— Eu tô aqui. — Luna suspirou quando abriu a porta do escritório do seu avô. Bem, nesse exato momento estava sendo ocupado por sua mãe. — Vovó? Você chamou a vovó? — Perguntou em tom de incredulidade quando a figura de cabelos loiros presos em um coque sua avó que ela tanto amava entrou em seu campo de visão.
— O que você esperava que eu fizesse? Eu acabei de sair de uma delegacia, onde denunciei uma tentativa de estupro, quando minha filha deveria estar em casa como eu mandei.
— E daí você precisa de reforços? — Revirou os olhos sentando-se na cadeira giratória. Ela estava bem, estava bem até demais. A dor de cabeça infernal havia ido, depois que ela dormiu onze horas seguidas. O que foi bom, pois apagou de tal forma que as imagens tórridas daquela noite não lhe vinham a mente. Mas não podia negar que a cada vez que fechava os olhos, podia ouvir o riso asqueroso do garoto maldito, a cada vez que lavava seu corpo, podia sentir a pressão dos toques daquelas mãos imundas. O que fazia com que ela se sentisse enojada e esfregasse a pele com tanta força deixando marcas vermelhas para todos os lados.
Sabia que em algum momento teria que falar sobre isso. Teria que ouvir repreendas da sua mãe. Mas ela estava tão fatigada de tudo isso. Não tardava e Dulce procuraria um profissional psicológico, assim como fez após o enterro do seu pai. Mas Luna não queria ajuda profissional, não funcionaria.
A sua mente era como uma lugar cheio de lacunas, e ela estava perdida demais para saber lidar com isso de forma branda. Não conseguia nem explicar a si mesma como se sentia, tampouco poderia fazê-lo para outra pessoa. Aqueles eram os seus demônios e ela os manteria longe de todos aqueles que ama.— Não é legal ficar sabendo que a sua neta deu entrada no hospital através sites de fofoca. — Alexandra se pronunciou. Ela estava bem. Bom, o quão bem alguém pode estar dois anos após a morte do único filho. Estava levando como podia, assim como todos eles. Havia assumido o controle da empresa o que era bom, pois além de cuidar do legado deixado por seu filho aos filhos dele, os negócios a deixava ocupada demais para pensar nas perdas que a vida lhe trouxe. A maquiagem bem feita, o cabelo perfeitamente preso e o terninho minuciosamente alinhado indicavam que ela estava a caminho do escritório antes de passar por ali.
— Maravilha. Como se somente um sermão não bastasse. — Girou na cadeira, o que sabia irritava sua mãe ao extremo.
— Não trate tudo com tamanha destreza. Não aja como se nada tivesse acontecido. Luna, você foi-
— Eu sei o que aconteceu, mamãe. Eu estava lá. — Disse ironicamente. — Então não precisa ficar repetindo. Eu somente vou deixar você levar meia hora dessa merda, para que seu ego se sinta alimentado e você possa sair por aí contando o quão boa mãe pode ser. — Deu de ombros. Só queria sair dali. Talvez se trancar no quarto com fones de ouvido estourando. Ou fugir para o estúdio inutilizado atrás do jardim, correr os dedos pelas cordas do seu violão e lamentar-se pelo caos que sua vida havia se tornado.
Seus irmão estavam indo bem com tudo aquilo, em dois anos eles se adaptaram bastante. Ela não, faltava algo, faltava vontade para continuar.
— Luna. — Sua avó suspirou. E ela sabia que dali viriam palavras que insistiam em arrancar dela alguma coisa, qualquer sinal de que ainda estivesse viva. — Você precisa se abrir pra gente. Já são dois anos e não há nada que não tenhamos tentado. Tá se escondendo nessa casca de adolescentes rebelde, mas deixe-me te contar uma coisa, nada disso vai fazer com que a dor que está sentindo passe.
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Frutos Por Trás Da Fama
FanfictionO que se pode dizer de uma mãe que abandona os filhos? Fria, cruel, egocêntrica? Sim, esses são todos os adjetivos que você pode dar a Dulce María. Ao descobrir a gravidez aos dezesseis anos, Dulce vê-se desnorteada e somente o aborto lhe parecia...