52- Lutar contra o mundo

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— Você tem me evitado. — Dulce disse quando parou no terraço do hospital.

— Vejam só, até que você é inteligente. — Ele respondeu.

Com um suspiro ela sentou-se ao lado dele, observando o horizonte. Dali podiam ver grande parte da cidade os prédios iam se multiplicando até se perderem em seus olhos. ela respirou fundo, recuperando seu fôlego. O procurou por todos os andares e alas. Tinham que conversar, eles precisavam dessa conversa.

— Eu não disse que queria companhia — Ele murmurou  sem se dar o trabalho de encara-la.

— Não vejo aviso de restrição. — Deu de ombros. — Escuta, eu sei que você está magoado-

Ele soltou uma risada alta e irônica.

— Magoado? Eu fui desprezado por minha mãe antes mesmo de nascer, ela me deixou na noite em que eu vim a este mundo. Durante quatro anos da minha vida o meu pai me ignorou, aos doze anos eu perdi o meu avô a quem eu considerava um verdadeiro herói. Aos catorze anos eu reencontro a mulher que devia ter me protegido desde o momento em que eu fui gerado, e pasmem, ela me despreza de novo.

— Henrique Eu-

— Eu ainda não acabei. Nessa mesma época os meus avós, aqueles que ajudaram a fugir tentam uma aproximação, e eu aceito. Porque eu queria conhecê-los, eu queria conhecê-la. Então ela faz um acordo estúpido com minha madrasta sendo egoísta mais uma vez. Por fim a minha irmã é diagnosticada com uma doença estúpida e que evoluiu para a mesma maldita doença que matou o meu avô. — Concluiu. — Então não, Dulce. Eu não estou magoado. Eu estou completamente fodido, psicologicamente e emocionalmente.

Ela ficou calada, absorvendo as palavras dele. Ele era absoluto e complexo. Não dizia muito com os olhos, mas sabia exatamente como demonstrar o que estava sentindo de qualquer outra forma. Ele era esperto,   e sabia bem como usar as palavras adequadas. Seu filho era um garoto espetacular. Ela queria dizer que estava em êxtase por ele ter lhe dito algo, por ter lhe contado como se sentia. Contudo, algo lhe dizia que aquilo não era o suficiente.

— Eu sinto muito. — Murmurou sem saber como responder de qualquer outra a forma.

Os olhos de Henrique varreram os seus, pela primeira vez ele a encarava.

— Você sente? Sente mesmo? Porque do jeito que você e o meu pai estavam, não me pareceu que você sentia muita coisa além de vontade de ser possuída por ele.

Por essa ela não esperava. Tá certo que em algum momento eles deveriam saber o que estava se passando entre ela e Christopher. Mas como em nome de Cristo eles poderiam saber, se nem ela mesma sabia classificar o tipo de relação que estavam levando? Sabia que ele a amava e ela o amava tanto quanto. Mas de alguma forma, a mágoa que ele tinha impedia que a recebesse de um todo.

Era incerto, em um momento ele estava a tratando como uma prostituta, em outro estava questionando como diabos ainda a amava e em outro estavam tão conectados que mal sabiam seus próprios nomes. Ainda sim, Henrique tinha uma visão sobre aquilo, sobre o que ele havia visto, e ela sabia muito bem que nada do que ele estivesse montando em sua mente faria jus a realidade. Talvez fosse até pior que a realidade.

— Você precisa parar de fugir de mim. — Proferiu. Não sabia se estava certa, mas era isso que ela sentia toda vez que o encontrava. Ele se fechava e fugia.

— Só você pode jogar este jogo? — Ele a desafiou.

— Isso não é um jogo, Henry.

— Então por que eu sinto que você está sempre jogando conosco? Comigo, com minhas irmãs e agora até mesmo com o meu pai? Me diz porque toda vez que eu olho para você eu não consigo enxergar nada além de alguém que não vai ficar por muito tempo. — Suas últimas palavras saíram em um sussurro.

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