O dilema

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Rodolfo Dias

O raspar seco das minhas botas contra o piso encerado do corredor ecoava na quietude da noite. A cada passo, a expectativa aumentava, meu coração batendo descompassado no peito. Ao chegar à porta da sala do Coronel Quintino, respirei fundo e ergui a mão, batendo com firmeza.

- Entre, Rodolfo!, a voz grave do Coronel soou através da madeira maciça.

Com passos firmes e postura impecável, adentrei a sala, apresentando continência. O Coronel Quintino, sentado à sua imponente mesa de madeira, me recebeu com um sorriso acolhedor.

- Descansar. Rodolfo, sente-se, meu filho. Apontou para a cadeira à sua frente, sentindo-me honrado com a informalidade do convite.

Sem rodeios, o Coronel foi direto ao assunto.

- Tenho uma missão especial para você.Meu corpo se empertigou, a atenção redobrada. Fomos informados do programa inovador de treinamento de bombeiros militares em Boston, nos Estados Unidos, e o alto comando decidiu que você será nosso representante.

Uma onda de emoções me invadiu. Surpresa, orgulho, mas também apreensão. Meus desempenhos excepcionais nos últimos anos me colocaram em destaque, mas a ideia de um ano longe de casa, longe de Juliana, meu amor, apertava meu coração.

- Rodolfo, sei que essa é uma decisão difícil, o Coronel continuou, seus olhos perspicazes me sondando. Mas sua bravura, inteligência e liderança o tornam o candidato ideal para essa missão. Será uma oportunidade única de aprimorar suas habilidades e trazer novos conhecimentos para o nosso quartel.

As palavras do Coronel ecoavam em minha mente, pesando contra o vazio que a ausência de Juliana criaria em minha vida. Ela era meu porto seguro, minha inspiração, a mulher que me completava. A ideia de deixá-la por tanto tempo, mesmo sabendo que ela estaria em boas mãos com seus pais, me causava um sentimento de angústia.

- Mas senhor, hesitei, eu... tenho compromissos pessoais que dificultam essa missão.

O Coronel me encarou com compreensão.

- Sei que você tem uma relação próxima da sua família e que tem algo relacionado a senhorita que você beijou no dia workshop, ele disse, referindo-se Juliana. Não imaginava que ele sabia do beijo. Mas acredite, Rodolfo, essa experiência será transformadora para você. Você voltará um bombeiro ainda melhor, pronto para servir à nossa comunidade com ainda mais excelência.

Suas palavras mexeram com algo dentro de mim. A responsabilidade de representar o Corpo de Bombeiros de Brasília em um programa de tamanha importância era inegável. Era uma honra que poucos teriam a oportunidade de vivenciar.

- Senhor, respondi, finalmente encontrando as palavras, agradeço a confiança depositada em mim. Aceito a missão.

Um sorriso de satisfação se abriu no rosto do Coronel.

- Excelente decisão, Rodolfo! Tenho certeza de que você não se arrependerá. Terá 15 quinzes dias para organizar tudo referente a viagem, tome está escrito sobre as vacinas e todo os trâmites necessários para sua partida.

Saí da sala do Coronel com a mente em ebulição. A alegria por ter sido escolhido se misturava à tristeza de deixar Juliana para trás. O dilema me consumia: a oportunidade profissional dos meus sonhos ou desistir de lutar pelo amor de Juliana.

Caminhei pelas ruas do condomínio, perdido em pensamentos. A cada passo, a imagem de Juliana sorrindo para mim me acompanhava. Ela era meu tudo, minha amiga, minha protetora e meu único amor. Mas também sabia que essa missão era a chance de me tornar o bombeiro que sempre sonhei ser, dar orgulho ao meu avô.

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