27° Capítulo

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O idiota do meu primo!
1.2

A água quente escorria pelo meu corpo, o vapor inundando o box do banheiro, deixando a parede de vidro ao meu lado embaçada.
Puxo a toalha e me cubro. Antes que pudesse abrir a maçaneta da porta, a mesma recebe batidas leves do outro lado. Alguém quer usar o banheiro.
Mamãe e papai têm seu próprio banheiro em seu quarto, por isso sei quem está do outro lado.
O idiota do meu primo.

Ainda consigo me ver com oito anos quando minha romântica história com Andrew aconteceu: foi nas férias que antecedem a volta às aulas, na fazenda da irmã de minha mãe, Becca, e de seu marido,George. Eu era a garota meiga e boba, daquelas que crêem que viverão felizes para sempre em um castelo___lembrando: eu tinha oito anos.
E então eu o vi. Ele tinha nove anos e todas as garotas dali o queriam, não sou competitiva, mas eu realmente me esforcei para chamar sua atenção, afinal ela era aquele príncipe que eu tinha idealizado para me levar no colo para nosso castelo. Eu lutei. OK, na verdade não fiz nada, mas algo em mim o interessou, acho que foi justamente o fato de eu não ter demonstrado interesse___Não que eu não estivesse realmente querendo pular em seus braços, foi somente eu sendo covarde como sempre___mas para ele eu era um desafio, que ele tinha que conquistar como as outras(claro que, com oito anos, eu não percebi isso quando ele se aproximou e disse: "oi").
Ele era filho da irmã de minha mãe, mas não era um primo de primeiro grau de verdade, porque o pai de minha mãe de verdade morreu, e a mãe de Becca deixou o pai dela, então o pai de Becca se juntou com a mãe da minha mãe, e assim Becca e minha mãe se tornaram irmãs de coração. Elas não são irmãs de verdade.
Ou seja, estava tudo bem se apaixonar pelo primo perfeito, não que eu, aos oito anos, tivesse me importado em saber sobre esse fato biológico___eu tinha oito anos e havia prometido à minha Barbie que assim que eu encontrasse o meu príncipe nós iríamos casar___então eu não sabia e nem pensava que haveria algum tipo de barreiras para o amor; desse modo eu poderia ter me apaixonado pelo meu irmão(se eu tivesse um) que, na minha percepção de garota de oito anos, estaria tudo bem.

Mas o fato era que nenhum adulto se posicionou contra(como se fossem levar a sério duas crianças), e eu me transformei na felicidade. Eu me casaria com ele e faríamos piqueniques com minha madrinha Barbie e seu príncipe Ken.
E ele apenas estava me agradando e dando importância porque, em sua mente mimada, não suportava não ter conquistado todas. Desse modo, ao final do dia, eu estava planejando o casamento e o amando mais que minha vida. No ápice da perfeição ele me beijou(aquele beijo de crianças, uns, o quê, meio segundo de duração?), mas foi como ser tocada por um anjo.
Eu disse algo como:" agora vamos nos casar e viver felizes, como a Barbie e o Ken!"
Obviamente não foi a melhor coisa a dizer para um garoto de nove anos, mas o fato é que aquilo nunca foi real para ele.

OK, como eu tinha oito anos, muito provavelmente também não seria algo verdadeiro para mim lá na frente, mas naquele momento, era! Era a única certeza que eu tinha.
Ele se afastou quase imediatamente, e quando ele não aguentou mais eu o seguindo como uma sombra, falando do amor verdadeiro e dos preparativos para o casamento, começou a pregar peças em mim. O que eu achei dele quando começou? Isso, que ele tinha senso de humor. Pode rir, eu deixo.
Foi então que dia 31 de julho daquele ano ele disse as palavras que me lançaram ao inferno (Sim, sou teatral!). Ele olhou em meus olhos e disse:"eu não gosto de você, você é chata e eu não quero brincar com sua Barbie idiota."
Meu coração partiu-se em dois: de um lado estava a negação ao meu amor verdadeiro e do outro a pior ofensa à minha Barbie.
Eu chorei é claro, chorei muito.
E lá se foi eu,com meus um metro e dezesseis centímetros, correndo para meu quarto aos prantos, depois de quase me afogar em lágrimas despejando todo o ocorrido à minha Barbie, que demonstrou susto quando comentei sobre a ofensa à ela, fui para o banho, para terminar minha história de amor verdadeiro com shampoo de cocô, colocado ali pelo meu quase-futuro-marido.
Essa foi a história.
Ninguém da turma sabe é claro, eu iria contar, afinal iríamos iniciar o terceiro ano do fundamental, e no primeiro dia de aula ele finalmente entrou na minha vida: Sebastian! É claro, que aprendido a lição, eu me comportei. Né?
Errado!
Ele se tornou meu mais novo príncipe. Só que desta vez eu não admitiria meu amor até ter certeza de ele também sentia algo por mim. E assim passou-se os anos, eu amadureci, e minha paixão por Sebastian também: já não era apenas um desejo bobo de uma garota boba. E ele também, como pude perceber com o tempo, não era um perfeito príncipe, mas era imperfeitamente perfeito.

Quase AdultosOnde histórias criam vida. Descubra agora