- Como tem sido sua semana? - A psicóloga perguntou me fitando.
Eu pensei por alguns segundos antes de responder.
As coisas estavam indo bem, embora ainda fosse difícil, não era mais como no começo. Eu ainda sentia muita tristeza e angústia dentro de mim, principalmente a noite. E às vezes a ansiedade tornava muito, muito difícil respirar, mas estava melhorando. Eu não me sentia assim mais o tempo todo.
- Tem sido boa. - Respondi com cautela - eu ainda me sinto mal às vezes, mas não como antes. - Prossegui - ajudar a vovó na estufa, sair com meus primos, ir a igreja tem ajudado muito.
- Isso é ótimo. E você já está começando a gostar?
Assenti. Antes eu ia para agradar a vovó, mas eu fui começando a me acostumar as pessoas, elas eram gentis, não só comigo, mas uma com as outras. E sempre que alguém pedia oração por algum problema, isso abria uma janela na minha mente. Eu não era a única que estava sofrendo. Todo mundo, até eles que pareciam tão bem tinham que lidar com a dor.
- No último domingo tocou uma música muito bonita. - Comentei me lembrando, como naquele dia eu agradeci pela igreja está cheia, e não poder sentar perto dos meus irmãos e da vovó.
Então ali, ao lado de estranhos eu não me sentia mal ao chorar, enquanto a letra da música me tocava.
Ah esperança para o ferido, como árvore cortado marcado pela dor... Ah esperança para você.
- E o pastor falou sobre uma passagem na biblia, uma em que um homem doente disse a Jesus que sabia que ele poderia curá-lo se quisesse.
Eu sei que o Senhor pode me curar se quiser.
Eu quero.
- Isso me fez pensar... - Eu hesitei antes de finalizar.
- Pensar... - A psicóloga me incentivou a continuar com gentileza.
Assenti e respirei fundo.
- Eu queria poder ser como eles sabe, meu irmão, a vovó, todo aquele povo da igreja deles. - Continuei meio sem jeito. Não havia falado sobre esse meu desejo com ninguém, nem mesmo com vovó e Davi - eles parecem tão bem, mesmo estando cheios de problemas...
Cheios de dor.
- E eles também tem um brilho sabe, no olhar, como se, como se viver fosse bom.
Pra mim não era. A vida para mim era apenas vazia, triste, e dolorosa.
- Você parece bem interessada.
- Eu estou. - Admiti. Já estava pensando nisso a tanto tempo. - Acha que deveria procurar entender mais sobre a fé cristã? - perguntei indecisa.
- Acredito que se é o que você deseja, você deveria sim buscar conhecer melhor. - Ela disse com carinho.
Respirei fundo. Eu já sabia o que faria quando saísse daqui.
☘️
- Senhorita Suzana, deseja que eu espere? - Marcus perguntou quando estacionou o carro.Eu meneei com a cabeça.
- Se precisar eu ligo, Marcus.
- Ok.
Eu saí do carro e segui para dentro da igreja. Estava aberta, como o esperado. E havia uma música tocando ao fundo, uma melodia calma e ambiente. Mas não tinha ninguém por lá, eu achei melhor assim. Dessa forma teria privacidade.
Me sentei em um dos últimos bancos.
Não sabia bem como começar, já havia orado outras vezes, mas a oração que precisava fazer agora não se parecia em nada com as que tinha feito antes.Oi Senhor... Eu... Desculpe, não sei como começar... Isso é difícil pra mim, então eu só vou, só vou ser sincera.
Enxuguei as lágrimas que insistiam em sair, mesmo com os olhos fechados.
Tô tão perdida, perdi completamente o rumo. Eu achava que ficar longe do Edward, que fazer terapia, usar remédios me ajudaria a voltar a ser quem eu era, mas agora... Agora... Não quero mais ser aquela pessoa, nem essa, eu ouvi dizer que o Senhor pode curar todas as dores, e que pode me ajudar a ser melhor, e é isso que eu quero. Eu não posso mais viver assim, tem um buraco em meu peito, um desespero em minha alma que nada... O Senhor é a minha única esperança. Eu estou aqui, e preciso de você para ser meu Deus, minha ajuda, o Salvador que pode me concertar por dentro, me tirar desse desastre.
- Eu sei que eu preciso melhorar muitas coisas, muitas coisas mesmo, e é o que eu quero. - Sussurrei com a voz trêmula.
- Suzana? - A voz conhecida do pastor Elias, pai da Sarah soou atrás de mim. - Está tudo bem por aqui? - Ele continuou se aproximando mais.
Foi gentileza da parte dele perguntar. Ele sabia que eu não estava bem, como poderia com o rosto banhado em lágrimas. Mas ainda assim ele quis me dá privacidade.
- Eu estou vindo da psicóloga. - Expliquei meio sem jeito - eu estava falando com ela sobre... Sobre a Pregação de domingo. - Continuei não sabendo bem se estava me fazendo entender - o homem doente.
- Ah, sim. O leproso. - O pastor Elias disse com um pequeno sorriso, sentando ao meu lado. - É o meu milagre favorito.
Eu sorri um pouco em meio às lágrimas.
- Ele devia está sentindo muita dor, não é? - Sussurrei mais para mim mesmo do que para qualquer outra pessoa.
- Sim. Com certeza. Imagine só que além de sofrer fisicamente, ele não poderia conviver com sua família, as pessoas que amava. Não podia ir ao templo cultuar o Senhor. Devia ser muito doloroso e solitário. - O pastor Elias proferiu baixinho. - Ainda bem que Jesus o encontrou.
Assenti.
- Eu também quero ser encontrada. - Admiti finalmente - eu sei que ele pode me curar se quiser de toda essa dor, eu sei que... Que eu quero muito ser curada.
Um doce sorriso brotou no rosto do pastor.
- Isso é ótimo. Só precisamos orar.
Assenti novamente e voltei a fechar os olhos. Enquanto o pastor Elias orava por mim, eu comecei a fazer o mesmo. E ali naquele momento parecia que um montanha estava saindo dos meus ombros.
E finalmente Suzana encontrou o Amor verdadeiro.
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O AMOR ME CUROU
RomanceSuzana Moreal Levins, morava na Inglaterra desde os sete anos de idade, a Londres fria e chuvosa era o único lar de que se lembrava, e era também o ultimo lugar em que queria está. Um trágico acidente havia contribuído para isso, ela estava totalme...