No final do primeiro tempo, nós estávamos perdendo feio. Durante o intervalo, Asafe, ficou com o time, para dá coordenadas, e eu resolvi responder a mensagem de Levi, que tinha chegado durante o jogo. Ele não estava em campo hoje, e nem tinha vindo ao jogo, porque não estava se sentindo muito bem.
Estamos perdendo!
Sério?
Sim, e você não vai acreditar. George está jogando pela outra escola.
Asafe deve está muito irritado.
Suspirei. Vendo que o intervalo tinha acabado.
Sim, muito. Depois a gente se fala, o jogo vai começar.
Mandei a mensagem, e guardei o celular na bolsa, voltando toda minha atenção para o campo.
Se no primeiro tempo eles estavam agressivos, no segundo estava ainda pior. Depois que nossa escola conseguiu empatar, nosso time começou, a se acalmar, ao contrário do outro.
Um pouco antes do segundo tempo acabar, Asafe correu pelo campo com a bola no bastão. Ele era tão rápido e ágil, que com certeza iria marcar, seria o gol decisivo. Quando estava próximo o suficiente, um jogador conseguiu entrar em sua frente, Asafe pulou para marcar dali mesmo, então George o atingiu com tanta força no ar, que quando ele caiu no chão e gritou, eu tive certeza que alguma coisa havia quebrado.
Asafe...
Eu obriguei minhas pernas tremulas a correrem para o campo, logo atrás de Davi, que abria caminho entre as pessoas gritando: Ele é meu irmão, ele é meu irmão, saiam da frente! Quando chegamos, já havia muitas pessoas envolta dele, e uma equipe de paramédico ao seu lado, tentando coloca-lo em uma maca. Ele gritava tanto, e seu rosto estava tão vermelho, eu não sabia dizer se pelos gritos, ou pela dor, e seu ombro, meu Deus, eu nunca tinha visto nada igual, parecia fora do lugar.
— Asafe? Asafe? — Davi chamou nervoso, se ajoelhando ao seu lado. E eu lutei contra a vontade de vomitar e chorar ao mesmo tempo.
— Você é o irmão dele? — Um paramédico perguntou para Davi, quando conseguiram finalmente coloca-lo na maca. — Vamos leva-lo ao Cromwell. Você pode nos acompanhar de carro. — Ele dizia, enquanto eu corria ao lado da maca segurando a mão do meu irmão que tremia.
— Não podem dá alguma coisa pra dor? — perguntei com a voz embargada, quando entramos na ambulância, e Asafe continuava a gritar.
— Já estamos dando o que temos de mais forte. — O paramédico respondeu encaixando o pé da macá.
— Tá doendo muito... Tá doendo muito. — Asafe gritava o tempo todo, apertando com força minha mão que segurava a sua.
— Davi? — eu chamei desesperada, para que ele entrasse logo.
— Olha aqui, me escuta bem! Eu vou entrar nessa ambulância com meus irmãos. E você não vai querer tentar me impedir. — Eu ouvi Davi dizer, com a voz feroz para o outra paramédico, que a muito contragosto se afastou e deu passagem para ele.
Davi entrou, sentou ao meu lado, e segurou nossas mãos.
— Tudo bem, tudo bem. Estou aqui. — Ele repetia.
Eu não tinha certeza se Asafe ouvia. Ele só continuou gritando muito, o caminho todo, que felizmente não era longo. Quando chegamos ao hospital, ele foi levado por médicos para uma sala, onde não deixaram eu e Davi entrar, embora tivéssemos insistido muito.
Não conseguimos mais ouvir seus gritos de onde estavamos e eu não saberia dizer se isso, me acalmava ou assustava. Estava com muito medo. Só depois de longos minutos, que dois medicos vieram até nós. Um deles, eu conhecia, era o diretor do hospital, amigo do papai, o outro nunca tinha visto, mas foi o primeiro a falar.
— Nós estamos encaminhado o senhor Levins para a cirugia, nesse exato momento, mas precisamos da assinatura do responsavel. — Ele disse, gerticulando para a pasta em sua mão.
— Cirugia? — Davi conseguiu falar absorto.
O medico assentiu.
— Ele teve luxação acromioclavicular, do tipo que são tratadas preferencialmente com cirurgia, para que não acarretarem problemas na cintura escapular no futuro, ou deformidade. O objetivo da nossa equipe é realizar a cirurgia o mais rápido possível, a fim de favorecer a cicatrização dos ligamentos coracoclaviculares. O quanto antes fizermos o procedimento, melhor!
Eu senti meu coração doer. Isso era muita coisa para absorver.
— Eu vou ter que assinar a autorização. — Davi disse com a voz carregada. — Nossos pais estão viajando.
Eu sabia que ele estava se segurando para não chorar como eu. Alguém tinha que segurar a pontas ali, e eu agradeci mentalmente por não ser eu.
— É claro. — O medico entregou os papeis a Davi.
Assim que terminou de assinar, ele saiu, dizendo que começariam agora mesmo.
— Vão gostar de saber que já entrei em contato com seus pais, eles estão vindo. — O medico amigo de papai chamou nossa atenção. — Volto com noticias do Asafe, assim que tivermos.
***
Nós ficamos ali, em um sala de espera pelas próximas horas, sozinhos, e aflitos, a espera de uma noticia boa. Davi estava muito apreensivo ao meu lado, embora tentasse disfarçar para não me deixar mais nervosa ainda, eu também sabia, pelo mover dos seus lábios, mesmo que silenciosos, que ele estava orando por nosso irmão, e eu queria tanto poder fazer o mesmo que ele.
Recorreria a qualquer coisa, se isso significasse que Asafe ficaria bem. Mas não sabia como, nunca tinha feito antes. Embora tivesse ido muitas vezes a igreja, aos domingos, eu não sabia como orar, nem por onde começar.
— Davi, como você faz isso? Como você ora? — Perguntei ao seu lado. — Pode me ensinar? Eu também quero orar pelo Asafe, mas não sei bem como. — Admiti envergonhada.
Ele franziu a testa, talvez um pouco surpreso, mas sua expressão estava suave.
— Você fala o que tá no coração, como se estivesse conversando com um amigo.
Para Davi parecia tão fácil dizer aquilo, mas devia ser mesmo fácil para ele, fácil como respirar, já que ele costumava fazer sempre.
— Acha que Ele vai me ouvir, como ouve você? — perguntei tentando lutar contra o sentimento de incredulidade.
— Deus ouve a todos. — Davi disse com carinho, e depois sorriu um pouco para mim.
Eu fiquei em silencio ali, refletindo no que ele tinha dito, e quando finalmente tomei coragem, sussurrei em minha mente, me sentindo a pessoa mais estranha do mundo: Senhor... Deus? Por favor faça com que a cirurgia do meu irmão ocorra bem.
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O AMOR ME CUROU
RomanceSuzana Moreal Levins, morava na Inglaterra desde os sete anos de idade, a Londres fria e chuvosa era o único lar de que se lembrava, e era também o ultimo lugar em que queria está. Um trágico acidente havia contribuído para isso, ela estava totalme...