— Poderia me acompanhar, Suzana?
Assenti, mesmo sem entender. E seguindo ele para uma das salas que comunicava com o salão de festa.
Talvez papai quisesse fazer mais uma surpresa para mamãe. Em todo caso não poderia demorar muito, logo chegaria minha vez de tocar.
— O que você está fazendo? — ele vociferou, assim que fechou a porta atrás de si.
Eu pisquei assustada algumas vezes sem entender.
— Perdão?
— O que pensa que está fazendo usando o conjunto de Sovoiá da minha mãe? — Edward disse com rispidez — quem você pensa que é?
Eu percebi uma sensação estranha percorrer meu corpo. Ele nunca tinha falado comigo desta forma, era sempre muito contido, educado, mas agora ali na minha frente parecia ser a mesma pessoa que gritou para mamãe que eu não era sua filha. Fiquei tão assustada que nem mesmo consegui pensar em nada para responder. Estava muito, muito confusa com seu ato de raiva destinado a mim, e embora tentasse abrir os lábios para dizer alguma coisa, eu simplesmente não consegui. Mas ainda que conseguisse, o que poderia dizer, deveria me desculpar? dizer eu sinto muito, pedir que parasse de gritar, e me olhar com desprezo? Eu deveria... O que eu deveria fazer...
— A ultima pessoa que o usou foi minha mãe, ele era dela! — Edward continuou com ódio nos olhos — e agora aí está você, desfilando com ele como se fosse alguma coisa. Quando você não é nada! Não é ninguém para usá-lo.
Edward cravou um olhar severo em mim, e, por um instante, eu voltei a ser a garotinha tola que era repreendida por ele na infância, mas nunca daquele jeito, nunca daquela forma.
— Depois de hoje você irar tirar esse colar, e nunca mais irar usá-lo. Entendeu bem?
Eu balancei a cabeça. Não tinha estrutura para responder naquele momento, e quando senti as lagrimas quentes rolarem por meu rosto sabia que se tentasse seria pior.
Ele me encarou por um longo tempo, e então deu meia-volta e saiu pisando forte.
Você não é nada!
Não é ninguém!
As palavras dançaram em minha mente, enquanto eu sentia mais e mais lagrimas rolarem meu rosto, aos poucos minhas pernas foram perdendo força, e então me deixei cair em um sofá que estava ao lado e chorei sozinha, novamente. Eu nunca esperava que ele tivesse essa reação.
Era só um colar... Era só um colar. Sussurrei tocando em meu peito e sentindo muita dor e angustia. Porque isso tinha que acontecer hoje, ele... Não era justo que ele me tratasse, assim, que ele me dissesse essas coisas, eu só estava, eu só estava... Só queria me sentir parte da família, usar algo especial, eu não...
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O AMOR ME CUROU
RomanceSuzana Moreal Levins, morava na Inglaterra desde os sete anos de idade, a Londres fria e chuvosa era o único lar de que se lembrava, e era também o ultimo lugar em que queria está. Um trágico acidente havia contribuído para isso, ela estava totalme...