Desobediência consciente

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O despertador tocou às 6 da manhã, um som estridente que normalmente me faria apertar o soneca por mais meia hora, no mínimo. Mas nesse sábado, a agitação dentro de mim era maior que qualquer preguiça. Hoje era o dia da manifestação pelo Lago Paranoá, e eu, mesmo contra a vontade dos meus pais, estava disposta a participar.

Levantei com cuidado, tentando não fazer barulho para não acordar ninguém. Meus pais não sabiam da minha ida ao protesto, e eu sabia que ficariam furiosos se descobrissem. Eles achavam tudo isso "perigoso" e "sem sentido", e que eu deveria estar me concentrando nos estudos, não em ativismo ambiental. Mas eu não podia me calar. O Lago Paranoá, outrora um símbolo da beleza natural de Brasília, estava morrendo, sufocado pela poluição e pela negligência. E eu precisava fazer algo a respeito.

Vesti meu macacão de trabalho vermelho, uma pochete e meus coturno personalizados confortáveis. No cabelo, ostentava um dread feito na semana anterior pela minha cabeleireira amiga, um toque rebelde que combinava perfeitamente com o meu estado de espírito.

 No cabelo, ostentava um dread feito na semana anterior pela minha cabeleireira amiga, um toque rebelde que combinava perfeitamente com o meu estado de espírito

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Saí de casa com o coração batendo forte no peito. Era cedo, as ruas ainda estavam vazias, mas a cidade já dava sinais de que o dia seria diferente. Havia um clima de expectativa no ar, uma mistura de ansiedade e esperança.

Peguei ônibus até a estação Águas Claras, ponto de encontro para a manifestação. Ao chegar lá, me deparei com um mar de gente. Centenas de pessoas, de todas as idades e origens, se reuniram no parque ecológico, unidas por um mesmo objetivo: salvar o Lago Paranoá.

O clima era contagiante, uma mistura de alegria e determinação. Havia música, cartazes coloridos e palavras de ordem ecoando pelo ar. Me senti abraçada por aquela multidão, como se finalmente tivesse encontrado o meu lugar no mundo onde compreendiam meu amor pela natureza e pelos animais.

Depois de algumas horas de discursos, músicas e conscientização ambiental, um grupo de manifestantes mais radicalizados decidiu tomar uma atitude mais drástica. Eles bloquearam a avenida principal, impedindo a passagem de ônibus e carros. A polícia foi acionada e, em poucos minutos, o que era um protesto pacífico se transformou em um cenário de conflito.

Eu me vi no meio da confusão, sem saber o que fazer. Uma parte de mim queria recuar, ir para casa e me esconder. Mas outra parte, a parte que me levou até ali em primeiro lugar, me dizia que eu precisava ficar firme. Com essa indecisão, fico entre os manifestantes, que em ato não muito democrático e ecológico pegam pneus e papelão e colocam fogo. Na minha cabeça só vem a imagem do meu pai. Ele vai acabar com minha raça. Meus amigos de turma dispensaram no meio dessa galera, a melhor alternativa para mim e sair desse caos. Tento sair pela lateral, mas um manifestante me puxa, neste exato momento ele atearam fogo no ônibus. Escuto sirenes e carro de bombeiros chegando. Uma coisa que começou de forma muito consciente, estava terminando em vandalismo. Eu estou no meio disso tudo. Os policiais começam a atirar bala de borracha. Uma acertaram meu braço esquerdo. 

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