Sempre foi você!

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Frederico Santoro

O silêncio que acompanhava Juliana desde que saímos do laboratório consumido pelas chamas, sua postura se tornava cada vez mais pesada. Sua mão, fria e inerte em minha, contrastava com a agitação do hospital. Seus olhos, antes cheios de vida e curiosidade, agora pareciam perdidos em um mar de pensamentos distantes. Suspiros profundos escapavam de seus lábios a cada intervalo, como se cada respiração fosse um esforço titânico.

A pancada na cabeça, resultado do reboco que se soltou da parede no momento que era resgatada do incêndio, mesmo com negativa sobre não sentir nada, os médicos pediram exames mais detalhados por ser um ferimento na cabeça. A espera era torturante, cada minuto se arrastando como uma eternidade. Eu me sentia impotente, incapaz de aliviar sua angústia.

Antes de chegarmos ao hospital, Juliana pediu para pararmos próximo à Ponte das Garças. Lá, com o coração apertado, ela soltou o aquário com seu sapo de estimação, Zezinho, que afundou junto levou um pedaço dela, ele morreu no incêndio que consumiu todo seu local de trabalho. A tristeza em seus olhos era incomensurável, e eu só podia imaginar a dor que a consumia.

Minha relação com Juliana era algo que muitos não compreendiam. Minha reputação de juventude turbulenta, marcada por problemas e rebeldias, me precedia. A família dela questionava meu interesse por ela, incapaz de enxergar a profundidade da conexão que eu tinha por ela.

Mas Juliana era diferente de tudo que eu já conhecia. Sua inocência, sua gentileza, sua paixão pela vida... tudo em nela me fascinava. Ela me enxergava diferente de todo mundo que conhecia, despertando emoções que nunca tinha sentido, a beleza da sua simplicidade e da bondade despertava desejos incontroláveis dentro de mim.

Enquanto aguardávamos o resultado dos exames, tive a certeza de que precisaria explicar à sua família a transformação que ela havia operado em mim. Precisavam entender o quanto ela era importante para mim, o quanto ela havia tocado meu coração.

Os médicos finalmente chegaram com o diagnóstico: três pontos na cabeça. Apesar do susto, um alívio tomou conta de mim. Juliana não precisaria ficar internada.

Meu plano inicial era levá-la para o meu apartamento, para que ela pudesse se recuperar com conforto e segurança. Mas, diante de sua fragilidade emocional, decidi que o melhor seria deixá-la na casa de sua amiga Thanisia. Eu não sabia como confortá-la, como aliviar a dor que a consumia.

No caminho até a casa de Thanisia, Juliana me fez uma pergunta que me deixou sem palavras: 

Por que os seres vivos precisam morrer? A pergunta era profunda e complexa, e eu não tinha uma resposta pronta.

Depois de alguns segundos de reflexão, respondi que a morte era parte do ciclo natural da vida, algo inevitável e necessário. Mas mesmo sabendo disso, admiti que a perda de alguém que amamos nunca é fácil.

Ao chegarmos ao prédio de Thanisia, Juliana me agradeceu com um olhar doce e triste. Aproximei-me dela e beijei sua testa com ternura, afirmando que tudo ficaria bem.

Fui até o carro e peguei um pacote de balas de jujuba, suas preferidas. Ao entregá-la, um sorriso tímido iluminou seu rosto. Ela me abraçou com força, e sua inocência diante de um presente tão simples me fez sentir vergonha do meu passado egoísta.

A beijei com cuidado, buscando transmitir a ela a paz e a segurança que precisava naquele momento. Ela correspondeu ao meu toque, me dando a esperança de que, com o tempo, poderíamos conhecer um ao outro ainda mais.

Com um último olhar doce, Juliana se despediu e entrou no prédio. Naquele momento, tomei a decisão de conversar novamente com sua família. Precisava que eles entendessem o quanto ela significava para mim, o quanto ela havia transformado minha vida.

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