28. Você precisa...

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— Como eles estão, doutor? — Pergunto, assim que me aproximo

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— Como eles estão, doutor? — Pergunto, assim que me aproximo.

— Vamos conversar no meu consultório. O senhor está sozinho? — Ele me questiona e nesse momento eu tenho certeza de que algo muito ruim aconteceu, o olhar dele para mim, me faz ver que ele está sentindo pena.

— Minha sogra veio trazer as bolsas e documentos, mas foi buscar minha irmã na escola, não temos outras pessoas na família. — Pego as bolsas e sigo para o consultório, assim que entramos e nos sentamos, eu questiono. — O que está acontecendo? Como estão minha mulher e meu filho?

— Noah, sua esposa está estável, não detectamos nenhuma alteração severa, o vômito e o desmaio foram consequência da concussão na cabeça devido a queda, mas não há indícios de que haverá sequela mais grave ou permanente. A recuperação do parto poderá demorar um pouco mais, por conta do trauma sofrido durante a queda, mas acreditamos que ela se recuperará totalmente e sem sequela alguma. Entretanto, ela não acordou depois do desmaio, e estamos aguardando o organismo dela reagir.

— O senhor está dizendo que ela está em coma? Mas ela chegou aqui conversando, como isso aconteceu? E o meu filho? Eu quero vê-los.

— Calma, esses quadros ainda são muito complexos para a medicina, os exames não acusaram nada, então clinicamente falando, ela pode acordar a qualquer momento, ou pode demorar, não temos como prever. Sobre o bebê, pela posição em que ele estava no útero, o impacto da queda o afetou diretamente, infelizmente ao retirarmos ele do útero, constatamos que já estava sem vida, não havia mais nada que pudesse ser feito. Sinto muito por sua perda.

Minhas lágrimas começam a rolar e eu não consigo dizer nada, como as coisas mudaram desse jeito? Pela manhã estávamos felizes, tínhamos nosso bebê saudável, apenas crescendo para nascer e completar nossa felicidade, agora ele se foi, minha esposa não sei como ficará, e sinto como se alguém tivesse esmagando meu coração, de tanta dor. Então me lembro  de eu dizendo a Nicole que tudo ficaria bem.

— Eu preciso ficar com a minha esposa, preciso pedir perdão, eu prometi que ficaríamos bem, e não cumpri...

— Calma... Ela terá que ser informada quando acordar. Você tem algum amigo? Alguém que possa pedir para vir auxiliá-lo? Pois precisarão lidar com a burocracia e enterro do natimorto.

— Noah, o nome do meu filho é Noah, não chama ele como se ele fosse uma coisa. Não tenho, Daniel, meu amigo está trabalhando fora do país e meu advogado está de férias com a família, também fora do país. Minha esposa tem algumas amigas, mas a única com intimidade suficiente para uma ocasião dessas, é modelo e no momento está em Milão. Minha sogra está cuidando da minhã irmã que ainda é uma criança. Eu terei que cuidar de tudo. —  Digo enquanto minhas lágrimas rolam.

— Sinto muito, seria o ideal que o senhor estivesse presente quando sua esposa acordar, mas...

— Seria o ideal não, eu tenho que estar, eu não sei o que fazer, e nem como fazer, a única coisa que eu sei, é que quando ela acordar, eu preciso estar ao lado dela e abraçá-la antes de dizer qualquer coisa...

— O pediatra já está assinando a declaração de natimorto, me perdoe, mas esse é o termo técnico, daqui algumas horas, já estará liberado para velório e sepultamento.

— Não posso fazer isso com minha esposa em coma, Nicole jamais me perdoaria, ela precisa saber antes, precisa ter a oportunidade de se despedir... Eu posso ficar com minha esposa agora?  — Essa conversa para mim está sendo surreal, o momento de nascimento do meu filho era para ser um dos momentos mais felizes da minha vida.

— Ela ainda está em observação pós cirúrgica, daqui uma hora ela será transferida para um quarto, pois como disse, não há nenhum agravante no quadro dela, os órgãos estão funcionando bem, as funções motoras também, e eu sinto muito em insistir, mas você precisará providenciar o sepultamento, mesmo que dispense o velório, como disse, sua esposa pode acordar daqui algumas horas, como pode levar dias, não sabemos quando acontecerá, e esse processo não poderá ficar esperando. Vou pedir para a assistente social vir te auxiliar e quando sua esposa for transferida para o quarto, você poderá ficar com ela.

Ele sai e eu fico ali, sem acreditar no que está acontecendo, logo uma senhora entra se apresentando como assistente social, ela me explica tudo o que preciso fazer e eu então sigo as orientações dela. Quando dou por mim, já estou conversando com um homem que é responsável por uma funerária, devido ao horário, ele me explica que o sepultamento só poderá ser feito amanhã pela manhã, e que ainda demorará algumas horas até que esteja tudo liberado para um velório.

Ligo para minha sogra, e aos prantos conto a ela o que aconteceu, ela me orienta a não realizarmos velório, apenas seguirmos para o enterro amanhã cedo, e assim eu deixo tudo acertado, entregando ao homem, a roupinha que Nicole tinha escolhido para ser a primeira que nosso Noah iria usar. Também  combino com Branca que passo em casa pela manhã para conversar com a minha irmã e irmos ao enterro.

Depois de não sei quanto tempo, sou encaminhado para o quarto que Nicole está, ao entrar me aproximo da maca e acaricio seu rosto enquanto choro sem conseguir me controlar. Ela está tão serena, parece um anjo dormindo e só de imaginar a dor que ela vai sentir ao acordar, o ar chega a me faltar.

— Vida, acorda... Ou você não conseguirá se despedir do nosso bebê, ele virou um anjinho...

Passo a noite ali, chorando, sentado ao lado do leito de Nicole, em nenhum momento ela fez se quer menção de acordar. Por volta das seis da manhã, eu levanto, jogo uma água no rosto e vou atrás do médico que está de plantão. Assim que o encontro, peço para que caso Nicole acorde, não contem a ela sobre nosso filho, pois quero estar presente.

Quando entro em casa, vou direto para meu quarto tomar um banho, choro enquanto a água escorre por meu corpo, então saio na intenção de acordar Maitê, mas ao olhar em direção ao meu antigo escritório, que agora é o quarto que arrumamos para nosso pequeno, eu não resisto e entro.

Olho tudo que arrumamos com tanto carinho e me sento na poltrona de amamentação, pegando um urso aviador que Nicole e Maitê escolheram para ele. Me perco em pensamentos e em minha dor, até que minha sogra entra e se aproxima me abraçando.

— Eu sinto muito Noah, sei que está sofrendo muito, e sei que parecerá egoísmo o que vou te dizer agora, mas você precisa se manter forte, quando quiser chorar e desabar, pode me procurar se precisar de alguém para abraça-lo, mas na frente de Nicole e Maitê, você terá que ser uma fortaleza, ou minha filha não vai aguentar e sua irmã mesmo pequena, também vai sofrer muito, principalmente se ver você se entregar a dor.

— Não sei como fazer isso, mal consigo respirar, não consigo pensar e me sinto culpado, eu prometi a Nicole que ela e Noah ficariam bem, e agora...

— Você não tem culpa, foi um acidente, uma fatalidade, não há culpados...

Somos interrompidos por minha irmã que entra no quarto.

— Noah? Você vai me levar para ver a Nick e o bebê?

— Vem aqui princesa... — A chamo e ela se aproxima, eu então a pego em meu colo e a abraçando, digo...

Depois da ChuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora