Recomeçar, sem você!

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Quinta-feira. Um dia que começou agitado e terminou ainda mais. Depois de resolver toda a burocracia da minha exoneração do Corpo de Bombeiros, senti um misto de alívio e apreensão. Era o fim de um capítulo importante da minha vida, mas também o início de um novo e incerto caminho.

Para celebrar - ou lamentar, dependendo da perspectiva - essa mudança, convidei meu amigo Otávio para tomar umas cervejas no nosso bar preferido, o Boteco Lago Sul. Chegando lá, encontrei-o no nosso lugar de sempre, ao lado do balcão, com um balde cheio de gelo e cervejas geladas.

- E aí, Rodolfo, essa aí é pra comemorar ou pra afogar as mágoas?, perguntou ele, com um sorriso no rosto.

- Um pouco dos dois, meu camarada, respondi, sentando-me ao seu lado. Hoje me despedi da vida de bombeiro. Deixei a farda no armário e o distintivo na mesa do chefe. Otávio arregalou os olhos, surpreso com a notícia.

- Mas... por quê? Você amava e era um bombeiro excelente! Adorava o que fazia.

- Sim, eu amava ser bombeiro, confessei. Mas as coisas mudam, Otávio. As pessoas mudam. E eu também mudei. Antes era leve, nos últimos tempos tornou-se um peso.

Expliquei para ele como me sentia estagnado nos últimos tempos, sem os mesmos desafios e motivações de antes. A rotina repetitiva e a falta de respeito com as minhas decisões me desanimaram. Além disso, a vontade de perseguir novos sonhos era cada vez mais forte.

Otávio me ouviu com atenção, sem interromper. Quando terminei de falar, ele deu um gole na cerveja e me encarou com um olhar compreensivo.

- Cara, eu sei que não é fácil tomar uma decisão dessas. Mas se você está pensando assim, é porque algo dentro de você está te chamando para outro lugar. E eu te apoio totalmente. O problema é a jibóia do deserto, você conhece ela.

- Ela já está sentindo culpada por tudo que está acontecendo comigo, mas carregava o peso de ser como meu avô, não queria ter a responsabilidade de trilhar os mesmos passos, então perceber que pessoas usam do poder para manipular as coisas e pessoas. Aquele lugar não me cabe mais. Leve levanta a cerveja e brindamos.

- Espero um dia encontrar um amor assim. Que me faz querer recomeçar. Ele apoia o braço no balcão de madeira. Coloco a mão nos ombros dele.

- Com certeza, se você abrir o coração e deixar a vida te surpreender, tenho certeza que logo esse coração vai ter dona. Ele sorri.

- Está falando igualzinho a Juliana. Chega de conversa. Estou contigo, meu camarada.

Suas palavras me aqueceram o coração. Saber que tinha o apoio de um amigo como Otávio me dava força para seguir em frente.

Passamos o resto da noite conversando sobre o passado, o presente e o futuro. Brindamos à minha nova jornada, ainda incerta, mas cheia de possibilidades. E, enquanto a noite avançava e as cervejas fluíam, eu sentia uma mistura de medo e esperança tomando conta de mim. Estava deixando para trás tudo que eu conhecia, mas também abrindo as portas para um mundo de oportunidades. A vida estava prestes a me levar para um novo caminho, e eu estava pronto para o que ela viesse. Depois do táxi me deixar em casa, fico lembrando da minha princesa.

Ao entrar, Megan está no sofá assistindo televisão sozinha. Cumprimento com boa noite e subo as escadas com pouco de dificuldade. Ao entrar, não tranco a porta. Tomo uma chuveirada de água fria. Me enrolo na toalha, ao sair do banheiro, vejo Megan em pé no quarto.

- Você é um pé no saco, sabia! Ela me abraça.

- Somente uma chance, Dias! Ela tenta puxar minha toalha, mas eu a empurro, ela cai de costas na cama. Saio, entro no quarto da minha irmã.

- Mi, vou dormir aqui. Aquela louca, está querendo tirar minha toalha. Michele acorda, acabo caindo no tapete veludo, apago.

Acordo no chão envolvido por um edredom, me levanto, não vejo Michele. Então, vou para quarto, faço higiene matinal e me arrumo, pois preciso procurar emprego como advogado. Visto calça social e camisa. Estou pronto para começar minha nova jornada. Ao descer percebo que meus pais não estão, somente Michele está comendo.

- Onde está todo mundo? Pergunto se estou servindo café.

- Você não se lembra, né. Ela começa a rir.

- Do quê? Por falar nisso, a tenente não pode mais ficar aqui em casa, esquece a porta destrancada, ela tentou tirar minha toalha. Michele para de comer.

- Você é muito gentil, mas eu não! Depois que você entrou no meu quarto, fui até o seu, ela estava nua na sua cama, achou que era você, então dei o que ela merecia: uma surra.

- O que você fez? Estou assustado.

- Dei na cara dela, uma mulher oferecida. Ela teve sorte que papai acordou e me tirou de cima dela. Foi ótimo bater nela nua, ficou marca no corpo todo. Queria um chicote. Ela bate a mão na mesa.

- Papai viu ela pelada? Pergunto imaginando a cena.

- Tinha como não ver? Mas mamãe chegou e empurrou nos dois para fora do quarto. Ela vestiu um blusa sua. Depois D. Lilian me deu um sermão e foi dormir no quarto de hóspedes com ela. Agora de manhã, nossos pais foram levá-la até a casa do Coronel. Me agradeça depois, estou atrasada. Beijinhos, te amo maninho.

- Muito obrigado, você me livrou de uma. Eu pago a pipoca do cinema de casal. Ela voltou e disse.

- Dos próximos 20 anos, porque se minha cunhada sonhar que Megan tentou tirar sua toalha, você é um morto. Você e minha mãe são muito gentis.

- Eu te amo, chatinha. Escuto a porta se fechando.

Fico agradecido por ter uma irmã resolvida e briguenta. Ela fez o que deveria ter feito a muito tempo. Tomo meu café relaxadamente.

...

- Bom dia, gostaria de falar com advogado Fontes.

- Só um minuto, por gentileza. Depois de alguns minutos, a secretária pede para entrar.

- Que devo a honra de receber meu cunhado aqui no escritório. Ele me abraça. Ele me conduz até um sofá no escritório.

- Estou aqui para pedir um emprego? Me sento, ele parece não acreditar.

- Sério? Ele abre o terno e se acomoda no outro lado do sofá.

- Sim, deixei o corpo de bombeiro. Quero começar de baixo. Tenho a carteira da OAB, mas quero iniciar debaixo.

- Lógico que sei da carteira, Juliana fez questão de dizer que passou de primeira, ela não me deu sossego. Com certeza tem lugar para você, mas não será fácil, vai começar como assistente jurídico do Theodoro que está refazendo sua equipe, está disposto a começar agora?

- Estou pronto, Henrique. Ele sorri.

- Vem comigo, vou apresentar ao restante do pessoal.

No início da minha nova jornada começava, sem minha Jujuba por perto, assim me dava mais segurança da minha decisão. E a primeira vez que ela não está presente em uma decisão tão importante, mas logo estaríamos juntos. Ela chega daqui dois dias, estou ansioso.

Jujuba e suas aventuras Onde histórias criam vida. Descubra agora