Minha despedida

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O sol se despedia do dia, lançando longas sombras pelas ruas enquanto eu dirigia em direção à casa de Rodolfo. Era sexta-feira, a última antes do casamento da minha irmã mais velha, Laura, e meu coração se dividia entre a alegria por ela e a tristeza por ter que me despedir de Rodolfo. Ele partiria para os Estados Unidos no domingo de manhã, em busca de realizar seus sonhos como bombeiro.

Enquanto me dirigia para sua casa, pelas ruas do condomínio, meus pensamentos se voltavam para o presente que eu havia comprado para ele. Um colar de aço com uma pequena placa gravando as datas de nossos nascimentos e do dia em que nos conhecemos. Um símbolo da nossa amizade, da nossa cumplicidade, do amor que nutrimos um pelo outro.

Rodolfo era mais do que um amigo, era um confidente, um porto seguro em meio às tempestades da vida. Ele sempre esteve ao meu lado, nos momentos felizes e tristes, me apoiando e me encorajando. Sabia que ele ocupava um lugar especial no meu coração, um lugar permanente que nem o tempo ou a distância poderiam apagar.

Mas, naquele dia, meu coração também estava dividido por outro sentimento. Frederico, meu namorado, havia dominado meu coração e minha mente, ele também tinha lugar aqui no peito, literalmente.

Chegando à casa de tia Lilian e tio Victor, fui recebida com um abraço caloroso da minha tia. Ela me disse que Rodolfo estava no quarto e me guiou até lá. No caminho, encontrei Michele, que estava indo para a faculdade. Ela me perguntou sobre o namorado, e eu respondi que estávamos bem. Mas, em seu olhar, percebi um brilho de malícia.

- Rodolfo está morrendo de ciúmes, ela disse com um sorriso malicioso.

Me despedi de Michele e bate na porta, ele autorizou a entrada. Entrei no quarto do meu melhor amigo. Ele estava vestindo uma calça de moletom e uma blusa de algodão branca, seus cabelos castanhos despenteados emolduravam um rosto que sempre me transmitia tranquilidade. Ao me ver, ele abriu um sorriso largo e me abraçou com força.

- Bom dia, Jujuba!, ele disse com sua voz rouca e aconchegante.

- Bom dia, Rod, respondi, sentindo meu coração bater descompassado.

Sentei-me na cama ao lado dele e ele me perguntou sobre minhas expectativas para o casamento de Laura. A mesma de todos os dias, respondi, tentando disfarçar a agitação que me dominava.

Conversamos sobre diversos assuntos, desde os preparativos para o casamento até nossos planos para o futuro. Contei para ele sobre meu novo emprego como repositora no hipermercado e sobre a entrevista que eu havia feito no cursinho. Ele ficou revoltado com a forma como eu havia sido tratada na entrevista e quis ir até lá para me defender. Tive que acalmá-lo, explicando que não tinha provas do que havia acontecido e que não valia a pena se expor.

Ele se levantou e começou a andar de um lado para o outro pelo quarto, como sempre fazia quando estava nervoso ou irritado.

- Eu não consigo entender como alguém pode te tratar mal, ele disse, com a voz tensa. Você é a pessoa mais incrível que eu conheço.

Ele se sentou ao meu lado e eu entreguei a ele o presente. Ele o segurou com surpresa, seus olhos arregalados de emoção.

-Jujuba, isso é incrível!, ele disse, olhando para o colar com admiração.

- Eu nunca duvidei da sua capacidade para ser o melhor bombeiro do mundo. Você é uma das pessoas que tem um lugar permanente no meu coração, e nunca sairá daqui.

Ele me abraçou com força e, por um momento, senti como se o mundo ao nosso redor desaparecesse. Eu poderia ficar ali para sempre, nos seus braços, me sentindo segura e amada.

Mas, quando ele se aproximou para me beijar, eu me afastei. Não podia trair Frederico, não podia machucá-lo da mesma forma que ele me machucou ao confessar seu amor por outra pessoa.

- Rodolfo, eu te amo, eu disse, com a voz embargada pela emoção. Mas eu também amo o Frederico. E eu não posso te dar o que você merece. Ele ficou nervoso, seus olhos marejados de lágrimas.

- Mas eu deveria ser seu namorado, Jujuba, ele disse com a voz embargada. Não aquele mauricinho.

- Não fale assim dele, Rodolfo, eu disse, irritada com seu tom de desprezo. Ele é uma pessoa maravilhosa, que gosta de mim e me faz feliz.

- Eu também posso te fazer feliz, ele diz irritado com minha recusa. Caminho em direção a porta e digo.

- Eu lhe dei várias chances, mas você sempre me afastou, então agora estou com alguém que não teve medo de assumir que gosta de mim.

Uma discussão acalorada se iniciou, e saímos do quarto com ele me seguindo e dizendo que me amava, que eu era teimosa e cabeça dura.

- Não, respondi com firmeza. Eu me apaixonei pelo Fred. Ele me viu como eu sou e não teve medo de me amar.

Descemos as escadas, ainda discutindo, para a sala, onde meus tios tentavam apaziguar a situação. Rodolfo, com a voz tensa, disse que eu estava com Frederico apenas por teimosia.

- Não!, rebati. Eu me apaixonei por ele, mesmo amando você. Agora quero estar totalmente com ele. Você nunca me valorizou, sempre fugiu de mim. Um olhar de surpresa cruzou o rosto de Rodolfo.

- Sempre percebi o seu amor por mim, Rodolfo, continuei. Mas todas as vezes que me aproximava, você me afastava. Me declarei e você me rejeitou. Só quando alguém mostrou interesse por mim, algo despertou em você, tenha santa paciência! Eu tentei com todas as minhas forças, mas você deu de presente para ele. Então, não fale dessa maneira comigo. Eu gosto do Frederico e vou ficar com ele. Boa viagem, Rodolfo.

Saí da casa dele com o coração pesado, mas com a mente mais clara. Havia tomado a decisão de seguir meu coração, mesmo que isso significasse abrir mão da amizade com Rodolfo. A vida é feita de escolhas, ele fez as escolhas dele com relação a nós. Agora meu coração, minha mente e meu corpo desejam Frederico Santoro.

Jujuba e suas aventuras Onde histórias criam vida. Descubra agora