Rodolfo Dias
O aroma do café fresco invadindo minhas narinas era o único sinal de vida na minha casa. O sol tímido da manhã se esgueirava pelas frestas das cortinas, anunciando um domingo que prometia ser tão monótono quanto a minha própria vida. A TV ligada era um mero zumbido de fundo, incapaz de abafar a tempestade de pensamentos que se agitavam em minha mente.
Sentei-me à mesa, o peso da frustração me curvando como uma marionete sem cordas. A notícia que Juliana havia me dado na noite anterior, em meio ao burburinho da festa de bodas de prata dos pais dela, ainda ecoava em meus ouvidos como um sino fúnebre. Cinco meses. Cento e cinquenta dias de silêncio, de ausência, de um vazio que me consumia por dentro.
- Minha irmã Michele, sempre perspicaz, notou a nuvem escura que pairava sobre mim.
- O que há de errado, Rodolfo?, perguntou ela, seus olhos castanhos carregados de preocupação. Você parece um leão abandonado. Soltei um suspiro profundo, abrindo e fechando os punhos com força.
- Juliana, respondi com a voz carregada de ressentimento. Ela decidiu que precisa ficar totalmente no curso de cadete, sendo assim, cinco meses, Michele. Cinco meses sem me ver, sem me falar, sem... sem nada.
As palavras se engasgaram na minha garganta, substituídas por um nó de raiva e impotência. Como ela podia tomar uma decisão tão drástica sem nem mesmo me consultar?
Michele me observando do seu lugar na mesa, sorriu com sacarmos.- Deixa de frouxo, Rodolfo!, disse ela com voz irritada. Você sabe melhor que todos, o quanto Juliana precisa estar focada, para conseguir o objetivo dela, você com crise existencial? Me poupe.
- Não é nada disso. Eu quero vê-la durante esse tempo. É pedir demais? Encaro minha irmã.
- Lógico! Você precisa compreendê-la, e não ficar choramingando pelos cantos. Deixa de ser bobo. Diante disso, você quer terminar com ela? Quer perdê-la por causa de cinco meses? Se fosse cinco anos, poderia acertar sua frustração. Pense bem!
Levantei-me da mesa em silêncio, incapaz de suportar o clima pesado que se instalava em casa. Precisava de ar fresco, de espaço para meus pensamentos turbulentos. Sai sem dizer uma palavra, deixando Michele com um olhar preocupado nos olhos.
Enquanto caminhava pelas ruas vazias do condomínio da manhã de domingo, avisto a imagem de Juliana vindo em direção a mim. Com seu sorriso radiante, seus olhos brilhantes, sua voz melodiosa e com uma vasilha nas mãos.
- Bom dia, minha tartaruga! Trouxe bolo de ontem, está uma delícia. Ainda com raiva? Pego a vasilha.
- Muito obrigado. Faço o caminho de volta. Sinto o seu toque.
- Você quer terminar? Me viro e olho nos seus olhos.
- Não. Só preciso de um tempo para assimilar a sua decisão. Ela se entristece.
- Tudo bem. Vou voltar para casa. Aproveite o bolo. Meu coração ficou confuso, queria ir atrás dela, mas resolvo voltar para casa.
Passo o dia trancado no meu quarto. Imaginar cinco meses longe de Juliana, me deixa frustrado e angustiado. Sei que estou sendo infantil, mas desejo estar presente em cada detalhe da vida dela. De fato, ela facilmente se dispersa sobre muita pressão, mas não quero ficar sem ver ou falar com minha Jujuba.
O celular vibra na cômoda, pego o celular e vejo mensagem de Otávio chamando para tomar uma cerveja no bar de costume. Tomo um banho e me arrumo, saio do quarto dou de cara com encrenqueira da minha irmã.
- Resolveu sair do casulo, borboleta. Ela caminha pelo corredor com seu pijama.
- Não me enche, Michele. Vai te... quando ia falar um palavrão, meu pai me olha.
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Jujuba e suas aventuras
RomanceEla é alegre, doce, gentil. Ela é uma bióloga que ama os animais e a natureza, em especial os anfíbios pavor do seu pai Delegado federal Fernando Fontes. Será que Jujuba vai se dar bem na Matéria do amor? Será que ainda vai continuar assustando seu...