75- Pai é você?

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Dulce suspirou quando fechou a porta do seu quarto, não soube dizer por quanto tempo ficou fazendo companhia a garota que adormecera há algumas horas, mas sabia que assim que saísse teria de encarar a bagunça que se concentrava no escritório no andar de baixo.

Agora ela estaria vendo a situação do outro lado e nem acreditava no quão surreal aquilo parecia. Por vezes desconfiava que o destino não tinha mais ninguém com quem jogar, então acabava decidindo que sua família era o play ground ideal.

— Oi. — A voz de seu filho chegou a seus ouvidos.

Pelo menos ele ainda tava vivo. Quase riu do seu pensamento absurdo. Precisaria tirar um tempo pra conversar com o garoto. Mas sentia que naquele momento não era com ela que ele queria falar.

— Há quanto tempo está aí? — O encarou. Os cabelos bagunçados e a postura tensa que se encontrava largado no chão do corredor.

— Não sei. — Deu de ombros. — Será que eu posso-

— Ela dormiu. — Indagou.

— Eu só preciso vê-la. — Seu olhar suplicante fez com que o coração da mais velha se apertasse.

Dulce suspirou destravando a porta.

— Nós ainda vamos conversar, tudo bem? — O parou antes que ele pudesse entrar. Henrique somente assentiu em concordância, mas ela tinha a impressão de que ele concordaria com qualquer coisa que falasse.  — Vai lá garoto. — Abriu a porta e permitiu que ele entrasse, encostando logo em seguida, dando a privacidade que eles precisavam no momento.

***

Com cuidado ele se sentou na cama, ao lado do corpo adormecido da garota. Larissa estava encolhida como uma bola e os cabelos escondiam a face cálida e inchada de quem havia chorado mais que o necessário.

Sem conseguir conter o impulso de tocá-la, Henrique afastou as mechas loiras de seu rosto.

Ele ainda estava desacreditado de tudo que estava acontecendo. Desde a escola quando ela fugiu, parecia estar agindo em piloto automático. E aquele era o único momento em que realmente parou para respirar, para buscar calma. Seu avô havia falado por horas sobre como ele foi irresponsável e imaturo. Mas ele nem tinha certeza sobre tudo que ouviu ou concordou.

Tinha a vaga memória de Ian o ameaçando de morte, duas, três ou mais vezes, ele não se importou. Seu pensamento estava na garota no quarto, na garota que agora parecia dormir como se não o fizesse por muito tempo.

Ela pareceu sentir estar sendo observada, pois aos poucos seus olhos se mexeram por baixo das pálpebras cerradas e não demorou muito para que seu olhar encontrasse os de Henrique. Inevitável e inesplicávelmente suas bochechas assumiram a coloração vermelha.

— Surpresa por eu ainda estar vivo? — Ele brincou. Ela não respondeu, só procurou se sentar apoiando as costas na cabeceira da cama. — Eu vou assumir esse bebê.

— Eu sei. — No fundo, ela nunca duvidou de que ele faria.

— Você precisa falar comigo. — Ele se sentou ao lado dela, evitando tocá-la para impedir certo constrangimento. Ambos estavam encarando um ponto fixo.

— Não há o que falar, Henrique. Eu fui burra, transamos. Achando pouco, fui além da burrice e engravidei, aos dezesseis anos. — Ela sorriu, mas não seu sorriso habitual, esse era tórrido e sarcástico cru. — Tô na merda.

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