Eu suspirei e apoiei a cabeça na parte superior do piano, toquei algumas teclas, e me arrisquei a cantar já que estava sozinha:
Não consigo me livrar da sensação de que sou ruim, e me curar parece impossível, o que é irônico, porque não importa o que eu faço eu ainda sou ignorada.
Eu tive alguns traumas, fiz coisas que não queria, eu estava com muito medo de contar para vocês, mas agora eu acho que a hora.
Respirei fundo parando de tocar.
Como se eu tivesse coragem.
- Que música triste. – A voz de Davi soou pela sala, quando levantei a cabeça para olhá-lo, ele estava bem ali, em frente ao piano, e eu nem tinha notado.
- Ah, é Billie Eilish. – Comentei tentando disfarçar com um sorrisinho, que Davi não correspondeu.
- Tão triste como a que você cantou na Itália semana passada. – Davi continuou ignorando totalmente o que eu disse.
Eu me privei de perguntar se ele agora havia virado um fiscal de música, sabia que ele estava preocupado, e se ele estava preocupado era porque eu não estava fingindo bem.
Depois que chegamos da Itália, eu me senti ainda mais triste do que quando estava lá. A verdade é que eu estava exausta. Eu não sabia bem quando tudo tinha começado a desmoronar, mas eu estava exausta de ter que viver assim, nada de bom acontecia. Estava cansado de fingir ser o que não era, e continuar com sorriso no rosto como se tudo estivesse bem quando na verdade não estava...
- Você tá bem... Ei, Suzana? – Davi me puxou novamente dos meus pensamentos.
- Hum?
- Perguntei se você está bem.
Essa pergunta de novo.
Eu sorri um pouco.
- Estou ótima, Davi.
Meu irmão me analisou por uns segundos, com a expressão receosa, cautelosa...
- Você sabe que pode me falar o que quiser, não sabe?
Eu sabia que poderia falar sobre muitas coisas com ele, mas não sobre isso. Davi é Asafe não podiam saber, eles não entenderiam, eu não podia contar com eles, não sobre isso.
- Eu não tenho nada para dizer. – Menti tentando ser o mais convincente possível.
Davi suspirou.
- Tudo bem então. Eu estou indo para a Levins assinar uns papéis. Quer vir comigo? Depois podemos almoçar juntos.
Assenti.
- Eu adoraria. – Afirmei segurando a mão que ele tinha estendido para mim.
Chegamos na Levins por volta das 11h, seguimos direto para a sala de Davi, e enquanto ele se dedicava a ler e assinar seus documentos, eu comecei analisar o ambiente.A sala tinha muito da sua personalidade, era iluminada e em tons minimalista. Na parede direita, tinha uma bancada, com o nome família, onde havia várias fotos nossas.
Davi devia ter colocado recentemente, já que eu não havia visto ela da última vez que estivera aqui.
De todas às fotos, a que mais chamou minha atenção foi uma minha bebê, no colo de Davi, Asafe também estava lá ao seu lado. Nem um dos dois olhavam para a câmera, ambos tinham os olhos atentos em mim.
- Essa é a minha preferida. – Davi disse da sua mesa.
Eu peguei o porta retrato em minhas mãos, com os olhos marejados e sorri.
Era a minha também.
- Eu lembro que quando mamãe falou que estava grávida e que era uma menina nós ficamos tão felizes. - Ele disse nostálgico – e quando você nasceu, tinha uma verdadeira disputa entre nós para quem ficava mais tempo com você nos braços.
Ouvir aquilo dele aqueceu meu coração por dentro de uma forma que eu não sabia explicar.
Esse era meu irmão dizendo a coisa certa, no momento certo.
- Senhor Levins, desculpe, mas preciso da sua assinatura para a aprovação desse projeto. – O secretário pessoal de papai disse, entrando apressadamente na sala.
Estava tão esbaforido que nem notou que não bateu.
- Precisamos da aprovação ainda hoje. – Ele continuou enquanto Davi analisava o que tinha em mãos.
- Eu não assino documentos da presidência, Tom. – Davi falou depois de alguns segundos.
– Onde está o papai?
- Ele ainda não chegou, e como é urgente, não tem problema ser assinado por um outro Levins. – Tom explicou rapidamente.
- Entendo. – Davi disse assinando. Logo em seguida, Tom agradeceu e saiu.
Nós fizemos o mesmo alguns minutos depois, e Davi dirigiu para um restaurante que eu nunca tinha ido antes, mas que tinha uma comida muito boa.
Assim que terminamos, retornamos para casa. Tivemos uma grande surpresa quando vimos papai na entrada principal, em frente ao seu carro, com o olhar perdido.
- Ele não estava com enxaqueca? O que está fazendo aqui fora nesse frio? – Davi questionou saindo do carro.
Eu fiz o mesmo, não sei bem porque, mas estava curiosa sobre o fato dele estar ali.
- Papai? O que está fazendo?
Os olhos de papai se voltaram para nós e nós fitou com confusão.
- Papai? – Davi insistiu, começando a demonstrar traços de preocupação em sua voz.
- Quem... Quem são vocês? - Ele questionou desorientado.
Edward
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O AMOR ME CUROU
RomansSuzana Moreal Levins, morava na Inglaterra desde os sete anos de idade, a Londres fria e chuvosa era o único lar de que se lembrava, e era também o ultimo lugar em que queria está. Um trágico acidente havia contribuído para isso, ela estava totalme...