Escolha sua dor
O lado bom de meu pai também estar em luto era que ele não fazia perguntas. Não perguntou sobre Breu quando desci para o café, nem porque eu não fui pra escola__provavelmente ele sabe a resposta__ e nem sobre Drake ter saído dali logo quando amanheceu; antes de sair, Drake me disse que os outros estavam decidindo se deveriam ou não ir pra escola porque sabiam que eu não ia, e deixei claro que não via problemas.
Eu estava grata por poder ficar sozinha.
Mesmo agora, me forçando a comer, encarando meu pai apático do outro lado da mesa, era como se eu estivesse sozinha. Ele estava perdido em pensamentos, perdido dentro de si, como se agora tivesse percebido que tudo era realmente verdade. Uma lágrima simplesmente escorreu de seu olho direito e ele continuou a tomar seu café. Foi quando me incomodei por estar me sentindo sozinha mesmo na companhia dele.
__Olha, __ apontei para o Breu que bebia leite na vasilha que tinha colocado para ele no chão, minha voz tinha um tom de desconforto, do tipo que acontece quando você quer puxar a assunto com alguém que não quer falar___Drake me deu de presente, o nome dele é Breu.
Ele assentiu sem emoção. E meu antigo pai ficaria empolgado porque certamente reconheceu a referência ao mangá que ambos gostávamos. Suspirei, frustrada.
__Está tudo bem? __ tentei de novo.
__É claro que não, Agnes. Ela não está aqui.
__Você acha que vai ficar bem? __refiz a pergunta. Encarei seus olhos, vendo-os reluzirem quando as lágrimas criavam a fina lente.
__Eu sonhei com ela__ ele, no entanto, respondeu__ eu estava no meu quarto, mas não conseguia dormir. Então fiquei sentado no colchão esperando que a dor e o cansaço superassem a falta dela do meu lado. Não aconteceu. Então a vi sorrindo pra mim e me estendendo a mão. Eu segurei, lhe fazendo mil perguntas sobre como tinha voltado. Mas então percebi que ela me guiava para cima, atravessei o telhado com ela, fui aos céus com ela, vendo tudo diminuir sob meus pés, vendo as nuvens da noite sendo ultrapassadas por nós. Ela segurou minha mão, e eu disse que a amava, que queria ficar com ela, que estava triste; ela sorriu e disse que me amava, mas quando pedi pra ficar com ela...ela me olhou decepcionava e disse a Agnes precisa de você, você prometeu que ia ficar com ela e de repente eu acordei na cama.
Então ele me encarou. Sem dizer mais nada, apenas me encarou.
__você...sabe que estava sonhando né?
__ Não se trata disso, Agnes.__ retorquiu, afetado__ Se trata de como eu me sinto.
__E como se sente?
__Para com isso!__ vociferou ele___ como acha? Estou destruído, estou morto e não posso fazer nada a respeito porque...
Franzi as sobrancelhas, empurrando o café enquanto uma indignação crescia dentro de mim.
__Por que o quê? Tem que cuidar de mim? __ olhei em seus olhos e ele os desviou, me ferindo com a verdade__ Não preciso ser cuidada, se isso é uma tortura pra você, pai. Mas nada vai mudar, você cuidar de mim ou não, não vai trazer ela de volta e...
Seus punhos bateram na mesa com uma ferocidade fazendo as coisas chacoalharem. Seus olhos apertaram de fúria, molhados. Eu estremeci, nunca tinha visto ele ser agressivo.
__Não fala mais nada, Agnes! Eu não vou esquecer ela depois de um dia, pelo amor de Deus. Eu não quero ficar fingindo que tudo está bem.
__Nem eu, mas...
__Não tem mas pra mim, esse é o problema__ ele bradou de volta, os olhos enchendo enquanto me encarava desafiando-me a reprimi-lo por isso. E eu não podia.
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Quase Adultos
Teen Fiction"É claro, ninguém pôde prever que os conflitos entre os dois grupos pudesse se tornar perigos reais, mas assim que as mortes começaram, já estavam presos demais na armadilha que criaram" BEM-VINDO A TURMA! Quando kate e seus amigos foram transferido...