— Eu tinha apenas dezesseis anos quando engravidei do meu primeiro e único namorado. — Dulce começou encarou o teto engolindo as lágrimas.
Estava evitando olhar pra ele e toda a confusão em seu rosto, machucava demais contar a história deles do começo. Justamente pra ele, justamente para quem foi o mais forte desse conto.
Ouvia como ele remexia na caixa que ela havia acabado de colocar em sua frente. Podia ver suas mãos trêmulas e ouvir seu espanto através de ruídos. Ele com certeza já havia encontrado suas fotos com os trigêmeos dentre tantas outras.
— Eu os abandonei.
— Você o quê!? — A voz embargada demonstrava o quão afetado ele estava.
— Eu não sabia o que estava fazendo, eu só- Eu só fui embora. — Suspirou pendendo os lábios, impedindo-de chorar.
Nem sabia como estava sendo tão forte até ali. Saiu da conversa com Catarina completamente desestruturada, se é que poderia chamar o que tiveram de conversa.
— Ele ficou com os nossos filhos. Ele cuidou, criou e deu tudo de si para algo que fizemos juntos e que eu não estava disposta a encarar. Bom, até algum tempo atrás.
— O que aconteceu? — Sua voz estava num murmúrio. Abalado com todas aquelas imagens sendo jogadas a sua cabeça, que agora doía como num inferno.
— Uma série de encontros. — Suspirou — Essa é a Luna, essa a Jade e esse aqui é o Henrique. — Apontou para as faces sorridentes nas fotos — E esse aqui é você. No ano seguinte a essa foto, a Jade foi diagnosticada com câncer.
— Por que você escondeu isso de mim Dulce? — Questionou
O horror em sua voz era tão nítido que fez com que ela se sentisse o pior ser humano da terra.
— Eu estava esperando o momento certo.
— Não me lembro de nada. Não me lembro de nenhum deles. — Jogou as fotos de volta na caixa.
Não bastava isso, havia a sombra gritante de que Daniel não era nada seu. Nada além do filho de uma mulher maluca que esteve mentindo para ele por muito tempo e ele sequer sabia o porquê disso.
Sua dor de cabeça aumentou, buscando juntar as pessoas daquele quebra-cabeça incompleto. Naquele momento ele não sabia quem era, ou quem deveria ser.
— Era exatamente isso que eu estava evitando. Eu queria te trazer de volta sem que precisamos passar por isso. — Ela encarou o teto recolhendo as lágrimas.
Suas mãos repousadas sobre as pernas apertavam o tecido da calça tentando controlar a onde de nervos que transparecia sobre seu corpo.
— Você não tinha esse direito.
— E o que eu devia fazer? Eu tenho vivido por dois anos suportando a dor de perder o amor da minha vida. Eu assisti de perto os nossos filhos tentarem juntar seus cacos e falhando miserávelmente sem que eu pudesse ajudar. Porque eu simplesmente não havia recolhido nem os meus.
Ele se levantou, passando as mãos pelos cabelos que havia deixado crescer um pouco mais que o normal, formando cachos grossos na massa castanha de fios que ele puxava agora mesmo. Foi de um lado a outro no curto espaço, completamente confuso.
— Eles sabem? Os três, eles sabem? — Perguntou.
Como deveria reportar-se a eles? Os filhos dela? Os filhos dele? Inferno! Mal tinha controle de suas pernas naquele momento, quem dirá de suas faculdades mentais.
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Frutos Por Trás Da Fama
FanfictionO que se pode dizer de uma mãe que abandona os filhos? Fria, cruel, egocêntrica? Sim, esses são todos os adjetivos que você pode dar a Dulce María. Ao descobrir a gravidez aos dezesseis anos, Dulce vê-se desnorteada e somente o aborto lhe parecia...