01-Filhos da mesma mula

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Paiê! O grito ecoou pelo extenso corredor da casa parcialmente quieta para uma manhã.

— Ninguém se mexe! O que houve? É bandido? Está machucada? — Christopher saiu do seu quarto trajando nada mais que uma cueca.

— Ah pai, meus olhos! Não preciso saber a cor das suas cuecas. — Tapou os olhos dramatizando a situação.

— O que diabos aconteceu no seu cabelo? — Sua mirada percorreu as madeixas da filha originalmente loiras escuras, mas que naquela manhã exibia um tom de rosa nada agradável.

—  O babaca do filho que você decidiu não mandar para um internato passou tinta nele enquanto eu dormia. ENQUANTO EU DORMIA COMO UM ANJO, PAPAI. — Sapateou, no corredor — Pelo amor de Deus, ponha uma roupa para que eu possa reclamar com dignidade. — Voltou a cobrir os olhos.

— Hoje o inferno vai congelar! —  O grito irado reverberou no quarto ao lado — Henrique eu espero que você tenha feito tudo que quis na vida porque hoje ela acaba! — Um rosto idêntico ao que estava parado no corredor surgiu. — PAI!

Luna exibia cabelos exageradamente roxos.

— Eu devia ter tido cachorros. Cachorros, não filhos. Cachorros são tão fofos. — Revirando os olhos, Christopher voltou para seu quarto para vestisse apropriadamente para o que viria a seguir. — Se serve de consolo eu gostei muito do novo estilo de vocês. — Brincou de volta ao corredor.

— PAI! — As gêmeas o repreenderam.

— Eu tenho que ser o adulto da situação né? — Conteu o riso encarando as faces iradas das filhas agora parecidas saídas de uma trupe de circo. HENRIQUE! — Chamou pelo filho em seu tom habitual.

— Sabe qual é o meu maior sonho? Conseguir dormir até às nove sem ter que ouvir vocês. — O garoto de cabelos claros saiu de seu quarto com cara amassada — Hoje é sábado, gente. Sábado. Até Deus descansou no sábado. — Choramingou.

— Meu maior sonho é não ter que brigar com você todos os dias. — Christopher o respondeu.

— O que eu fiz dessa vez? Bati numa freira? — Entreabriu os olhos que manteve fechado desde que saiu do seu quarto.

— Agora, Henrique, quero que você olhe bem para suas irmãs e me diga, o que há de errado com elas? — Apontou para as gêmeas coloridas que estavam a ponto de explodirem.

— O senhor quer que eu ignore todo resto e escolha um erro só? — Provocou.

Henrique-

— Olha Tico&Teco, se querem minha opinião, eu fiz um trabalho melhor do que aquele cabeleleiro caríssimo que vocês vão.

— Seu desgraçado, filho da puta! — Jade partiu pra cima do irmão.

— Epa, Epa, Epa. Sem violência — Segurou a filha que esperneva em seus braçosJade o que conversamos sobre palavrão? — Ele soltou a menina com uma repreenda.

Naquele momento, tão emburradas, Christopher não pôde deixar de imaginar em como elas lembravam a mãe. Dulce estava constantemente irritada e ele conseguia se divertir com as caras e bocas que ela fazia. Por um momento, se perguntou se ela ainda fazia aquilo.

— Pai, eu quero que você olhe bem para esse cabelo. Esse cabelo que te custa uma boa quantidade de dinheiro por mês e me diga, ISSO NÃO É RAZÃO O SUFICIENTE PRA ESTRANGULAR ESSE FILHO DE UMA MULA? — Mostrou a língua pro irmão.

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