Você precisa

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Noah

Estava tomado por uma mistura de raiva e frustração. O mundo parecia injusto, e tudo o que eu queria era estar sozinho, afastado de qualquer discussão sobre Josh e Maitê, não consigo pensar que ele irá transar com minha irmã e muito menos que ela estará tão longe de mim.

Passo a noite  inteira na academia,  malhando até os músculos queimarem, sem me preocupar em atender as inúmeras ligações de Nicole, mas a cada toque ignorado, o peso no meu peito só aumenta, mas a raiva é mais forte.

Pela manhã, aviso que não vou atender ligação de ninguém e fico trancado na minha sala até a academia fechar. Também não consigo comer, apenas bebo água e somente por volta da meia noite é que como um sanduíche.

A segunda-feira chega e como não consigo me concentrar, decido malhar e enquanto repito os mesmos movimentos, ouvi a recepcionista dizer onde estou. Esperava que fosse algum colega ou cliente, mas quando levanto os olhos, vejo Maitê parada em minha frente, com os olhos inchados e o rosto marcado por preocupação.

— O que você está fazendo aqui? — pergunto, secando o suor da testa com a toalha.

— Vim falar com você. — Sua voz está baixa, quase tremendo. — Eu não aceitei ir com o Josh para o Brasil.

Meu coração deu um salto. Paro o que estava fazendo e me aproximo dela, sem saber o que esperar.

— Como assim? — Respiro tentando manter a calma.

— Eu não posso ir, Noah... Eu não quero que você e a Nicole fiquem brigados por minha causa. — Ela limpa uma lágrima solitária que escorreu pelo rosto. — Eu amo o Josh, mas não posso ir com ele se isso vai acabar com o seu casamento.

Fico em silêncio por um momento, processando o que ela disse. Parte de mim se sentiu aliviada, mas outra parte sabia que o problema estava longe de ser resolvido. Olho para ela, percebendo o quanto estava crescendo e tomando decisões que eu nem imaginava.

— Eu só quero que você seja feliz, Má. — Suspiro, tentando conter a emoção. — Mas isso tudo... É demais para mim.

— Eu sei. — Ela assentiu. — Mas você precisa ir pra casa, Noah. A Nicole... ela não está bem.

Meu estômago dá um nó. Eu sabia que algo estava errado, mas não queria encarar a realidade.

— O que está acontecendo? — perguntei, com a voz tensa.

— Ela está mal, as crianças estão sentindo sua falta... As gêmeas perguntam por você o tempo todo, e Nicolas não para de chorar. — Seus olhos brilhavam de preocupação. — Por favor, Noah. Vá pra casa.

Solto a barra que segurava e me deixo cair no banco, sinto a culpa me atingindo com força. Como eu pude deixar isso acontecer? Respiro fundo e faço o que devia ter feito desde o início. Volto para casa.

Quando chego, a casa está silenciosa demais. As crianças estão no quarto com a babá, e Nicole no nosso quarto, deitada, com uma expressão exausta e abatida. Ela me olhou quando entrei, e pude ver a dor e o cansaço nos seus olhos.

— Você voltou... — Ela sussurrou.

— Eu não devia ter sumido assim. — Suspiro me sentando ao lado dela. — Me desculpa.

Ela ficou em silêncio por um tempo, mas finalmente disse: — Maitê te contou sobre Josh?

— Contou. Ela disse que não vai com ele para o Brasil. — Respondi, tentando me manter calmo.

— Qual o seu medo dela ir morar com ele, Noah?

— Não é medo, é cuidado, ela ainda é muito nova, se for morar com ele, é lógico que eles vão transar...

Nicole suspirou, apertando a mão contra a testa. — Noah, eu preciso te contar uma coisa. E você não vai gostar.

Meu peito se apertou de novo, como se estivesse me preparando para o impacto.

— O quê?

Ela hesitou por um momento antes de finalmente soltar. — Josh e Maitê... eles já transaram faz muito tempo, cerca de quatro meses depois que começaram a namorar.

Minha visão ficou turva, e a raiva voltou com força total. Levantei de imediato, com o coração disparado. — O quê?

— Eu a levei no médico antes. Ela está bem, Noah. Eu estou acompanhando tudo. — Nicole parecia tentar amenizar a situação, mas minhas mãos estavam tremendo de tanta raiva.

— Você sabia o tempo todo e não me disse nada? — minha voz estava alta, e eu me movi em direção à porta.

— Eu achei que seria melhor assim... — Ela começou, mas eu já estava me afastando, cheio de fúria.

Estava pronto para sair de casa de novo, quando  vi as gêmeas na porta do quarto delas, fui em direção a elas e Nicolas estava lá dentro, chorando. Elas me olharam com olhos cheios de lágrimas, e de repente, toda a raiva que estava sentindo começou a se dissipar.

— Papai... — uma delas murmurou, com a voz trêmula.

Eu me ajoelhei diante delas, puxando-as para um abraço que logo inclui meu garotinho. As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, e percebi que, por mais que eu quisesse fugir situação, minha família estava sofrendo por minha causa.

— Me desculpem, meus amores. Papai está aqui agora. — Sussurrei, apertando-os ainda mais forte e fiquei com eles por um tempo.

Quando voltei para o quarto, encontrei Nicole chorando, me aproximei dela e a abracei.

— Me perdoa... Estou sendo um idiota... — Disse, com a voz mais suave. — Você sabe o quanto o ciúmes e a preocupação com minha irmã me cegam, mas eu não tinha o direito de fazer você e as crianças sofrerem por causa das minhas explosões de raiva. Eu amo você, tudo que quero é que vocês todos sejam felizes.

— Então deixa a Maitê ser feliz, eles se amam Noah, não é justo separá-los, e mesmo Maitê sendo maior de idade, ela não irá sem a sua aprovação, o que você pensa é importante para ela, tanto que Josh foi falar com você...

— Eu sei, mas é muito difícil pensar que ela não precisa mais de mim e que estará longe.

— Vamos nos ver sempre, podemos visitá-los e eles com certeza virão passear aqui.

— Você me ajuda a lidar com isso?

— Sempre. — Ela finalmente me abraça e eu a aperto em meus braços.

Sei que as coisas não serão fáceis, mas prometo novamente a mim mesmo, que farei o que for preciso para manter minha família bem e feliz.

Descemos e encontramos Maitê na sala, como tanto eu quanto Nicole, pouco comemos ontem, resolvo preparar um café e aproveito para pedir desculpa à minha irmã.

— Má, você tem a minha benção, se é isso que você quer, pode ir, eu vou ficar feliz se você estiver feliz.

Ela levanta e me abraça.

— Eu amo você, Noah, e fica tranquilo, no primeiro sinal de problema, eu venho correndo para você e Nicole. Sei que sempre estarão aqui por mim, vocês sempre me mostraram isso.

— Acho bom. — Beijo sua cabeça. — Para quando é a viagem?

— Daqui um mês.

Concordo e enquanto comemos, conversamos mais tranquilos. Depois subo com Nicole e as crianças, nos deitamos com elas em nossa cama para eu descansar e assistirmos televisão, mas logo os quatro estão dormindo, então eu relaxo  e também acabo adormecendo.

Depois da ChuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora