O silêncio do quartel

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Rodolfo Dias

Seis meses. Seis longos meses desde a última vez que vi Juliana. Seus olhos cor de púrpura, que antes brilhavam com tanta vivacidade, agora só existiam em minhas lembranças. A casa, antes tão aconchegante com sua presença, agora parecia vazia e silenciosa.

Sentei-me entre os caminhões do quartel, no mesmo lugar onde  confessou seus sentimentos. As palavras ainda ecoavam em minha mente: "Rodolfo, eu gosto de você". Naquele momento, meu coração se partiu em dois. Nunca quis ferir Juliana, com sua alma doce e alegre. Ela sempre esteve ao meu lado, desde a infância, nos momentos bons e ruins.

Um aperto no peito me dominou enquanto observava a foto dela em meu celular. Seu sorriso radiante me fez lembrar de todas as vezes que me fez rir. As aventuras que vivemos juntos, as conversas intermináveis, os segredos que compartilhamos. Tudo isso parecia tão distante agora.

Cassiano, meu amigo, colega de trabalho e cunhado, se aproximou, quebrando o silêncio.

- Ei, Rodolfo, o que há de errado?,perguntou, com a preocupação estampada em seu rosto.

Hesitei por um momento, ponderando se deveria confessar meus sentimentos. Mas a verdade era que precisava desabafar com alguém.

-É a Juliana, disse, a voz embargada pela emoção. Sinto muita falta dela, das nossas conversas, do seu sorriso, de tudo.

Cassiano se sentou ao meu lado e me deu um tapinha no ombro. 

- Eu sei, cara. Ela é uma pessoa incrível. Todos nós sentimos falta dela aqui no quartel.

- Mas..., continuei, acho que é mais do que apenas amizade. Me preocupo com ela, Cassiano. Quero que ela seja feliz.

Cassiano me encarou com um olhar compreensivo. 

- Então por que você não está com ela?, perguntou.

As palavras de Cassiano me atingiram como um soco no estômago. Nunca havia pensado nisso antes. Será que realmente amava Juliana? Será que era capaz de fazê-la feliz?

- Eu não sei, respondi, confuso. Tenho medo de me machucar e machuca-la. E se não for o que ela realmente quer?

Cassiano ficou em silêncio por alguns instantes, ponderando suas palavras.

- Rodolfo, a única maneira de saber o que quer, e conversando com ela, disse finalmente. Diga a como você se sente. Seja honesto consigo mesmo e com Juliana.

As palavras de Cassiano me fizeram pensar. Será que estava pronto para arriscar tudo? Será que era capaz de enfrentar meus medos e confessar meus sentimentos?

No fundo do meu coração, sabia a resposta. Precisava falar com Juliana. Tinha dizer como me sentia, mesmo que isso significasse correr o risco de me machucar.

Levantei-me, com a determinação estampada em meu rosto. 

- Obrigado, Cassiano, disse. Sei o que tenho que fazer.

Saí do quartel com o coração batendo forte no peito. Não sabia o que o futuro reservava, mas sabia que precisava encontrar Juliana. Precisava dizer a verdade. Ela tinha retornado do Pantanal, não me procurou, mas neste horário tinha certeza que estava na faculdade. Depois do crime envolvendo uma universitária, escutei meu pai comentando que tio Fernando está paranóico com fato de Juliana trabalhar para professor a noite sozinha no laboratório. Estou no ônibus em direção a universidade.

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