A verdade

151 20 8
                                    

Meu pai caminha até minha mãe, que está chorando desesperadamente. Ele tenta tocá-la, mas ela dá um tapa em seu rosto.

- Deise, meu amor. Deixa eu te explicar. Mas ela o empurra. Ele cai no chão. Todos tentam ajudar, mas ele está como uma figura derrotada no chão.

Vê-lo daquela maneira, com os olhos vermelhos e inchados, como se ele também tivesse chorado a noite toda. Levantei-me e fui até à sua frente, pronto para ouvir sua versão da história.

- Todos aqui sabem que meus pais morreram, e o Senhor Gimiro e a dona Dora são pais de consideração, mas existe uma parte da história que nunca contei a ninguém. Na realidade eles são os donos do orfanato onde vivi até meus 18 anos, quando passei no vestibular e ingressei no curso de direito, pois o filho deles era policial civil, e sempre visitava o orfanato com outros policiais. Sempre tive o desejo de seguir nessa carreira, então trabalhava de dia e estudava à noite. No último semestre da faculdade tive oportunidade de realizar o concurso da PF. Ele volta a seu passado para revelar a verdade.

Com a voz embargada pela emoção, ele começou a contar a história de sua infância. Quando era criança, presenciou a morte brutal de sua mãe pelas mãos do próprio pai. A lembrança era vívida e traumática, marcada pelo horror e pela impotência.

Naquela noite fatídica, ele e sua irmã mais nova, Marina, estavam em casa quando o pai, tomado por um ataque de fúria, assassinou a mãe e depois tirou a própria vida. O crime aconteceu na frente das duas crianças, que ficaram marcadas para sempre pela tragédia.

Sem parentes próximos, Pedro e Marina foram encaminhados para um orfanato. Lá, a vida não foi fácil. Eles sofreram bullying e discriminação porque Pedro era negro como pai e Marina, com seus traços herdados da mãe branca e loira, acabou sendo adotada por um casal gentil, enquanto Otávio ficou sozinho.

Ao longo dos anos, meu pai nunca desistiu de encontrar sua irmã. Ele a procurou incansavelmente, utilizando todos os recursos disponíveis, inclusive sua posição na Polícia Federal. Mas a busca não rendeu frutos. Marina parecia ter desaparecido sem deixar rastros.

A vida seguiu seu curso, meu pai se casou com minha mãe. Eles construíram minha família feliz. Mas a dor do passado nunca o abandonou completamente. A reportagem sobre minha ida para a Fórmula 1 como piloto de testes foi a virada que ele tanto esperava. Marina, reconheceu o irmão pela semelhança física com o pai, assim finalmente o contatou. Após anos de saudade, os irmãos finalmente se reencontraram. A emoção foi indescritível, mas infelizmente não durou muito. Meu pai coloca a mão no rosto e diz:

- Minha irmã perdeu os pais adotivos e o marido em acidente de carro no interior três anos, onde eles eram produtores rurais. Ela tinha acabado de descobrir que estava grávida, realizando antigo sonho de ser mãe, que eles tentavam a muito anos, mas infelizmente não tinha mais esposo com ela. Eu nunca trairia você, Deise!

- Porque não me contou, Pedro. O show da minha mãe acabou rapidinho.

- Eu iria te contar, inclusive estava preparando um almoço, mas minha irmã escondeu de mim que estava em câncer terminal. Faz alguns dias estou tentando falar com ela, mas a ligação ninguém atendia, então fui até a casa. Foi quando a vizinha me disse, que a encontraram morta e a menina de 2 aninhos ao lado do corpo. Então fui até a delegacia, onde me informaram que a menina está sob os cuidados do conselho tutelar e o corpo estava no IML. Os investigadores encontraram os exames sobre o câncer no abdômen. Estava resolvendo tudo, como contar toda história por telefone, Deise! Ele se levanta do chão.

- Oh, meu brigadeiro! Desculpa, você sabe como sou cismada com as coisas. Vamos resolver tudo! Ela abraça meu pai.

- Não posso deixar essa menina ser encaminhada para adoção. Ela é um pedaço da minha irmã.

Jujuba e suas aventuras Onde histórias criam vida. Descubra agora