Longe dali, o dia ainda não havia começado para Dulce María. Não até agora.
— Vamos Dulce, levanta. — A voz de Belinda soou completamente cansada. Mas aquilo fazia parte da sua vida desde que começou a trabalhar com aquela mulher extremamente complicada.
— Meu Deus, Belinda. São oito da manhã, de um sábado. Sabe quem descansou no sábado? Exatamente, Deus. — Choramingou. — Você não tem nada pra fazer não?
— Você é artista trabalha pra viver, não existe fim de semana. Eu não vou arrumar desculpa para seu atraso caso você tenha que pagar multa de contrato de novo. — Afastou o cobertor dela. — Levanta, eu aposto que Deus tinha uma agenda menos lotada que a sua.
— Quem foi que deixou você entrar? — Sentou-se na cama com um bico — Vou por a regra a todos os seguranças de que é proibido animais na minha casa.
— Que ironia, a cobra não iria poder entrar na própria casa — Agindo completamente a vontade, ela caminhou até o closet da amiga.
— A cobra come a cadela? Por que se sim, você está em perigo. — Deitou-se novamente, desejando, profundamente, que pudesse explodir a amiga pra fora dali.
Mas como esse poder ela não tinha, aceitou a realidade.
— Dulce não quero discutir a cadeia alimentar com você agora. — Saiu do closet com dois vestidos em mãos — O que você acha, o azul ou o vermelho? — Mostrou os dois — DULCE! — Gritou.
— Pela santa paciência Belinda, qualquer um — Cobriu-se com o edredom.
— Vadia — largou os vestidos e saiu do quarto — Tia, me dá um balde com água, por gentileza. — Pediu a Blanca assim que chegou a sala.
— Pra quê? — Se virou para Belinda, a qual tinha como filha.
— A Rainha da Inglaterra não quer levantar. — Rolou os olhos.
— Você não vai-
— Vou sim. Se ela quer ser acordada de forma carinhosa, ela que aumente meu salário — Sorriu diabólicamente.
— Ela vai te matar. — Sorriu, indo providenciar o que lhe foi pedido.
— Que me mate num momento em que não esteja atrasada. — Pegou o balde da mão de Blanca — Já descemos para o café.
Subiu as escadas o mais depressa que pôde. Entrou no quarto de Dulce e a mesma ainda estava esparramada pela cama. Com passos minuciosos, ela foi até ela. Despejando todo liquido do balde.
- AHHHHHHHHHHHHHHHHHH! — Dulce levantou num pulo — SUA VACA!
— Pronto, banho tomado — Girou o balde, agora vazio, nos dedos — Te espero lá em baixo e use o vestido vermelho. — Saiu do quarto, sorrindo. — Eu sempre quis fazer isso — lndagou para si mesma.
°°°
— Bom dia família — Sentou-se a mesa, junto aos pais e a amiga. — Como passaram a noite? Todos bem? Por favor não deixem mais a Belinda entrar no meu quarto.
— Querida está atrasada — Repreendeu a filha.
— Ah não começa. Eu sou a estrela gente, eu nunca estou atrasada.
— Você é a estrela, não o relógio. Quem decide se está atrasada ou não sou eu. — Belinda retrucou.
— Olha só, eu ainda vou levar algumas horas para te perdoar. — Pegou algumas torradas e as cobriu com geleia. — Onde já se viu, me fazer levantar daquele jeito quando meu corpo nem tinha feito download completo da minha alma.
— Lindinha, a sua folga foi ontem. E eu nem sabia que você tinha alma
— Disse, Belinda. — Aliás, o que você fez ontem?— Eu dormi, comi, dormi e dormi. Foi o melhor dia da minha vida. — Tomou o chá que lhe foi servido — Credo isso ta ralo. O que diabos a infeliz dessa empregada estava fazendo que não me preparou um chá decente? — Devolveu a xícara ao pires.
— Dulce sem grosserias com os empregados. Eles não têm culpa se você levantou com os dois pés esquerdos. — Fernando interviu.
— Eu os pago. Tenho o direito de reclamar, se o serviço não me agrada — Rolou os olhos.
— Querida veja a capa dessa revista — Blanca entregou a filha.
Tratava-se de uma edição feminina, com gêmeas idênticas na capa. Blanca não conseguia, não conseguia evitar pensar que em algum lugar do mundo, existiam duas garotas iguais e um garoto que possuía seu sangue. Aquelas garotas poderiam ser suas netas, mas ela jamais saberia, porque Dulce jamais se permitiria ir atrás de qualquer um deles.
— São belas não acha?
Dulce encarou a mãe com expressão vazia. Mais uma vez Blanca estava tocando naquele maldito assunto, no assunto que ela evitava ou buscava evitar todos os dias, relembrando memórias que todas as noites ela se esforçava para esquecer. Sua mãe não tinha direito de tocar naquelas memórias, não ali, não na frente de Belinda.
— Não, não acho. Não é o tipo de conteúdo que me agrada. — Se fechou, como sempre fazia quando falavam ou faziam menção ao seus "filhos" — Vamos Belinda, achei que estivéssemos atrasadas — Saiu sem sequer despedir-se dos pais. Seu dia acabara de piorar 110%.
— O que deu nela? — Belinda perguntou confusa.
— O mesmo de sempre — Fernando suspirou bebendo mais um gole de seu suco.
— Mais uma tentativa frustrada. — Blanca suspirou encarando o marido que apenas lhe deu um olhar compreensivo.
Não havia novidade naquilo. Dulce fugiu deles uma vez e talvez ela pudesse fugir do seu passado para sempre.
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Nos vemos na sexta 😘
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Frutos Por Trás Da Fama
FanficO que se pode dizer de uma mãe que abandona os filhos? Fria, cruel, egocêntrica? Sim, esses são todos os adjetivos que você pode dar a Dulce María. Ao descobrir a gravidez aos dezesseis anos, Dulce vê-se desnorteada e somente o aborto lhe parecia...