Capítulo 105 Eles Ainda São Família

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Eloisa

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Eloisa












Eu entrei no Moreal do Centro, e esperei que Eloisa estivesse nele. Sabia que ela ficava alternando entre os restaurantes de Santos, mas ficava por mais tempo nesse.

Fui direto até a recepcionista de olhos claros, que eu lembrava de já ter visto em uns ensaios do casamento, ela era uma madrinha. Subiria ao altar com Noah.

- Oi. – A cumprimentei com um sorriso – eu vim para falar com Eloisa, mas não marquei nem um horário. Acha que ela teria um tempo para mim?

- Senhorita Moreal. É claro, eu vou informar que está aqui. – A moça respondeu com educação – Ellis, leve a senhorita Moreal para a sala privada. – Ela pediu para a outra mulher elegantemente vestida.

- Por favor me acompanhe. – Eliis gesticulou para a entrada, e eu segui por ela.

Nunca antes tinha estado nessa sala, mas imaginei que era onde vovó, ou Eloisa costumavam fazer a reunião com a equipe. A sala era grande, com tons em branco e dourado assim como todo o restaurante.

- Gostaria de alguma coisa para beber?

Meneei com a cabeça.

- Obrigada. – Disse sentando em um grande sofá.

- Se precisar de algo, é só chamar no interfone. – Ela apontou para o aparelho na mesa de reunião do outro lado da sala – com licença.

Ellis saiu, e a sala voltou a ser silenciosa. Eu fitei a paisagem, pela janela de vidro. Como estava no segundo andar tudo o que via era prédios, e o céu. Azul, com um escaldante lá fora.
Provavelmente não choveria no dia do casamento.

- Suzana. – Eloisa fechou a porta atrás de si e se aproximou com um sorriso de curiosidade.

- Eloisa, desculpe incomodá-lo no trabalho. – Disse ficando em pé. Ela me comprimento com um beijo no rosto – espero não está atrapalhando.

- Não, de jeito nem um. – Eloisa respondeu com educação.

Nós duas nos sentamos ao mesmo tempo, e ela me fitou esperando que eu dissesse o que tinha me trazido aqui.

- Eu imagino que deva está surpresa por me ver... – Comecei meio sem jeito.

- Ah, não. – Eloisa negou apressadamente – é seu restaurante, pode vir quando quiser.

Eu sorri um pouco. Ela parecia ainda mais nervosa do que eu. Que cunhada horrível eu não devia está sendo por todo esse tempo, para Eloisa ficar assim tão desconfortável em minha presença.

- Eu vim porque... Gostaria de conversar.

Deixei escapar um suspiro. Porque era tão difícil falar sobre aquilo, mesmo depois de tanto tempo.

- Eu te devo um pedido desculpas, Eloisa... Sei que não começamos muito bem, e que alguma vezes eu fui muito indiferente.

Eloisa abriu a boca para falar, mas voltou a fechar. Estava muito surpresa, de todos as coisas que devia ter imaginado que eu falaria, essa não era uma delas.

- Quero que saiba que não tem nada a ver com você, ou o casamento. Eu estou muito feliz que meu irmão encontrou alguém bom para ele.

Eloisa me olhou nos olhos, com um respeito solene.

- Obrigada por dizer isso.

Eu me forcei a sorrir um pouco. Tinha certeza que quando tudo isso passasse, quando eles voltassem para Londres, e tudo se acalmasse eu conseguiria ser uma cunhada melhor.

- Acho que Davi não te contou o que nós fez mudar para o Brasil. – Prossegui tomando cuidado para não machucar minhas mãos, que já estavam em punhos.

- Nas poucas vezes em que tocou no assunto disse que era complicada a convivência com o senhor Levins. – Eloisa respondeu em um tom cauteloso.

Complicada... Que eufemismo.
Mas não poderia esperar algo diferente de Davi. Ele nunca revelaria um segredo que não era seu.

- Edward não é meu pai biológico. – Disse de uma vez, sem ter coragem de olhar em seus olhos. – Nunca gostou de mim por esse motivo, mas me suportava antes do Alzheimer.

Eu respirei fundo mais uma vez e fechei os olhos. Aquela sala era tão clara, e a enxaqueca estava voltando. Então naquele momento senti uma mãos tocar as minhas em meu colo com delicadeza, quando abri os olhos Eloisa estava lá ao meu lado.

- O que ele fez a você?

Engoli um seco e não tentei conter a lágrima silenciosa que rolou em meu rosto. Estava com dor e muito cansada.

- Em uma noite em Londres, ele me atacou. – Disse passando a mão pela cicatriz esperando que ela entendesse – me empurrou contra o fogo da lareira, eu caí em uma mesa de vidro, o estilhaço dela entrou na minha traqueia. Foi quase fatal.

Desta vez foi Eloisa que soltou um suspiro de tristeza misturada com pavor.

- Ele diz que os remédios o fizeram se descontrolar. – Eu desviei o olhar mais uma vez para a janela. O céu azul, parecia cálido e calmo – eu não sei se é verdade, o que eu sei é que ele me fez muito mau. Antes dessa noite ele nunca havia me machucado fisicamente, mas existem muitas maneiras de destruir a alma de alguém sem recorrer a punição física. – Disse com a voz tão baixa que mais parecia um suspiro – tudo isso aconteceu quando eu tinha quinze anos, agora eu tenho dezoito. Ainda assim, estar com eles me causa muita dor.

Eu estava tentando de verdade conviver com Edward, mas depois de tudo o que tinha acontecido, eu sentia meu estômago embrulhado só de pensar na possibilidade. E a angústia, a angústia sempre voltava.

- Suzana... Eu nunca... Se eu soubesse tudo o que tinha acontecido, se soubesse como você se sentia eu nunca teria aceitado uma festa nessa proporção, eu teria... Por favor me desculpe, eu...

Desta vez eu que apertei a mão de Eloisa tentando acalmá-la.

- Está tudo bem Eloisa, não é a primeira nem a última vez que vou encontrá-los.

Eles ainda eram minha família no final das contas.

- Eu preciso me acostumar.

- Ainda assim, não devia ter que fazer isso. – Ela disse baixinho – eu prometo a você, que nunca terá de passar por isso por mim, eu prometo.

Eloisa me abraçou. Ela também estava chorando, tentava se controlar, mas não estava conseguindo.

- Eloisa... Que bom que meu irmão te encontrou.

Suzana

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Suzana


O AMOR ME CUROUOnde histórias criam vida. Descubra agora