Asafe
Eu entrei na sala de visita para encontrar Fiorella bisbilhotando. Estava tão distraída mexendo nas gavetas que costumavam ficar alguns livros e álbuns da vovó que nem notou minha presença.
- Encontrou algo interessante, Fiorella, querida? – perguntei com um meio sorriso que se entendeu quando percebi que a assustei.
- Sim, claro. – Ela disse virando para mim – a Marina tem um ótimo gosto para coisas vintage.
Fiorella suspirou, e quando voltou a falar sua voz estava colorada e aveludada. Era incrível. Não tirava a máscara por nada.
- Bom dia, Suzana. Asafe me trouxe para me despedir da Marina. – Ela continuou andando um pouco e sentando em uma poltrona – estamos retornando para Londres depois do almoço.
- Antes tarde do que nunca. – Murmurei de mau humor.
- Imaginei que sua gentileza no jantar de ontem não tinha sido nem um pouco sincera. – Fiorella zombou.
A expressão dela me fez perguntar se havia alguma piada que eu estava perdendo. Os canto da boca dela estavam retorcidos, em um sorriso.
- Então você ainda não aceita meu relacionamento com Asafe. – Ela concluiu – qual vai ser a abordagem agora para nos separar? Imagino que tenha desistido da ideia de me humilhar ou tratar mal.
Sentei-me imóvel esperando ela encontrar meu olhar, quando o fez eu a encarei por alguns segundos.
- Eu não preciso fazer nada. Esse relacionamento se dará ao fim sem minha intervenção.
Fiorella riu de leve, como se o que eu tivesse acabado de falar fosse a coisa mais absurda do mundo.
- É mesmo?
Assenti.
- Estamos em países diferentes, por quanto tempo você acha que isso vai durar? – questionei.
Fiorella me olhou e sorriu. Mas em seu rosto havia uma expressão severa e amargurada. Então eu soube que aquele era o ponto fraco.
- Eu conheço meu irmão. – Continuei – e não dou um ano para esse relacionamento... Aposto que ele nem mesmo disse a você o real motivo de estarmos aqui. – Continuei com satisfação ao encontrar a resposta em seus olhos antes que ela pudesse esconder – também não deve ter dito que não vamos mais voltar.
Ela não respondeu, mas eu esperei por um longo minuto antes de voltar a falar.
- Você pode perguntar, mas imagino que não o fará. Tem medo de pressioná-lo não é? E perder a galinha dos ovos de ouro.
- Acha mesmo que seu irmão é apenas isso para mim? – Ela questionou com a voz doce e aveludada, carregada de veneno e falsidade.
Sorri.Fiorella não amava meu irmão. Eu tinha certeza.
- Um dia Fiorella, você será esquecida. Apenas um passado distante que não vale a pena ser lembrado. – Disse com a voz mais instável possível.
Eu só sentia por meu irmão. Porque ele sim a amava.
- Vamos ver. – Ela respondeu com indiferença. Depois seu rosto se alterou e exibiu um grande sorriso – oi meu amor.
Quando me virei Asafe estava entrando na sala. Como sua expressão estava calma imaginei que não tinha nos ouvido.
- A vovó já está descendo para o café. – Ele avisou abaixado para beijar o rosto dela e depois vindo até mim.
– Bom dia irmã. – Me cumprimentou com um beijo na testa. – Do que falavam?
- Suzana estava aqui me contando que dá próxima vez em que viemos eu deveria ficar mais tempo, assim ela e Gabriela poderiam me apresentar Santos. – Fiorella mentiu, vindo em nossa direção e passando as mãos pelo braço de Asafe.
Que garota falsa.
- É mesmo? – Asafe me olhou desconfiado, se perguntando se acreditava ou não.
Mas se ela era falsa, eu conseguia ser mil vezes pior.
- Sim. – Comrrespondi o sorriso – isso seria ótimo.
☘️
- Estavam indo para escola sem falar comigo? – Davi questionou descendo as escadas esbaforido.
- Você estava em um sono tão pesado, não queríamos te acordar. – Asafe explicou.
- Mas deveriam. Não ouvi o despertador, e agora estou atrasado. – Ele continuou vindo até mim – uma ajudinha Su. – Pediu gesticulando para a gravata.
Assenti tentando torná-lo o mais apresentável possível. Mas estava um pouco difícil, o cabelo estava desgrenhado. Ele não tinha tido tempo de cortar, e as olheiras em volta dos olhos denunciava que ultimamente ele não estava tendo tempo nem para dormir.
- Conseguiu remarcar seu horário com a psicóloga?
Meneei com a cabeça dando um último nó na gravata.
- Sério? Bom, então eu... – Davi começou mas eu o interrompi.
- Você não precisa se preocupar. Depois da aula eu vou com motorista e retorno. Andava sozinha em Londres, sou capaz de fazer o mesmo aqui. – Afirmei.
Davi segurou minhas mãos com carinho.
- Mas você não precisa...
- Não mesmo. – Asafe retorquiu – eu vou com você.
- Mas e o seu treino? A escola vai jogar hoje.
- Posso ficar de fora...
- Você vai jogar hoje? Porque não me disse? – Davi confuso.
Asafe contei o sorriso e deu um tapinha no ombro de Davi.
- Eu falei irmão. Você deve ter esquecido.
Ele andava tão ocupado tendo que assumir um novo cargo na Levins daqui, e ajudando vovó com os restantes que estava muito sobrecarregado. Eu queria poder fazer alguma coisa pra ajudar.
Davi respirou fundo.
- Devo ter mesmo.
- Precisa de uma secretária. – Comentei.
- Sim, e de um assistente pessoal. Irei providenciar isso. – Ele concordou – sobre seu horário, eu posso mesmo desmarcar algumas coisas para te levar.
Meneei com a cabeça.
Que falta que a vovó fazia. Ela tinha ido visitar uma tia distante, que estava doente. Então já fazia uns três dias que éramos só nós três. E estava começando a achar que não éramos tão bons nisso como acreditava que éramos.
- Eu vou ficar bem. Todos nós vamos. – Afirmei. – nos vemos a noite no jogo, tenta se alimentar. – Pedi. Nem precisava dizer que ele havia perdido peso. Era evidente.
Davi
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O AMOR ME CUROU
RomanceSuzana Moreal Levins, morava na Inglaterra desde os sete anos de idade, a Londres fria e chuvosa era o único lar de que se lembrava, e era também o ultimo lugar em que queria está. Um trágico acidente havia contribuído para isso, ela estava totalme...