Depois da Chuva

De novo

Noah

Como estamos muito felizes, rapidamente nos habituamos à rotina de ter crianças pequenas em casa.Comemoramos o aniversário das gêmeas, numa alegria sem fim, com nosso garotinho recém nascido nos braços.

E parece que num piscar de olhos, o tempo voou,  Nicolas completou seu primeiro ano de vida, e como o aniversário dele e das gêmeas é bem próximo,comemoramos com uma viagem em família.

Estou no escritório da academia, louco para terminar o balanço do mês e correr para minha casa, pois mesmo amando meu trabalho, não gosto de passar muito tempo longe dos meus filhos. Paro minha análise ao ouvir meu telefone tocar e atendo sorrindo.

— Oi amor, está tudo bem?

— Está, só preciso saber se você vai pra casa no horário hoje...

— Acho que sim Nick, porquê?

— É que apareceu uma reunião com um cliente de última hora, para modelos fazerem a recepção em um evento, e como é uma empresa bem grande, eu não quis recusar.

— Empresa do que?

— Uma multinacional amor, que pode me abrir muitas portas...

— Achei que estivesse satisfeita com o rumo das coisas na sua empresa.

— Estou, mas crescer e aparecer nunca é demais.

— Está certo. Você quer que eu vá com você?

— Não, só quero que vá pra casa no horário, sabe que as crianças ficam agitadas se demoramos muito...

— Pode deixar.

Desligo o telefone, e não demora meu celular apita com uma mensagem me fazendo sorrir ao ler:

"Desligou na minha cara, nem um beijo mandou, mesmo assim, te amo, até mais tarde."

"Desculpe, eu também te amo, um beijo."

Guardo o celular e volto a prestar atenção no que estava fazendo. Acabou me distraindo e quando dou por mim, já deveria ter saído daqui há 20 minutos. Fecho o notebook e resolvo levar tudo para terminar em casa, me apresso para sair,mas quando passo em frente a agência, vejo Nicole entrando em um carro, com um homem que fecha a porta dela e se dirige para o lado do motorista.

Meu sangue gela, onde ela está indo? E com quem? Ela disse que tinha uma reunião, porque me mentiu para mim? Penso em fazer a volta e segui-los, mas rapidamente lembro dos meus filhos, então resolvo ir para casa.

Chego em casa ainda com a imagem de Nicole e aquele homem na cabeça. Tento afastar os pensamentos, mas é impossível não pensar nas possibilidades. Será que ela está se afastando de mim? Será que o amor que tínhamos está se perdendo? Me esforço para manter a calma, mas as dúvidas vão crescendo. Ao entrar, sou recebido pelos abraços das meninas e de Nicolas, o que me traz um alívio momentâneo. Eles são tudo para mim, e não quero que nada os afete.

Brinco um pouco com meus filhos, e depois de jantar com eles, os coloco para dormir, e assim que coloco Nicolas no berço, minha vontade é sumir, Nicole ainda não chegou, penso em ir para um hotel, mas a ideia de ficar longe dos meus filhos me faz desistir, então vou para a sala, pego uma garrafa de tequila, me jogo no sofá e começo a beber, direto da garrafa mesmo.

— Está tudo bem Noah? — Minha irmã me questiona.

— Está, só preciso relaxar um pouco, não se preocupe.

Ela franze a testa, mas não diz mais nada, vai para a cozinha e quando volta, sobe direto sem falar comigo. Continuo bebendo, não sei quanto tempo passa, mas a imagem da Nicole sorridente e daquele homem galante segurando a porta do carro para ela entrar, não me sai da cabeça, minha mente viaja e começo a imaginar ele a tocando, a beijando. Droga! Como eu queria socar a cara dele.

— Noah? O que aconteceu meu amor? — Nicole se aproxima de mim, não escutei ela chegando. Ela tenta pegar a garrafa da minha mão, mas eu seguro.

— Me diz você?

— Não estou entendendo, porque bebeu tanto?

— Porque eu quis.

— Vem, vamos subir... — Ela tenta me ajudar a levantar, mas eu seguro nos ombros dela e a olho.

— Porque mentiu pra mim?

— O que?

— Mentiu pra mim! — Disparo, sem controle, enquanto seguro firme a garrafa. — Quem era o cara no carro? Você disse que tinha uma reunião, mas estava saindo com ele!

— Você tá me acusando de novo, Noah? — A surpresa no rosto de Nicole logo dá lugar à mágoa. — Não acredito que estamos passando por isso de novo...

— De novo, é? — dou uma risada amarga, meu corpo cambaleando por causa da bebida. — Porque você me dá motivos! Eu vi você entrando no carro com aquele cara. E depois quer que eu finja que tá tudo bem?

Ela suspira, os olhos brilhando de lágrimas, mas não de fraqueza. Seu olhar é firme, machucado.

— Eu estava trabalhando, Noah. Ele é o representante da empresa que vai contratar a agência. Nada mais. E você sabe disso.

— E como é que eu vou saber? Você também já desconfiou de mim antes! — solto, a voz elevada, sem perceber o peso do que estou falando. — Quer saber, deixa pra lá, eu queria sumir, mas não posso fazer isso com meus filhos...

Nicole fecha os olhos, respirando fundo para não explodir. Quando fala de novo, sua voz é baixa, cheia de dor.

— Sim, eu já desconfiei. Mas você esquece por quê? — Ela me encara, os olhos fixos nos meus, como se estivesse me desafiando. — Porque você fugiu de mim, Noah e se colocou em uma situação que te condenava. Eu tive motivos.

Eu fico em silêncio, sem saber como reagir. Ela me pegou de surpresa.

— A diferença é que eu aprendi a confiar em você novamente. Fiz o esforço, porque eu te amo, e porque sei que nosso relacionamento vale a pena. Me arrependo todos os dias do tempo que te mantive afastado e tento compensar, também sinto ciúmes, mas estou tentando me controlar... — Ela faz uma pausa, as lágrimas agora escorrendo livremente. — E você? Quando foi que começou a me tratar como uma culpada, como alguém que precisa ser vigiada?

Suas palavras me atingem como um soco. Tento dizer algo, mas ela não me dá a chance.

— Eu cansei, Noah. Cansei de ser a vilã da sua cabeça, de tentar provar que te amo, quando você sempre coloca a mesma dúvida na mesa.

Ela me olha uma última vez, como se esperasse uma resposta que não sou capaz de dar.

— Boa noite, Noah. Durma bem no sofá. — E com essas palavras, ela sai da sala, me deixando ali, completamente derrotado.

Me viro para o sofá, o corpo pesado pelo álcool e pelas palavras que me atingiram. Afundo no estofado, tentando processar o que aconteceu, mas é impossível. Logo o sono me vence, e adormeço, sozinho.