70- Alguém do passado

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"Eu estou tão fodido" Foi o pensamento de Dominic, quando encarou a mulher a sua frente. Talvez fosse a forma como seus lábios estavam entreabertos, como seus olhos o encaravam de maneira confusa e até mesmo assustado, ou como o sangue parecia ter sumido de seu corpo e sua palidez se tornou notória. Pareceu rude, mas por um momento ele desejou que ela fraquejasse, só para poder ampará-la e assim sentir a maciez que sua pele aparentava ter.

Um, dois, três, se ela não falasse em dez segundos ele iria perguntar se estava bem. Foi quando seus lábios se moveram e ela murmurou algo que ele não conseguiu ouvir. Precisava ouvir sua voz, então não se deteve em perguntar:

— Você se sente bem? — Talvez devesse tratá-la por "senhora" já que ela seria sua chefe. Mas que Deus o perdoasse não havia uma chance no maldito inferno de manter seus pensamentos nela.apenas como sua chefe. Deus, o que estava fazendo? Nunca foi infiel com Catariana, mesmo depois do acidente de lancha em que sua memória foi afetada, ele tinha certeza de que nunca, absolutamente nunca seria capaz de trair alguém. Mas encarar aquela que se tudo desse certo assinaria o seu cheque, o fez duvidar de seu caráter. - Eu sou Dominic, Dominic Gattai. - Ele disse quando ela não fez a menor menção de falar.

— Você é? — Ela o analisava dos pés a cabeça, de forma esquisita como se estivesse checando se toda parte dele estava ali. Se ela quisesse tocá-lo ele não impediria. Adoraria sentir aquelas mão pequenas correndo por seu corpo.

"Controle-se, controle-se", seu subconsciente gritava em meio a seus pensamentos impróprios.

— Desde que me entendo por gente, sim. — Ele estava nervoso. Mas ela também não estava diferente. As mãos retorciam um colar preso a seu pescoço. O pingente ele não conseguiu identificar, mas pela forma como se agarrava a ele, era importante, era como um amuleto.

— Isso só pode ser piada. — Ela encarou o teto numa prece. — Onde você estava em dois anos?

Que tipo de pergunta era aquela? A entrevista já havia começado? Ou o que ela tinha de bonita, tinha de maluca?

— Hã, Londres? — Ele não sabia o que tinha que responder.

— Não, tá errado. Isso está completamente errado. — Ela levou a mão aos cabelos, retorcendo os fios. Ele aproveitou a oportunidade de ler o nome no colar, "Christopher". Lembrou-se de ter lido o nome na pasta que recebeu, aquele era seu ex que estava morto, com quem ela tinha três filhos, que só foram descobertos depois de uma confusão dos infernos. Não, por favor, não deixe que ela ainda ame o defunto, ele desejou rudemente. Com certeza depois que saísse dali estaria completamente condenado ao inferno, a começar pela forma como encarava o decote dela. - Devia ser próxima a Argentina, foi lá que aconteceu, devia ser lá. - Insistiu.

Ok, aquela mulher com certeza era maluca. Talvez fosse por isso que sua cabeça estava doendo tanto desde que ela entrou na sala. Estava o deixando confuso demais.

— Perdão, eu estou meio confuso.

— Você nunca esteve perto da Argentina? — Ela o encarou com desconfiança.

— Sim, nas ilhas Malvinas são territórios do Reino Unido, mas ficam a quinhentos quilômetros da costa leste da Argentina. Porém, isso foi antes do acidente. Como você sabe?

— Como eu sei? Todo mundo sabe. — Disse de maneira obvia. Ela parecia está a um passe de ter um surto psicótico ou um ataque cardíaco.

— Todo mundo quem? — Sua cabeça ia explodir, sabia que devia ter pegado suas pílulas no carro, Catarina nunca o deixava sair sem elas. Sua enxaqueca havia piorado depois do acidente, foi o que ela lhe contou.

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