O Término

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Frederico Santoro

Dois copos de uísque vazios me encaravam, como fantasmas da noite anterior. O silêncio do apartamento era ensurdecedor, quebrado apenas pelo meu soluçar abafado. O chalé, Juliana, tudo parecia girar em um turbilhão de culpa e desespero.

Eu, Frederico, um homem aparentemente normal, com um lado obscuro que se escondia nas sombras. Um lado que se alimentava da promiscuidade e da irresponsabilidade, como uma fera faminta. Tentei reprimi-lo, afogá-lo em promessas e juras de amor, mas ele sempre encontrava uma brecha para escapar. E naquela noite, no chalé, ele devorou tudo que eu havia construído com Juliana.

Liguei para ela, enviei mensagens, mas o silêncio era a única resposta. Todas as manhãs, me posicionava na porta do nosso prédio, como um animal em busca da presa que o abandonou. Mas Juliana não aparecia. O medo de perdê-la me consumia, como uma chama que se recusava a ser apagada.

O telefone tocou, meu coração disparou. Era ela? Com a alma em brasas, corri para atender, mas a voz do outro lado era fria e autoritária: meu pai. 

- Frederico, compareça ao clube Valete imediatamente,ele ordenou, sem dar espaço para contestações.

Mesmo sem vontade, obedeci. Pedi ao meu pai que enviasse o motorista, pois o uísque havia turvado meus sentidos. No trajeto, pensamentos obscuros me acompanhavam. O que meu pai queria?

Ao chegar na sala privada do clube, a opulência do local me causou náuseas. Meu pai, com seu ar arrogante e sorriso sádico, me recebeu. 

- Frederico, ele disse, com a voz carregada de malícia, quero ser iniciador de Juliana como valete neste clube. O sangue gelou em minhas veias. 

- O quê? gaguejei, incrédulo. Você quer que eu a... a... entregue a esses... monstros? Você. Meu pai riu, um som cruel que ecoou pela sala. 

- Sim, meu filho, ele disse, se aproximando. Eu quero que marque a data para possuir a inocente Jujuba. Ele dá gargalhada, batendo os dedos na mesa.

Um turbilhão de fúria se apoderou de mim. Como ele ousava falar de Juliana com tamanha desumanidade? Como ele podia pensar em algo tão monstruoso?

-Não! gritei, me levantando bruscamente. Nunca farei isso! Você não vai tocar na Juliana! Meu pai me encarou, seus olhos cheios de ódio.  

- Você não me desafia, filho? ele rosnou. Você se esqueceu de quem é o chefe aqui?

Eu não me importava mais. Juliana era tudo para mim, e eu a protegeria, mesmo que isso significasse enfrentar meu pai e todo o seu poder.

- Não vou permitir que você faça isso com ela, disse com firmeza. Se você ousar tocar na Juliana, eu…

A frase ficou suspensa no ar. Eu não sabia o que faria, mas estava disposto a tudo para protegê-la. Meu pai se aproximou, seus olhos me encarando com fúria. A tensão era palpável, o ar carregado de eletricidade. 

- A resposta é NÃO! Saio da sala, dou de cara com mordomo. Passo por ele. Observo o seu sorriso malicioso. Ao passar pela entrada do clube, os irmãos Duques me param.

- Que bom encontrar você, Frederico. Como pode deixar sua namorada trabalhar como repositora do hipermercado Mar Azul. Hoje deixamos nossa marca para ele. Eles caem na gargalhada. Com fúria agarro o pescoço de um deles.

- O que você está falando, seu maldito! Dou soco no nariz do outro irmão, onde o sangue desce.

- Da sua namorada trabalha no hipermercado novo, por favor me solta, Frederico. Solto seu pescoço.

Deixou a residência Santoro, peço motorista para ir até o hipermercado Mar Azul. Olho no relógio são 21:40 da noite. Chegou no lugar. Fico aguardando a saída. Se ela não está saindo de manhã, deve estar trabalhando a noite, deduzo com os últimos acontecimentos. Espero alguns minutos, assim, que os funcionários começam a deixar o lugar, imediatamente reconheço a figura da minha namorada, Juliana. Me aproximo e a chamo.

- Juliana. Ela me olha. Precisamos conversar. Pego no seu braço e saio puxando longe do grupo de funcionários.

- Fred, o que está fazendo aqui? Ela me olha. Paro em uma pequena praça, próximo do hipermercado.

- Você mentiu para mim, Juliana. Como pode envergonhar meu nome assim, trabalhar como repositora? Você não tem medo do que podem falar da sua família?

- Por que  deveria sentir vergonha? Meus pais sabem que estou trabalhando aqui, quero juntar o dinheiro para uma especialização na área de anfíbios e répteis, não quero conquistar com dinheiro deles, mas sim, como meus esforços. Qual o problema nisso.

- Seus pais sabem? Quem mais sabe disso, hein Juliana? Aperto seu braço com força.

- Está me machucando, me solta. Ela pisa no meu pé. Me afasto dela, soltando-a. Todos estão sabendo. Não contei porque sabia que reagiria dessa forma, pois se preocupa demais com reputação e status sociais. Decidi omitir que meu novo emprego era de repositora para não brigarmos, mas não resolveu muito. Ela me encara.

- A santa e puritana Juliana mentindo, você me envergonha. A partir de amanhã você vai trabalhar na minha empresa, não quero minha namorada trabalhando como repositora. Vou te levar para casa. Ao me aproximar, vejo que ela está chorando.

- Não precisa, não vou envergonhá-lo mais, a partir de agora não temos mais nada um com outro. Eu tentei compreender você e acreditei que nosso amor poderia te mudar, mas infelizmente ninguém muda ninguém. Eu me apaixonei por você, mas esse problemas você precisa resolver consigo mesmo, não dá mais para ajudá-lo.

- Você está terminando comigo? Estou surpreso com a fala dela. Ela está firmemente me olhando.

- Sim. Eu estou terminando nosso namoro. Não precisa se envergonhar mais de mim.  Ela sai caminhando em direção o ponto de ônibus. 

- Beleza. Eu não vou correr atrás de você, Juliana. Grito, mas ela não responde. Simplesmente some dos meus olhos  

Entro no carro, peço ao motorista para voltar a clube. Ao entrar vou em direção a minha irmã e digo.

- Arruma uma valete, porque hoje quero fuder bastante. Minha irmã estranha. Meus pais observam com um sorriso malicioso. Ela sussurra no meu ouvido.

- Você tem certeza? E sua namorada? Olhos no seus olhos e respondo.

- Não existe nenhuma namorada, ela que se exploda. Estou ordenando, quero duas bem gostosinha. Estou esperando. Vou até uma das salas. O mordomo serve um estimulante sexual. Tiro a roupa, ficando apenas de cueca. Ao entrar duas mulheres lindíssimas estão prontas. As lágrimas brotam nos meus. Eu ordeno: 

- Fica de quatro, vagabunda. Agarro seus cabelos. Obedece ao seu rei, sua maldita valete. 

E assim que sou, é assim que pretendo ser. Dono te tudo e de todos. Desconto toda minha frustração na relação promíscua que estou vivenciando com aquelas mulheres, mas não tira a dor de ter perdido a única pessoa que demonstrou amor por mim, além da minha avó.  Estraguei tudo com minha toxicidade.

Jujuba e suas aventuras Onde histórias criam vida. Descubra agora