Primeira quimio...

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Entramos no consultório e após nos sentarmos ele começa a falar

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Entramos no consultório e após nos sentarmos ele começa a falar.

— Noah, já conversamos bastante, mas antes de começarmos a primeira sessão de quimioterapia, gostaria de explicar como tudo vai acontecer. Acredito que hoje seja o dia mais difícil, pois o medo e ansiedade por conta de ser algo nunca vivido antes por você, são fatores muito presentes no dia de hoje. Durante o procedimento, você estará sentado em uma cadeira confortável. Primeiro, inseriremos um cateter intravenoso em uma veia para administrar os medicamentos.

— Nicole poderá ficar comigo? — O interrompo questionando.

— Claro que sim, mas continuando minha explicação, os medicamentos de quimioterapia são administrados lentamente para reduzir o risco de efeitos colaterais bruscos. Você pode sentir um leve formigamento quando os medicamentos começarem a fluir. Além disso, ofereceremos medicamentos anti-náusea para ajudar a prevenir a sensação de enjoo que às vezes pode ocorrer. Durante a sessão, estarei presente para monitorar sua resposta e garantir que você esteja o mais confortável possível. Gostaria de salientar que alguns efeitos colaterais podem ocorrer, como fadiga, queda de cabelo e possíveis mudanças no apetite e humor. No entanto, estaremos aqui para ajudá-lo a lidar com qualquer desconforto que surja...

— Ele não comeu nada hoje, já está com náuseas... — Nicole o interrompe e ele sorri para ela.

— Isso é mais pela ansiedade, o que é normal, mas tente relaxar Noah, e se conseguir, coma uma fruta ou alguns  biscoitos. No mais, se você tiver alguma dúvida ou preocupação durante ou após o procedimento, não hesite em me chamar ou chamar um membro da equipe. Estamos aqui para apoiá-lo em todo o processo e faremos o possível para tornar essa jornada o mais suave possível para você, vamos lá?

Eu o agradeço e seguimos então para a sala onde o procedimento será realizado,  tudo começa a ocorrer conforme ele descreveu. Não consegui comer, só o cheiro do lugar já me causou ânsia, Nicole a todo instante acaricia minha mão. Cerca de quinze minutos depois que a medicação começou a ser administrada, uma náusea forte me toma e não tive tempo de nada, acabei vomitando. Nicole até tentou me acudir, mas mesmo assim sujei a roupa que estava usando e até mesmo nas mãos e braços dela acabou respingando.

— Calma meu amor, já vai passar... — Ela diz enquanto pega alguns lenços para me limpar.

— Vai nada, olha a merda que eu fiz, agora vamos ficar fedendo vômito.

— Vai sim Noah, o médico disse que essa náusea é perfeitamente normal, e eu trouxe outras roupas para nós, está tudo bem, eu vou no carro buscar. — Ela me dá um beijo no rosto e sai, acredito que foi correndo, pois não demorou e ela voltou, com a ajuda de uma enfermeira, conseguiu que eu trocasse de camiseta e seguimos sentados enquanto o medicamento continuava a entrar e percorrer minhas veias.

Após a longa e exaustiva primeira sessão de quimioterapia, percebi que a sala parecia mais silenciosa do que antes. Minha esposa permanecia sentada ao meu lado, segurando minha mão com força, tentando transmitir coragem através de seu olhar cansado, porém amoroso. Novamente os efeitos colaterais começaram a se manifestar, senti um nó se formar em meu estômago e uma onda de náusea percorrer meu corpo, respirei fundo na tentativa de melhorar.

Pouco tempo depois, uma enfermeira se aproximou com uma bandeja contendo água e alguns biscoitos, oferecendo-os com um sorriso compassivo. Agradeci com um aceno fraco, e consegui tomar alguns goles de água e comer um biscoito.

A sala ao redor estava repleta de pessoas em diferentes estágios de tratamento, cada uma lidando com suas próprias batalhas pessoais. O som distante de uma música suave tentava acalmar a tensão palpável, enquanto conversas sussurradas e olhares solidários preenchiam o ambiente. Meus olhos encontraram os de um paciente idoso que, com um sorriso amigável, levantou sua mão em um gesto de apoio, então eu sorri de volta. Meu médico se aproxima e me tira dos meus pensamentos.

— Bem, Noah, acredito que não terá problemas em você ir para casa, mas se sentir muita náusea, tiver febre ou algo fora daquilo que já conversamos, venha para o hospital e me ligue. Exatamente nessa ordem. Daqui vinte e um dias faremos o próximo ciclo, mas mesmo assim, semana que vem quero te ver no meu consultório e acompanhar como você está, preciso também que se alimente. Nicole, ele precisa comer de três em três horas, pequenas porções, se ele não conseguir comer nada durante um intervalo maior que esse tempo, preciso que o traga e me avise. Como disse, nosso desafio nos próximos dias é mantê-lo o mais forte possível, pois com sua imunidade quase no zero, ele estará mais suscetível a infecções e viroses.

— Pode deixar doutor, vou fazer ele seguir todas as suas recomendações. Vamos para casa amor?

Concordo com ela e agradeço novamente  ao médico, assim que me levanto sinto uma tontura e quase caio, Nicole me segura e eu respiro fundo, me apoio nela e seguimos devagar, pois recusei a cadeira de rodas que a enfermeira ofereceu. Quando ela começa a dirigir, novamente a náusea fica forte, mas ao respirar pausadamente vou conseguindo controlar a vontade de vomitar.

Ao chegar em casa, acabo me descontrolando, pois minha vontade é ir para a cozinha, já que Nicole disse que irá preparar algo para comermos, mas não estou aguentando nem ficar sentado de tanta fraqueza que estou sentindo, além disso, estou irritado, minha boca está seca e meu braço ainda está formigando, como se o medicamento ainda estivesse entrando e percorrendo minhas veias.

— Mas que caralho... — Reclamo jogando minha carteira que eu estava segurando na mão, ela cai no meu pé, de tão fraco que saiu o arremesso que tentei fazer com ela, e isso me irrita mais ainda.  — Você devia ter me deixado morrer naquele hotel, mas não, tinha que ir atrás de mim, agora virei um imprestável.

Ela não diz nada, se abaixa e pega a carteira, ao levantar passa as mãos por trás da minha cintura e fala baixinho.

— Melhor te levar para o quarto, você precisa descansar, vamos...

— Não quero, me solta que vou sentar no sofá. — Tento empurrá-la, mas novamente me falta força e acabo me desequilibrando e caindo no chão.

— Noah... — Ela rapidamente se abaixa, se ajoelha e me envolve em um abraço, começo a chorar parecendo uma criança birrenta. — Eu sei que está difícil, não consigo imaginar sua dor e seus sentimentos diante de tudo isso, mas estou aqui com você, não vou a lugar algum e não vou deixá-lo. Vamos lutar juntos e vencer essa doença maldita, e se durante o processo, terei que ouvir você brigar comigo por eu estar do seu lado, eu ouvirei sem reclamar, sei que não é de coração nada disso que você está dizendo, pode falar, pode xingar, pode até me bater se quiser, continuarei aqui do seu lado, serei seu apoio até você ter forças para fazer tudo sozinho novamente, e não te deixei largado porque eu te amo, você não é e nunca será um imprestável.

— Também te amo... — Respondo chorando e tentando abraçá-la, nunca pensei que essas drogas contra o câncer agissem tão rápido no organismo, estou sentindo vários efeitos colaterais e com muita dificuldade de controlar minhas emoções. — Mas ainda estou com raiva, meu corpo não está querendo me obedecer...

— Isso é normal amor, reflexo do remédio, não significa que você seja imprestável e não quer fazer nada, vamos levantar, quer deitar aqui no sofá? — Ela me ajuda a ficar em pé e novamente me apoio nela.

— Melhor ir para o quarto, daqui a pouco Maitê chega, não quero que ela me veja assim.

— Ela e minha mãe só vão chegar mais tarde, lembra? Minha mãe irá levá-la no shopping comprar algumas coisas depois da aula...

— Mesmo assim, darei menos trabalho se for já para o quarto.

Ela apenas suspira e diz que tudo bem, entramos no quarto e ela arruma nossa cama, me deito e ela me dá um beijo, dizendo novamente que irá preparar algo para comermos, mas quando ela se prepara para sair do quarto...

Depois da ChuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora