, terá que ter paciência, porque agora eu continuerei tendo só você para cuidar...
— E meu irmão...
— Seu irmão cuida mais de mim do que eu dele, aliás ele é que cuida de nós duas.
— Porque vocês duas são minhas princesas, são a minha vida, agora vem, a Nick precisa descansar... — Respondo a ajudando caminhar.
— Posso ficar com ela? — Maitê pergunta pegando na mão de Nicole.
— Claro que sim, preciso que seja minha auxiliar, olha só para Branca, está cansada e preciso que as duas deitem para descansar e você as vigie enquanto eu preparo o almoço, combinado?
Minha irmã concorda e eu sigo com elas para o quarto, após ajeitar Nicole em nossa cama, Maitê senta ao lado dela e Branca finalmente abraça a filha e as duas choram abraçadas. Prefiro deixá-las ali, sei que Branca não falará muito, esse é o jeito dela e logo se controlará, mas Nicole precisa do colo da mãe e mesmo com esse jeito dela, sei que Branca a confortará.
Preparo uma sopa, e ao perguntar se arrumo na bandeja para levar ao quarto, Nicole diz que prefere ir até a cozinha e comer lá, graças a Deus, como imaginávamos, o mal estar da minha irmã era emocional e ela não teve ou sentiu mais nada, Nicole também se esforçou e até comeu um pouco sem que eu precisasse insistir. Após eu limpar a cozinha, Branca foi para casa e por volta das quatro da tarde, fomos ao cemitério.
Paramos em uma floricultura e cada uma delas pegou algumas rosas brancas e seguimos em silêncio, ao chegar lá, Nicole ficou parada, chorando ao olhar para o túmulo que ainda não tem uma lápide. Como ela não pode se abaixar por conta da cirurgia, minha irmã se abaixa colocando as rosas que ela trouxe e logo pega as que Nicole estava segurando e deposita também. Minha mulher me abraça e sussurrando diz.
— Eu nunca vou te esquecer, você sempre será o meu primogênito, mesmo que eu não consiga falar de você com outras pessoas, porque isso me dói demais... Me perdoa, mas não vou conseguir falar aos outros que eu tenho uma estrelinha, um pedaço do meu coração que virou um anjinho, mas tenha certeza, que nunca vou te esquecer e sempre virei aqui trazer flores. Eu te amo meu filho...
— Nós viremos amor, ele sempre será nosso filhinho... — Dou um beijo no rosto dela, minha irmã também volta a segurar a mão de Nicole e após mais alguns minutos, voltamos para casa.
O resto da noite, passamos juntos, e graças a Deus, minha esposa parece decidida a seguir em frente, novamente durante o jantar ela se esforçou e comeu, o que também me fez comer, mesmo sem sentir um pingo de fome ou vontade. Minha irmã dormiu abraçada a Nicole e só quando as duas já estão dormindo eu a levo para a cama dela.
Os próximos dias ficamos em casa, Maitê não quis ir a escola e nós não insistimos, apenas ligo na academia e na agência só para dizer um oi e deixei avisado que qualquer problema é para me ligarem. Minha sogra passa aqui em casa todos os dias, e apesar de convidarmos, ela fica apenas algumas horas e volta para a casa dela.
Amanhã completa sete dias que nosso anjinho nasceu e se foi, eu e Nicole não conversamos sobre como retomaremos nossa rotina e nem sobre o nosso filho, a última vez que tocamos no nome dele, foi no cemitério, e eu sei que chegará o momento em que teremos que conversar, estou na cozinha preparando um chá, quando...
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Depois da Chuva
RomanceA vida fez com que Noah amadurecesse em poucos meses, algo que a maioria das pessoas levaria anos para alcançar. Ainda muito jovem, ele teve que assumir a responsabilidade por sua família e adaptar seus sonhos pessoais a essa nova realidade. No enta...