Luana Santoro
A melodia insistente do despertador me tirou do sono agitado da tarde. Era dia de trabalho no Valete, o clube que eu administrava com meus pais. Levantei-me com a mente ainda turva pelos pesadelos da noite anterior e me dirigi à porta do apartamento, pronta para enfrentar mais um dia de fingimentos e sorrisos forçados.
Ao abrir a porta, deparei-me com uma cena que me gelou o sangue: Frederico, meu irmão mais velho, estava encostado na parede, o rosto banhado em lágrimas. Jamais o virará tão abatido em toda a minha vida.
- Frederico, o que aconteceu?perguntei, meu coração batendo descompassado.
- Ela me deixou, Luana, ele soluçou, a voz embargada pela dor. Juliana me deixou.
Sem pensar duas vezes, o puxei para dentro do apartamento. Ele cambaleou, quase caindo no chão. O levei até a sala e o ajudei a sentar no sofá.
- Beba um pouco de água, sugeri, estendendo-lhe um copo.
Mas ele recusou, optando por servir de um generoso gole de uísque da garrafa que ficava sempre à mão na mesa de centro.
As lágrimas continuavam a escorrer pelo seu rosto, me sento ao seu lado, sem saber o que dizer. A dor dele era palpável, me sentia impotente para confortá-lo.
- Eu nunca amei ninguém, como amo Juliana, ele confessou, a voz rouca pelo choro. E agora a perdi para sempre.
Suas palavras me tocaram profundamente. Eu sabia exatamente como ele se sentia. Anos atrás, eu também havia passado pela mesma dor ao perder Henrique Fontes, o homem que eu amo.
- Eu sei como você se sente, Frederico, disse com a voz embargada. Eu também perdi o amor da minha vida. Ele me olhou, seus olhos cheios de surpresa.
- Me esqueço que você também ama um Fontes.
- Sim, confirmei. Henrique Fontes. Nunca superei perdê-lo.
Frederico ficou em silêncio por alguns instantes, como se assimilando a informação.
- Eu nunca imaginei que você sofresse por um homem, ele disse finalmente.
- Na realidade, guardo essa dor dentro de mim, respondi. Ninguém sabe. Eu nunca contei para ninguém.
E enquanto a garrafa de uísque ia sendo esvaziada, compartilhamos nossas histórias de amor e perda. Falamos da dor do término, da culpa por não termos sido corajosos o suficiente para lutar pelo que queríamos.
- Nosso destino é amar um Fontes, que no amou, mas não demos valor. Digo bebendo um gole de vodka gelada.
-Juliana disse que deveria buscar ajuda, que ela tentou, mas não consegue mais ficar ao meu lado. Você conseguiu esquecê-lo? Ele me encara em busca de conselhos.
- Não. Eu ainda o amo, todos os dias vou até o escritório dele para observá-lo de longe. Às vezes o vejo no shopping com a esposa ficando imaginando que poderia ser minha vida, mas infelizmente não é. Me contento em olhar de longe, vendo como ele é feliz! Ficamos em silêncio.
Naquela noite, no meio das lágrimas e do álcool, Frederico e eu finalmente nos conectamos de uma forma que nunca havíamos conseguido antes. Percebemos que, apesar das diferenças, éramos duas almas solitárias que buscavam um amor que talvez nunca mais encontrássemos.
Ao amanhecer, quando nos despedimos, um novo sentimento pairava no ar: a esperança de que, juntos, poderíamos enfrentar a dor da perda.
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Jujuba e suas aventuras
RomanceEla é alegre, doce, gentil. Ela é uma bióloga que ama os animais e a natureza, em especial os anfíbios pavor do seu pai Delegado federal Fernando Fontes. Será que Jujuba vai se dar bem na Matéria do amor? Será que ainda vai continuar assustando seu...