Primeira lição

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A blusa preta com escrita POLÍCIA FEDERAL, o distintivo reluzente no peito, a arma no coldre, a calça jeans e as botas pretas. Me olhei no espelho e sorri. Finalmente, eu era uma agente da Polícia Federal. A sensação era indescritível. A adrenalina pulsava em minhas veias e a ansiedade me consumia.

A cerimônia de apresentação foi emocionante. Vi meu pai, o delegado Fernando Fontes, entre os demais federais, sorrindo com orgulho. Ao me apresentar, o superintendente, para surpresa de todos, me chamou de Agente Lopes. Havia decidido não adotar o sobrenome do meu pai, mas sim, o de minha mãe. Era uma forma de homenagear a família que não conhece, mas homenagear o sobrenome dela comigo nessa nova jornada.

A reação do meu pai foi inesperada. Visualmente abalado, se retirou da sala. Senti um aperto no peito. Nunca havia visto meu pai daquela forma. Esperei alguns minutos e fui até sua sala. Ele estava sentado à frente do computador, concentrado em algum documento. Ao me ver, desviou o olhar.

- Pai..., comecei, mas me interrompeu com um gesto brusco. 

- O que deseja, Agente Lopes? A frieza em sua voz me chocou. Era a primeira vez que me tratava daquele jeito.

- Pai, só queria te explicar..., tentei novamente, mas me cortou. 

- Explicar o quê? Que decidiu sobre sua vida? Que prefere o sobrenome Lopes? Sua mãe vai ficar muito feliz em saber. Pode dar licença, Agente Lopes.

A dor em seu olhar era evidente. Expliquei que a minha decisão não era uma afronta, mas sim uma homenagem. Eu o amava e o respeitava, mas também sentia a necessidade de honrar a memória dos familiares da minha mãe.

- Você está fazendo isso por birra, papai . Acha que me impressiona com essa atitude? Eu sou filha e você meu papai urso.

- Eu não sou nada para você! Sua mãe que tudo para ti, sua ingrata. Aqui sou o delegado Fontes. 

As palavras dele me atingiu profundamente. Nunca imaginei que uma simples decisão pudesse gerar tanta discórdia entre nós. Senti lágrimas nos olhos, mas me mantive firme.

- Papai, eu te amo. Mas essa decisão é minha e não vou mudá-la. Só queria que você entendesse.

Ele não respondeu. Apenas voltou a se concentrar no computador. Saí da sala com o coração pesado. Não esperava essa reação do meu pai. Havia pensado que me apoiaria em todas as minhas decisões, mas me enganei.

....

Uma semana se passou desde a nossa discussão e o silêncio entre meu pai e eu era ensurdecedor. A cada dia que passava, a angústia aumentava. Eu o amava e queria que tudo voltasse a ser como antes, mas meu orgulho me impedia de dar o primeiro passo.

Hoje, estávamos juntos no plantão. A tensão no ar era palpável. Enquanto descíamos para tomar café, minha mãe, Olivia, nos observava com uma expressão preocupada.

- O que está acontecendo com vocês? Estão mais quietos que um cemitério, quebrou o silêncio. Meu pai desviou o olhar e respondeu:

- Pergunte para ela. Continuou tomando café. Minha mãe retruca.

- É por causa do sobrenome, não é?, minha mãe direcionou o olhar para mim. Respirei fundo e respondi, com um tom de irritação: 

- Sim, mãe. Está chateado porque escolhi o sobrenome Lopes. Meu pai negou com a cabeça. 

- Não é só isso, Juliana. O que me incomoda é achar que pode tomar todas as decisões da sua vida sozinha, sem me consultar. Eu sou seu pai e tenho o direito de opinar.

A discussão se acalorou. Trocamos acusações e palavras duras. Meu pai se levantou e se despediu da minha mãe, dizendo que precisava sair para uma diligência. Sem me olhar, saiu da delegacia. Minha mãe se aproximou de mim e colocou a mão no meu ombro.

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