47- Quando um não quer...

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— Não! — Luna gritou quando suas costas bateram contra a parede fria. Fria, era assim que ela sentia-se, parecia que o mundo estava fechando ao seu redor. E bastou somente uma palavra de seu pai para que toda sua vida fosse pintada de cinza, um frio e tenebroso cinza.

Câncer, sua irmã tinha câncer. Um fodido câncer estava levando sua irmã embora. Ela já havia perdido o seu avô para essa doença maldita. E imaginar que agora a sua irmã, seu espelho, sua outra metade, estava indo pelo mesmo caminho, lhe quebrou, lhe quebrou inteira e nada do que fizessem mudaria isso.

— Porra, porra, PORRA! — Ela Praguejou chutando as cadeiras, a lixeira e o que viu pela frente.

— Luna, olha a boca! — Christopher a repreendeu.

— Olha a boca? É só isso que você tem para me dizer? A minha irmã está morrendo, porra! — Cuspiu as palavras esperando que aquilo lhe trouxesse algum alívio. Não imaginou que funcionasse, pois bem, não funcionou.

— Querida, nos vamos fazer o possível e o impossível por ela-

NÃO É O SUFICIENTE! — Gritou aos soluços. Estavam atraindo bastante atenção. Mas Luna não se importou. Ela nem sequer notou quando as pessoas levantaram os celulares e começaram a gravar.

Dulce encarou as pessoas ao seu redor. Perguntando-se o que diabos eles não fariam para conseguir seus quinze minutos de fama?

— Vocês tem merda na cabeça!? — Ela  gritou para todos ao seu redor — Ela é só uma criança, respeitem isso! — Gritou.

Não era algo que não estavam esperando. A mídia estava inquieta. Principalmente depois da coletiva. Um dos motivos pelos quais Dulce havia desistido do celular e das redes sociais, o fluxo de mensagens estava a deixando louca. Às pessoas não paravam de persegui-los, levou todo seu esforço para que chegassem ao hospital sem matar alguém.

E agora ali estavam. Christopher havia acabado de deixa-los a par da situação da irmã. E enquanto Luna estava explosiva, ela notou que Henrique manteve-se calado. E somente lágrimas silenciosas rolavam por sua face. Ele estava em negação.

— Henrique-

— Cale a boca, Dulce. — Ele respondeu. Sua voz, estava fria, seus olhos opacos. Ele somente observava o show que a sua irmã estava dando.

— Henrique o câncer é-

— O câncer é uma cadela que nunca morre! O câncer é a maldição sobre esta terra. E eu achando que depois de você ter aparecido, nada podia piorar. Mas vejam só, não se pode questionar ao todo poderoso, não é mesmo? Tudo sempre pode piorar. — Foi a vez dele cuspir algum desaforo pra cima dela.

Mas até então, que culpa ele tinha? Não havia maneira alguma que o perdão viesse mesmo após ela assumi-los mundialmente. Este seria um caminho longo, e repleto de obstáculos. E ela estava mesmo disposta a percorrer?

Henrique marchou pra longe dali, empurrando as pessoas que se aglomeravam ao redor deles. Enquanto Luna, enfiava as mãos pelos cabelos, os puxando com tanta força que Dulce teve medo de que ela os arrancasse do couro cabeludo.

— Luna, pare. Você não quer fazer isso. — Ela pediu.

— E o que você sabe sobre o meu querer!? Você não me conhece, você não à conhece. PORRA VOCÊ NÃO SABE NADA SOBRE NÓS! POR QUE VOCÊ ESTA AQUI? VAI EMBORA DULCE, VAI EMBORA! — Exclamou cruelmente, enquanto escorregou na parede até o chão. Balançava sua cabeça de um lado a outro, soluçando até que perdesse o ar, então ela parava por dois segundos e recomeçava a chorar de novo.

Frutos Por Trás Da FamaOnde histórias criam vida. Descubra agora