— Pai, por favor. — Larissa pediu num tom de voz quase inaudível. A cena a sua frente não era nada confortável. No primeiro mês em que sua menstruação atrasou, ela acreditou que fosse normal, deu ciclo nunca havia sido exato, mas a duas semanas atrás, quando aconteceu mais uma vez, ela sabia que algo estava errado.
Foi difícil ter que ir até uma farmácia comprar um teste, foi difícil passar pelo olhar julgador da atendente. Porém, foi mais difícil ainda conferir os resultados no maldito palitinho. Grávida e sozinha. Nem com duas únicas e melhores amigas ela poderia contar. E tentou segurar ao máximo todos os seus episódios de enjôo na frente de terceiros. Ela conseguiu passar por todos, fugir de todos, exceto dele. Ela jamais conseguiria fugir dele. E agora olhava para a cena de seu pai tendo que ser controlado para não matá-lo. Para não matar o pai do seu filho, o garoto que ela ama.
Imaginou qualquer reação de Ian quando há alguns minutos atrás soltou a informação para ele. Mas quando seu pai aos gritos a obrigou a entrar no carro, ela sabia que nada seria fácil.
— Ian, vamos conversar sobre isso como adultos que somos. — Fernando pediu ainda segurando o homem que provavelmente mataria seu neto ali mesmo.
— Não há o que conversar. Ele tirou da minha única filha a liberdade. Você não entende!?
— Eu sei exatamente como você de sente, porque a dezesseis anos atrás eu era você, tentando matar o garoto que se tornou um dos maiores homens que conheci! — Gritou. E assustou a todos. Fernando era o mais calmo daquela casa, em meio a tantas loucura naquela rotina bagunçada, ele sempre manteve o controle. Pelo menos até agora, o fato é que aquilo lhe trouxe muitas lembranças, lembranças muito semelhantes a tal situação.
Dulce estava calada e parada como se estivesse em total transe. E talvez estivesse, era como assisti ao filme da sua vida, protagonizado por seu filho.
— Papai por favor. Não o machuque. — Ela pediu.
— Cala a boca, Larissa! — Os olhos azuis idênticos ao seus se dirigiram a ela em total decepção. — Nós só vamos conversar quando você estiver livre disso.
O grito de horror saiu das gêmeas, quando se deram conta do que o cara que era melhor amigo de seu pai, pretendia fazer.
Larissa reprimiu um soluço e antes que desabasse ali, correu pela casa ouvindo suas amigas lhe chamarem. indo para o único lugar onde sabia que a única que lhe entenderia poderia lhe encontrar. Subiu as escadas em um flash e foi pelo corredor esperando que a porta do quarto de Dulce estivesse destravada e estava. Se trancou lá, esperando que ela a encontrasse. Ela precisava de alguém.
— Lary, por favor, fale conosco. — Uma das gêmeas pediu através da porta.
Ela não respondeu, porque não poderia falar com elas agora, porque por mais amigas que fossem elas não saberiam lhe ajudar naquela situação.
— Larissa. — Pediu mais uma vez.
— Eu preciso da sua mãe. — Murmurou. — Por favor, diz pra ela que eu preciso. — Escorou-se na parede ao lado da porta e permitiu-se deslizar até o chão, abraçou os joelhos junto ao peito e permitiu-se convulsionar a cada novo soluço.
A gritaria lá embaixo não chegava até ela. Mas sabia que algum momento deveria encarar o seu pai de novo, deveria encarar ao pai daquele pequeno pedacinho de gente dentro dela.
O único movimento que fez foi pra se aproximar das portas na varanda, lá fora o céu se formava para um enorme temporal. Quis sorrir dessa ironia, era o clima perfeito, para a ocasião imperfeita. Jamais quis decepcionar o seu pai, ele era uma das pessoas mais importantes da sua vida, ele sempre esteve ali para ela e por ela, mesmo abalado com a morte da esposa, ele nunca desistiu da filha.
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Frutos Por Trás Da Fama
FanfictionO que se pode dizer de uma mãe que abandona os filhos? Fria, cruel, egocêntrica? Sim, esses são todos os adjetivos que você pode dar a Dulce María. Ao descobrir a gravidez aos dezesseis anos, Dulce vê-se desnorteada e somente o aborto lhe parecia...