A saudade

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O suor escorria pela minha testa enquanto observava Elizangela e Thiago, meus parceiros de trio, ajustarem os coletes à prova de balas. A adrenalina bombeava em minhas veias, e meu coração batia descompassado no peito. Era o dia da aula de abordagem, a mais temida e desafiadora do treinamento da Academia Nacional de Polícia.

De repente, uma lembrança da minha infância invadiu minha mente. Era apenas uma criança quando meus pais organizaram uma brincadeira semelhante em casa. Eles se fingiam de terroristas e nós, seus filhos, de reféns. A missão era libertá-los e neutralizar os bandidos. Lembro-me da sensação de medo e emoção que senti naquele dia, e como me senti realizada ao completar a missão com sucesso.

Voltei à realidade e me concentrei no plano que havíamos traçado com Elizangela e Thiago. Dividimos as tarefas: eu ficaria responsável pela entrada e pelo reconhecimento do terreno, Elizangela cuidaria dos reféns e Thiago daria cobertura. Digo antes de começar.

- Lembre-se, observe os detalhes. O que parece, nem sempre pode ser.

- Estou suando frio. Thiago passa as mãos nas calças.

- Todos estamos assim, mas precisamos salvar os reféns. Digo.

O professor deu o sinal e a porta se abriu. Entramos no esconderijo com cautela, armas em punho. O local estava escuro e empoeirado, com caixas empilhadas e móveis quebrados. Meus olhos se acostumaram à escuridão e logo identifiquei os bonecos que representavam os terroristas.

Seguindo o plano, neutralizamos um a um, enquanto Elizangela libertava os reféns. Thiago, em posição estratégica, nos protegia e nos dava cobertura, mas chegamos em cômodo cheios de bonecos, no qual visualmente não era capaz de identificar quais eram os criminosos. Thiago já ia executar uma ação errada, mas observei uma tatuagem no pescoço fazendo menção a grupo terrorista. Foi exibido em uma das aulas teóricas.

Atiro para imobilizar o indivíduo, quando vejo outro boneco com a arma escondido na cintura. Atirei nas pernas. Elizangela termina de mobilizá-lo. A operação foi rápida e eficiente, concluída em apenas um minuto e trinta segundos.

Com a missão cumprida, aguardamos ansiosamente o feedback do professor. A tensão era palpável, mas a sensação de dever cumprido era inebriante. Sabíamos que havíamos dado o nosso melhor e que estávamos prontos para enfrentar qualquer desafio que a vida policial nos reservasse. O professor finalmente chegou à nossa equipe. Ele me indagou porque atirei justamente naqueles bonecos.

- Senhor, o primeiro tinha parte de uma tatuagem visível no pescoço,o desenho era de símbolo de grupo terrorista e outro tinha arma no cós da calça. Reage diante dessa situação.

- Sim, como sabia do símbolo? Indagou-me novamente. Ele sorri.

- Foi um dos conteúdos trabalhos na aula sobre terrorismo. Responde convicta da minha resposta.

Ele nos parabenizou pelo desempenho exemplar. Elogiou nossa comunicação, trabalho em equipe e estratégia. Senti um enorme orgulho de mim e dos meus companheiros. Sabíamos que havíamos superado mais um obstáculo em nossa jornada para nos tornarmos policiais de elite. Professor finalizou com comentário pertinente.

- Não é sobre força, mas sim, inteligência emocional e perceber os pequenos detalhes. O último grupo viu o que os demais não viram. Vamos em frente. Próximo aula abordagem na rua. Dispensados. Maurício se aproximou, destilando seu veneno habitual.

- A gorda é inteligente, pena que não está indo bem no treinamento físico. Se diminuísse a gordura, quem sabe. Ele começa a rir.

- Cala boca, seu idiota. Thiago fala.

- Você tem razão, mas gordura tem como eliminar, mas “burrice” somente nascendo de novo, jumento. Digo encarando o sujeito frente a frente.

- Gostou? Realmente sou muito lindo! Começo a rir.

Jujuba e suas aventuras Onde histórias criam vida. Descubra agora