Ele me olha pesaroso e após um longo suspiro fala.
— Não se preocupe meu filho, quero apenas que você aprenda a lidar com todas as questões da academia e conte com a consultoria do doutor Tavarez nosso advogado, já está na hora.
— Mas pai, eu quero fazer isso só depois da faculdade, estou bem apenas te auxiliando. — Novamente ele me olha com pesar.
— Noah, preciso que faça o que estou pedindo filho.
— Mas porque pai? — Pergunto sem entender e pensando que tem que existir alguma razão para isso, meu pai sempre conversou muito comigo, e agora está usando poucas palavras.
— Porque preciso disso, e preciso que continue sendo o filho obediente e dedicado que sempre foi, não me faça mais perguntas por favor, só faça o que estou pedindo, na hora certa você terá todas as respostas. Será que pode confiar em mim?
Escuto cada palavra que meu pai diz parecendo sentir uma grande dor na alma, de tão tristes que elas saem, e apesar de querer muito saber o que de fato está acontecendo, eu resolvo fazer o que ele está pedindo.
— Tudo bem pai, eu confio no senhor, sempre confiei.
— Obrigado meu filho. — Ele levanta e me abraça, eu o aperto em meu abraço sentindo um aperto no peito, mas respiro pausadamente. — Agora vamos cuidar dos negócios. — Ele me solta de seus braços e nós nos sentamos.
Logo ele e o doutor Tavarez me explicam em detalhes o contrato social das duas academias, e nos dias que se seguem, aprendo exatamente tudo, eu já ajudava meu pai, mas ele passou apenas a me explicar e eu realizava todo o serviço, até questões com os bancos passei a acompanhá-lo e resolver juntamente com ele.
Dois meses passaram desde o dia da nossa conversa, e desde então, eu quem gerencio as academias, meu pai apenas me observa e orienta. Ele sempre foi um ótimo pai, pelo menos a cada vinte dias levava eu e Maitê em algum lugar que gostamos, mas nesses meses, ele decidiu que domingo seria o dia da família, então todos os domingos nós três fazemos algum passeio e nos divertimos muito o dia todo.
E nessa nova rotina, mais dois meses passam, estou em meu quarto depois de ter passado a tarde toda fazendo o relatório financeiro da academia, Maitê está deitada ao meu lado e estamos assistindo a um desenho que ela adora, quando escuto meu pai me chamar.
— Noah filho, corre aqui!
Levanto rápido pois seu tom é de desespero, Maitê senta na cama assutada e eu já saindo do quarto falo.
— Está tudo bem Ma, continua assistindo, só vou ver o que o pai quer e já volto, tá bom? — Ela que já estava levantando, volta a se encostar e concorda com a cabeça.
Saio do quarto e encosto a porta, assim que entro no quarto do meu pai o encontro no chão, ele não está desmaiado, está com os olhos abertos e respirando pesadamente. Eu corro até ele e já chorando pego em seu rosto.
— Pai, fala comigo, o que aconteceu? Vou chamar uma ambulância. — Levanto rápido e pego o telefone, mas enquanto disco fico olhando para ele que também me olha. — Por favor, eu preciso de uma ambulância, encontrei meu pai caído.
Explico para atendente a situação e passo nosso endereço, ela pede que eu mantenha a calma e diz que a ambulância está a caminho, assim que desligo, meu pai com muita dificuldade diz.
— Na primeira gaveta do meu armário tem uma carta com instruções, peça ajuda ao doutor Tavarez, ele irá o auxiliar, eu amo muito você e sua irmã, nunca esqueça disso e me perdoe — Ele não conclui a frase, perde os sentidos e eu o puxo para os meus braços chorando.
— Pai, fala comigo! Acorda pai, por favor! — Sou tirado do meu desespero por Maitê perguntando.
— O que foi Noah? — Olho para a porta e ao vê-la ali parada o solto delicadamente no chão e vou até ela a pegando no colo.
— Está tudo bem, papai se sentiu mal, mas eu já chamei um médico, vai ficar tudo bem. — Vou saindo do quarto do meu pai e tentando parar de chorar, volto ao meu quarto e a coloco em minha cama. — Preciso que fique aqui princesa, pode fazer isso para mim?
Com os olhinhos cheios de lágrimas ela concorda e eu saio do quarto, quando estou entrando novamente no quarto do meu pai escuto a ambulância, vou correndo recebê-los e mostro o caminho. Os paramédicos começam a verificar a condição dele, e não demora muito até que eu escuto um deles dizendo que meu pai já está em óbito. Tudo ao meu redor parece sumir, olho para meu pai naquele chão e minhas lágrimas rolam, tento me aproximar e um dos paramédicos me segura.
— Sinto muito garoto, precisamos seguir os protocolos, você já é maior de idade? — Nego com a cabeça e ele continua. — Então precisa chamar sua mãe ou algum responsável, precisa de ajuda para ligar?
— Minha mãe faleceu a anos, éramos apenas meu pai, eu e minha irmã, mas ela ainda tem sete anos. — Nem sei como consigo responder, mas vendo ele olhar para um outro paramédico, lembro das últimas palavras do meu pai. — Espera, vou ligar para uma pessoa.
Pego novamente o telefone e ligo para o doutor Tavarez, mesmo sendo noite já, ele me atende prontamente e assim que eu digo o que aconteceu, ele diz que está vindo para minha casa.
Os paramédicos me tiram do quarto, e passamos uns vinte minutos sentados na sala até que o doutor Tavarez chegue, eu apenas choro pensando em como eu e Maitê viveremos sem meu pai.
Quando ele entra, um dos paramédicos prontamente explica a situação e começa a fazer alguns questionamentos, já que o doutor Tavarez não é parente, mas é o advogado do meu pai, eu me surpreendo ao ouvi-lo dizer.
— Não é necessário acionar ninguém e nem o conselho tutelar, Noah é emancipado, há um testamento e um documento de tutela passando a guarda da Maitê para ele.
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Depois da Chuva
RomanceA vida fez com que Noah amadurecesse em poucos meses, algo que a maioria das pessoas levaria anos para alcançar. Ainda muito jovem, ele teve que assumir a responsabilidade por sua família e adaptar seus sonhos pessoais a essa nova realidade. No enta...