Quando me sentei no sofá perto da janela do meu quarto, aquele dia, uma grande tempestade tinha começado, as grossas nuvens cobriam o céu escuro, e o vento forte balançava as arvores molhadas da redondeza, não havia ninguém por lá, ou pelo jardim, já que chovia tão fortemente, mas dá janela eu pude ver o carro do meu irmão, prosseguido pelo carro dos seguranças estacionar na frente da entrada principal, em seguida um segurança segurou um guarda-chuva, e caminhou ao lado de Davi até as escadas, depois retornou e fez o mesmo com Asafe. Davi devia ter passado na obra para buscá-lo, ele vinha fazendo isso desde o castigo, embora Edward protestasse muito. Mesmo depois da suspensão de Asafe ter passado, ele ainda estava tendo que trabalhar, então todos os dias depois da aula, ele ia direto para o trabalho, e sabe se Deus por mais quanto tempo isso duraria.
Nesse momento um raio cortou o céu, e eu me peguei o admirando, era realmente bonito de ver, eu amava a chuva, principalmente as grandes tempestades como essa, quando era criança e chovia muito forte, eu costumava ir para o quarto de Davi, e dormir por lá, geralmente quando chegava, Asafe já estava lá também, era uma das muitas memorias boas que tinha com meus irmãos, recordando agora, era fácil lembrar todas as vezes em que Davi foi mais que um irmão para mim e Asafe, ele costumava ser assim, cuidando da gente, acho que o fato de termos pais ausentes tinha contribuído muito para isso, e ele nunca reclamava, ao menos eu nunca tinha visto. Quando Davi tivesse seus próprios filhos, seriam pessoas muito, muito sortudas, eu queria ter tido a mesma sorte.
Ao invés disse eu tinha Candece, e Edward, não que eles fossem pais totalmente ruins, bom, eles eram, afinal tinham mentindo para mim todo esse tempo, mas fora isso, eles não estavam presentes a maioria do tempo para que pudessem ser ruins, Edward estava sempre viajando a trabalho, mamãe o acompanhava na maioria das vezes, então geralmente éramos só nós três, mas mesmo ele sendo tão ausente em nossas vidas, comigo ele ainda conseguia ser pior, as vezes parecia que ele fazia de proposito, que queria mostrar para mim que eu era diferente dos meninos, muitas vezes eu já havia pensado sobre o fato de ser adotada, não fazia sentido na minha cabeça que um pai tivesse tanto desinteresse pela filha, mas ser fruto de uma traição nunca tinha passado por minha mente, eles pareciam se amar tanto.
Suspirei voltando o olhar para a chuva forte que atingia o chão, e naquele momento eu me perguntei quem poderia ser meu pai biológico, onde ele estava, o que deveria está fazendo, e porque tinha me deixado.
Foram duas batidas na porta que me puxaram dos meus pensamentos, quando voltei a atenção para a entrada do meu quarto, um belo par de olhos azuis me fitava, com um grande sorriso no rosto.
- Você estava tão concentrada na chuva que nem notou quando abri a porta. - Davi disse atravessando o quarto - eu trouxe nosso jantar - ele prosseguiu, explicando a presença de uma empregada que seguia com a bandeja de comida para a mesinha.
Eu não me impressionei, era claro que ele fazia isso para ter certeza que eu estava comendo. Nos últimos dias eu não conseguia sentir fome ou vontade de comer.
- Volto para recolher tudo quando terminarem, senhor Levins. - A empregada disse antes de se retirar.
- E então, como foi no neurologista? - Davi perguntou sentando a minha frente.
- O mesmo de sempre, ele disse que as crises devem ser por conta do stress. - Resumi.
Davi assentiu.
- Deus sabe que os últimos dias nessa casa tem sido estressante mesmo. - Ele comentou, muito alheio ao sentindo duplo de sua frase. - E como você está se sentindo? - os olhos de Davi demostraram tanta preocupação que eu me perguntei se meu estado parecia tão horrível, por fora, como me sentia por dentro.
Eu segurei a manta quentinha com mais força em volta de mim, e me privei de responder essa pergunta, afinal o que poderia dizer a ele, se pudesse ser sincera, se pudesse ser realmente sincera, teria que dizer que tinha um nó no meu peito, e a cada dia eu sentia que ele estava se apertando ainda mais, e parecia que estava me sufocando, que estava sendo doloroso existir, que eu não conseguia me sentir normal novamente, mas queria muito, queria muito.
- Suzana... - Meu irmão elevou a mão, e enxugou uma lagrima silenciosa, que eu nem sabia que estava em meu rosto. - Eu estou preocupado com você.
É, eu também estava preocupada comigo.
- Quero que me diga, o que a perturba. - Seus olhos atentos me observaram com cuidado.
Eu engoli um seco me sentindo especialmente mal naquele momento, queria tanto colocar aquilo para fora, dividir essa dor com alguém, mas tinha muito medo que depois que ele soubesse de tudo não gostasse mais de mim, porque eu não conseguia mais gostar, Davi e Asafe era a única coisa que havia me restado, meus irmãos eram o lugar onde não me sentia sozinha, eu não poderia perder eles também.
Davi segurou minhas mãos com carinho, e só agora eu percebi que elas estavam tremendo, a ideia deles saberem a verdade me aterrorizava.
- Que tal respirar fundo. - Ele continuou calmamente - e então me contar o que está te causando dor.
Meneei com a cabeça.
- O medico disse que os remédios vão mexer um pouco comigo - menti - não é realmente nada demais, Davi. Eu vou melhorar. - Terminei, mais tentando me convencer do que a ele. - Podemos jantar agora? - Sugeri tentando mudar o rumo da conversa.
- Sem mim? - Asafe questionou entrando de um vez no quarto.
- Só estávamos esperando você. - Disse levantando e caminhando para a mesa posta.
Felizmente os dois me seguiram, e não tivemos mais que tocar naquele assunto no restante da noite.
***
Na sexta pela manhã o sol apareceu em Londres, e uma equipe de fotógrafos e maquiadores adentrou a propriedade, as fotos em família foram tiradas em um cenário improvisado no jardim, eu observei tudo da janela do meu quarto, todos com exceção de Edward haviam insistido para que me juntasse a eles, mas eu aleguei não está me sentindo bem ainda, no final apenas os quatros participaram, e eu fiquei ali, vendo tudo de fora, quietinha no meu canto, me sentindo a pessoa mais insignificante do mundo.
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O AMOR ME CUROU
RomanceSuzana Moreal Levins, morava na Inglaterra desde os sete anos de idade, a Londres fria e chuvosa era o único lar de que se lembrava, e era também o ultimo lugar em que queria está. Um trágico acidente havia contribuído para isso, ela estava totalme...