Capítulo 127 Sempre quis dizer isso.

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Pela noite tive mais uma surpresa desagradável ao descer as escadas da minha casa. Isaque estava sentado na sala, me esperando eu supus. A surpresa tinha sido desagradável porque estava muito chateada com ele, e queria refletir e me acalmar no final de semana, mas ao que parece ele sempre estava lendo meus pensamentos, e fazendo tudo ao contrário do que eu queria.

- Isaque? – Murmurei me aproximando.

- Oi. Ana me disse que você não demoraria a descer, então eu decidi esperar. – Ele falou com um sorriso. – Ah propósito, você está linda.

Eu odiava quando ele fazia aquilo. Quando fingia que estava tudo bem, quando evidentemente não estava.

- O que você tá fazendo aqui? Não disse que tinha algo de mais importante para fazer do que estar comigo? – Soei com sarcasmo – trilha com seu lá quem...

Isaque revirou os olhos.

- Não sei porque você tá tão chateada...

- Tá brincando né! – O interrompi com brusquidão.

Isaque soltou um suspiro de descrença.

- Você queria que eu viesse, eu tô fazendo o que você queria. Tô aqui.

- O que eu queria? – Bufei com ironia – Eu queria que você quisesse está aqui, mas acima disso, eu queria que você não me tratasse como uma idiota estúpida!

Isaque empalideceu.

- Do que você está falando?

- Hoje eu estive com a prima da sua ex namorada, a Luísa. Imagina a minha surpresa quando eu soube por terceiros que você me levava aquele lugar, o mesmo lugar que a sua ex namorada costumava te levar...

- Suzana...

- Não me importa que vocês sejam amigos, o que me importa é que eu estava lá achando que aquilo era uma coisa nossa, quando na verdade era tudo reaproveitado.

- Já chega Suzana! – Ele falou irritado – eu estou indo embora, você não quer conversar, só quer discutir, não é?

Ele deveria se desculpar por ter me desrespeitado e não ficar bravo porque eu estava chateada. E o que mais me irritava em tudo isso era que ele esperava que eu estivesse bem com algo que com certeza ele não aceitaria se fosse feito com ele.

- Ah me desculpe. – Respondi com acidez na voz – por te magoar ficando magoada com uma coisa que você fez.

Isaque meneou com a cabeça.

- Você tá completamente maluca.

Sorri. A ironia de tudo era que ele estava me deixando assim.

- Você tem o dom de me afastar de você Isaque – Disse com tristeza me segurando para não chorar – Eu nunca quis começar uma briga, eu só queria que você soubesse que o que você fez me machucou. Mas você não liga, não é? Você não dá a menina...

- Se não gosta das minhas atitudes Suzana, então eu não sei o que estamos fazendo aqui...

Minha boca se abriu em espanto diante da afirmação dele. Eu esperei que ele demonstrasse arrependimento, que pedisse desculpa, que falasse que tinha sido da boca pra fora. Mas ele não pediu, e as palavras não foram. É quase cômico como em momentos de tensão o seu cérebro de repente faz você lembrar de algo, e foi quase cômico como o que minha professora tinha dito na aula passado soou novamente em minha mente:

Uma coisa importante que vocês precisam ficar atentos é prestar bastante atenção no que as pessoas dizem quando estão com raiva. Elas sempre morreram de vontade de te dizer tudo aquilo, a raiva foi apenas uma desculpa.

E foi naquele momento, foi naquele momento que eu tive certeza. Aquele não era o Isaque que eu conhecia, eu não fazia mais parte daquilo, eu precisava ir embora.

Enxuguei as lágrimas do meu rosto e dei as costas para ele...

- Suzana me desc...

- Vai embora! Eu não quero te ver! – Corri para as escadas sem olhar para trás.

☘️

- Fica ali, na próxima esquina. – Rebecca disse tirando a atenção do celular.

- Ainda bem que viemos juntas, eu sou péssima com aplicativo de mapa. – Falei dando a curva e estacionando em frente ao centro de acolhimento para crianças e adolescentes.

Era de visita a instituição, a universidade tinha organizado tudo, com certeza nossos colegas de classes e coordenador já deviam está lá dentro, e nós estávamos atrasadas, é claro.

Ao descer do carro nos deparamos com um grupo de adolescentes gritando, envolta de dois outros que brigavam. Uma era menina, mas ela estava batendo mais que apanhando
.
- Bem do jeitinho que a gente ler nos livros. – Rebecca brincou e eu sorri. – Vou chamar alguém pra separar. – Ela disse entrando no prédio.

Eu assento. Resolvi esperar por ali mesmo, caso a situação ficasse pior. E para a minha não surpresa, foi exatamente o que aconteceu. O rapaz reagiu de uma vez e a garota caiu de supetão quando ele a empurrou. De repente ele começou a chutar seu estômago, eu esperei que alguns de seus amigos separassem, mas eles só continuavam gritando, e o incentivando.

- Ei! – Corri até ele – assim você vai matar ela. – Disse me aproximando e tentando tocar seu ombro.

O garoto virou automaticamente, com tanta raiva que acho que ele nem chegou a perceber quando me atingiu, e então eu senti o soco em meu rosto. Tudo escureceu rapidamente.

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