Laboratório fantasma

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O frio da noite já havia tomado conta do campus quando finalmente me preparei para ir embora. As luzes brancas do laboratório, que antes me traziam uma sensação de familiaridade e aconchego, agora pareciam emanar um brilho fantasmagórico, intensificando a apreensão que tomava conta do meu ser.

As milhares de amostras catalogadas, representantes da rica fauna da região do Lago Sul, pareciam me observar com seus olhos de vidro, testemunhas silenciosas da minha solidão. O assassinato brutal da garota da faculdade ainda pairava no ar, um fantasma que assombrava meus pensamentos e me deixava em constante estado de alerta.

As mensagens constantes que enviava ao meu pai, Fernando Fontes, delegado federal experiente, não pareciam aliviar a sua ansiedade. A cada minuto que passava após o horário normal de saída do laboratório, a preocupação dele aumentava, e eu podia sentir o peso da sua angústia através de suas palavras que me enviava.

Naquele dia, porém, algo dentro de mim se rebelou contra o medo. Decidi que não seria mais prisioneira da paranoia e da insegurança. Terminei a maior parte do trabalho que me foi designado pelo Professor Aloísio Ferreira, um dos maiores biólogos de Brasília, e que tanto me honrava em colaborar. O conhecimento adquirido e a experiência acumulada durante aqueles meses seriam de grande valor para minha formação profissional, mas não a qualquer custo.

Ao sair do laboratório, o ar frio da noite me deu a sensação de um tapa na cara, um lembrete da realidade que me cercava. De repente, estou cara a cara com Rodolfo, meu ex-melhor amigo, alguém que considerava importante na minha vida. Faz sete meses desde a última vez que nos falamos, desde que rejeitou minha declaração de amor de forma direta e inesperada, pois acreditava que correspondia ao meu sentimento.

Envergonhada e chateada, o ignorei no início, dizendo que não precisava da sua ajuda para chegar em casa. Ele insistiu em me acompanhar, dizendo que se preocupava comigo e que sentia minha falta. As palavras dele soavam fogos de artifício no estômago, mas suas palavras " gosto de você somente como amiga" como um eco distante de um passado que já não me pertencia, mas no fundo trazia esperança para meu coração bandido.

Caminhamos em silêncio até o ponto de ônibus, a tensão pairando no ar como uma névoa densa e sufocante. Aproveitei a oportunidade para deixar claro que deveria ficar longe de mim, que precisava de tempo para superar meus sentimentos e seguir em frente com a minha vida.

Rodolfo, com o olhar triste e abatido, insistiu em dizer que sentia falta da nossa amizade e da minha companhia, mas sabia que deveria manter distância, para evitar interpretações erradas. A mágoa da rejeição era profunda, uma ferida que ainda doía e que precisaria de tempo para cicatrizar.

Quando o ônibus finalmente chegou, subi sem olhar para trás. As luzes da cidade se acendiam enquanto me distanciava da faculdade, de Rodolfo e de tudo o que me atormentava, mas também sentia falta dele, nunca ficamos tanto tempo longe um do outro, como agora.Naquele momento, só queria chegar em casa e me sentir segura novamente.

No silêncio do ônibus, enquanto observava a cidade passar pela janela, me dei conta de que precisava mudar. A vida era muito curta para apegar a mágoas e ressentimentos. Precisava encontrar um novo caminho, um novo propósito.

A morte da garota e o distanciamento de Rodolfo foram como um soco no estômago, um lembrete cruel da fragilidade da vida. Mas também serviram como um despertar. Eu precisava me fortalecer, me tornar mais independente e resiliente.

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