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5 de janeiro...

Helena:

Já fazia alguns dias que eu tinha saído do hospital e agora, eu estava na casa da Heloísa. Gavião queria que eu fosse morar com ele, mas eu neguei. Eu estava conhecendo ele agora, e por mais que eu me sentisse bem ao lado dele, acho que agora não é o tempo.

Eu queria uma casa para ficar, só eu. Não queria ter que depender deles, mas nem trabalho eu tenho. E eu descobri que antes de tudo isso acontecer comigo, eu trabalhava como técnica de enfermagem, mas quem vai querer alguém que não lembra de nada?

Eu queria saber mais da minha vida, saber além do que eles dizem que eu vivi aqui. Quero saber dos meus pais, se eles ainda são vivos. Quero saber se tenho algum irmão. Avós. Se tenho alguém da minha família ou sou sozinha.

Quais eram minhas amizades antes? Só eram eles?

Cada um tem uma visão de quem eu fui, quem sou agora, mas e eu? Eu quero descobrir quem sou de verdade, além do que o Gavião me contou, além das suposições que faço. O que eu sentia, o que eu queria, como minha vida era antes desse buraco negro na minha cabeça? Será que eu tinha sonhos? Gosto de algo além do que conheço agora?

Eu preciso entender, preciso fazer essas perguntas. Não é só sobre ele, não é só sobre agora. É sobre saber quem eu sou de verdade.

Parece que sempre tem algo faltando. Que a cada coisa que eles falam, precisam de mais uma peça. É como se tudo se encaixasse, mas também faltasse algo. Minha cabeça ficava confusa, tem dias que eu me esforço tanto para lembrar de tudo que minha cabeça começa a doer, uma dor fina e depois eu só quero chorar.

É uma sensação de estar no meio de uma história que não sou capaz de entender, e me sinto mais perdida a cada dia. Por que meu corpo lembra de algumas coisas, mas minha mente não? Onde estavam os pedaços que faltam, que história é essa que me contaram e que ainda não faz sentido pra mim?

E por mais que eu queria explicar tudo o que sinto, eu sinto também que ninguém nunca vai entender, porque no final das contas, quem perdeu a memória fui eu. Não foram eles. Mas, cara... eu não sei explicar, mas eu só queria melhorar. Queria lembrar de tudo, só isso.

Tem dias em que eu estou bem, tentando levar a vida do jeito que dá, esperando que tudo volte ao normal. Mas tem outros dias em que eu só quero lembrar de tudo, quero saber como as coisas realmente eram antes, quero minha vida de volta. Tem dias que a dor é tão forte que eu só queria dormir e não acordar mais, porque é horrível se sentir assim, sentir que não pertence à sua própria história, à sua própria vida.

A sensação de estar desconectada de quem eu fui me consome. Eu me sinto perdida, tentando juntar as peças de algo que eu mesma não entendo. As pessoas têm suas versões de quem eu fui, mas e eu? Eu não sou capaz de lembrar. Isso me mata por dentro, porque, no fundo, só queria que as memórias voltassem. Eu só quero entender, me sentir inteira de novo.

Hoje, a Heloísa disse que ia vir umas meninas que eram minhas amigas. Uma se chama Dani e a outra Samara. Mas eu não lembro delas, e, sinceramente, não senti nada ao ouvir esses nomes. O que eu vou falar para elas? Como eu me apresento, se eu não sei nem quem sou mais? Como vou lidar com isso?

A sensação de ser uma estranha na minha própria vida é pior do que eu imaginava. Eu sei que elas devem me conhecer bem, mas e eu? Não tenho nem uma lembrança delas, nenhum sentimento que me ligue a elas. E se eu for fútil ou distante? Não sei o que dizer, nem o que fazer. A cada dia, parece que o buraco na minha memória cresce mais.

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⏰ Última atualização: 16 hours ago ⏰

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