106º Capítulo

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A rosa amarela cresceu nas sombras de segredos

Foi regada por desilusões, talvez por proteção,

Talvez por todos considerarem-na fraca;

E cresceu em terras rasas, sem criar raízes,

Pois sempre estava à espera da fuga,

Pelo menos até perceber que seu primeiro espinho nascera...

Por entre a cortina grossa, a luz cinza esbranquiçada que antecede o nascer do sol se anunciava, pálida como um nevoeiro, na janela do quarto onde eu e minha mãe estávamos. A luz era débil, mas alvejava o canto do quarto onde se pronunciava, fazendo uma escala de tons de cinza até se extinguir antes de chegar na metade do quarto, deixando a escuridão toda acumulada contra a parede. Era como eu estava me sentindo, dividida entre luz e sombras.

Eu sei dos riscos, mas também sei das vantagens de ficar em Century. Não podemos fugir para sempre, afinal. Isso não seria viver. Passei a noite acordada refletindo a cerca das possibilidades e embora eu estremeça e me sinta culpada só por imaginar eu propondo a minha mãe, a vítima de tudo, que fiquemos aqui, eu sei que não terei outra alternativa, não uma que envolva a nossa felicidade, se não o fizer. A nossa felicidade só vai existir se nos virarmos e encararmos de frente a escuridão que nos persegue.

Levanto da cama, sinto a cabeça pesar por não ter desligado desde ontem, e certifico que minha mãe ainda esteja dormindo antes de vaguear até as malas e procurar uma toalha; depois de pegar tudo que preciso, saio do quarto para ir ao banheiro comunitário.

Os banheiros são cabines de muretas que alcançam somente até os ombros que ficam enfileiradas uma do lado das outras numa grande área feita toda de concreto cinzento, o que me lembra banheiros de prisão. Felizmente não tem ninguém ainda e avanço para a última cabine, se eu for rápida posso terminar antes de alguém chegar. Meus pés descalços doem contra as bolotas de concreto do piso mal feito, mas logo chego a cabine e fecho a porta atrás de mim, mas não sinto privacidade alguma já que todas as outras cabines ao redor são visíveis, assim retiro a calça e a blusa, mas mantenho as roupas intimas quando ligo o chuveiro e a água despeja rápida, um alívio me consome quando percebo que a água é quente, e solto um suspiro, sentindo o frio da manhã se esvair e os nós das minhas costas relaxarem, molho meu longo cabelo e pego o sabonete líquido nas mãos quando a porta de entrada se bate, olho rápida, mas não vejo ninguém, porém já é o suficiente pra me deixar apavorada, lavo o sabonete e desligo o chuveiro, pego a toalha e me enrolo, pego as minhas roupas e abro a porta.

Dos dois lados há uma fileira de cabines escancaradas assim como entrei, e o chuveiro que usei goteja ritmicamente atrás de mim. Envolvo as roupas contra o peito e me abraço, sentindo o frio me congelar e dou passos receosos em direção à saída.

___Não vai terminar seu banho? __ uma voz grossa se pronuncia da cabine logo a minha direita, quando viro para a direção dela, vejo lá dentro um homem gordo sem calças amaçando o que tem atrás da cueca e me olhando de um jeito assustador. Minhas mãos tremem e as roupas que eu segurava caem no chão, sinto o rubor queimando minhas bochechas e cambaleio para trás.

__M-me des-desculpe__ sussurro olhando para o chão__ e-eu não sa-sabia que era o ba-banheiro masculino...e-eu vou...__ e comecei a andar para a saída, mas ele avançou mais rápido do que eu podia imaginar que ele conseguisse e ficou entre mim, e não importava quantas vezes eu desviasse os olhos, os dele me acompanhavam.

__Fica mais um pouco...aqui os banheiros são juntos...__ele deu um passo pesado em minha direção, tirando a mão melada para tentar tocar meu braço. Recuei segurando a toalha com força.

Quase AdultosOnde histórias criam vida. Descubra agora