"Eu não acreditaria se alguém me dissesse que sentiria falta de lavar a louça da casa."
A frase ecoou em minha mente enquanto encarava a bancada da cozinha da pensão. Três meses longe de casa, do meu namorado e da rotina familiar, imersa em um mundo completamente novo. A rotina da academia da Polícia Federal era intensa, exigente, mas acima de tudo, recompensadora.
A cada dia que passava, mais me sentia no meu lugar. As aulas teóricas me absorviam, e as práticas me desafiavam. Minha habilidade de observação e raciocínio lógico, sempre elogiadas por meus professores, eram putas à prova a cada simulação. Aquele era o meu campo de batalha, e estava determinada a sair vitoriosa.
Mas a vida não é feita apenas de vitórias. A parte física do treinamento era o meu calcanhar de Aquiles. Enquanto brilhava nas atividades intelectuais, meu corpo parecia não acompanhar o ritmo. As corridas intermináveis e os exercícios de força me deixavam exausta. A frustração me corroía por dentro, mas eu sabia que não podia desistir.
"Se quer algo, lute por isso." As palavras do meu pai ecoaram em minha mente, me impulsionando a seguir em frente. Nos horários livres, me dedicava à musculação e à corrida, buscando aprimorar minha resistência e força física. A cada conquista, por menor que fosse, a sensação de vitória me impulsionava a ir mais além.
A saudade da família e do meu namorado era constante, mas me contentava com vídeos e fotos salvam no notebook, fazia sentir meu coração mais leve. Eles eram minha base, minha força. Sabia que me apoiavam em tudo o que fazia, e isso me dava a certeza de que estava no caminho certo.
Com o passar dos dias, a disciplina se tornou parte de mim. A rotina intensa, os desafios, a saudade, tudo isso moldava a mulher que estava me tornando. Eu sabia que o caminho seria longo e árduo, mas eu estava pronta para enfrentá-lo. Afinal, a Polícia Federal não era apenas um sonho, era a minha missão.
O domingo amanheceu ensolarado e promissor. A grama do campo de treinamento, ainda úmida do orvalho da madrugada, convidava para uma corrida. Inspirei fundo e comecei a me movimentar, a cada passo, a sensação de bem-estar me envolvia. A atividade física era meu refúgio, meu momento de paz em meio à rotina intensa da academia.
Após duas horas de treino exaustivo, me deitei sobre a grama, sob a sombra daquela velha árvore que testemunhava tantos momentos de suor e superação. A brisa suave acariciava meu rosto, enquanto meus pensamentos vagavam livremente. A imagem de Rodolfo, surgiu em minha mente. Levei a mão ao pescoço e afaguei a aliança de prata que pendia em um delicado cordão. Era o nosso símbolo de amor, um amuleto que me trazia conforto e segurança.
Ao me levantar para voltar ao dormitório, cruzei com Maurício, um dos cadetes mais chatos e irritantes. Elisangela acredita que tem interesse em mim, mas não estou nem preocupada com esse idiota. Seus olhos percorreram meu corpo de cima a baixo, e um sorriso debochado se formou em seus lábios. Antes que pudesse reagir, ao ver manuseando meu cordão, ele arrancou do meu pescoço e o lançado com força na mata ao lado do prédio.
A raiva me consumiu, mas a dor da perda foi ainda maior. Aquele cordão era muito mais do que um simples objeto, era um pedaço de mim, de nós. Comecei a correr desesperadamente pela mata, procurando freneticamente pelo meu tesouro perdido. Elisangela e Thiago, meus melhores amigos, logo se juntaram à busca, mas a noite se aproximava e a esperança diminuía a cada minuto.
Exausta e desolada,sentei no chão, as lágrimas rolando pelo meu rosto. Aquele era o ponto mais baixo que já havia atingido. A única coisa física que me ligava a Rodolfo havia se perdido para sempre. Meus amigos tentaram me confortar, mas nada parecia aliviar a dor em meu coração.
Vamos procurar de novo amanhã, Jujuba, disse Thiago, com a voz embargada.
Assenti com a cabeça, mas sabia que a esperança já havia se apagado.
Após um banho demorado e revigorante, deitei na cama e comecei a pensar em minha família. Senti uma saudade imensa da minha mãe, do meu pai e dos meus irmãos. Uma vontade incontrolável de voltar para casa invadiu-me
Peguei minha mala e comecei a colocar tudo dentro. Enquanto os outros cadetes jantavam, eu saí do dormitório, decidida a colocar um ponto final em tudo aquilo. Ao cruzar com a professora Arlete, ela me parou e perguntou para onde eu ia. Contei-lhe sobre o ocorrido e sobre minha decisão de desistir.
Arlete me olhou com compaixão e disse:
Juliana, tudo isso é apenas um momento, não uma eternidade. Logo você estará com seu namorado e sua família. Mas desistir agora seria jogar fora tudo o que você conquistou até aqui.
Suas palavras ecoaram em minha mente. Ela tinha razão. Não podia desistir por causa de um objeto. Eu era mais forte do que isso. De volta ao dormitório, deitei novamente, determinada a seguir em frente. A saudade de Rodolfo e da minha família continuava a me atormentar, mas a força de vontade de superar mais esse obstáculo impulsionava a continuar. Afinal, eu não estava sozinha nessa jornada. Tinha meus amigos, minha família e a mim mesma para me apoiar.
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Jujuba e suas aventuras
RomanceEla é alegre, doce, gentil. Ela é uma bióloga que ama os animais e a natureza, em especial os anfíbios pavor do seu pai Delegado federal Fernando Fontes. Será que Jujuba vai se dar bem na Matéria do amor? Será que ainda vai continuar assustando seu...