P E L A S R U A S D A C I D A D E

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Havia duas horas desde que eu estava acordada no máximo, e eu só conseguia questionar minha existência, que não era um assunto estranho vindo de mim.
Pensamentos iam e vinham como uma montanha russa desgovernada, e eu queria muito me livrar de toda a confusão, ao certo, nunca quis tanto uma coisa.

Comi alguns biscoitos. Os últimos do pacote na verdade, e fui ver TV. Não achei nada que me interessasse, nadinha.
Apesar de toda confusão na minha vida, de uma eu tinha certeza, a minha família estava feliz e se divertindo muito, algo que eu gostaria de conseguir fazer.

***

Acordei com um barulho vindo do meu celular. Uma mensagem.

"estou com saudades, posso te ver?, às 8:00 está bom pra você?
Lowis."

Eram 7h00 da noite e eu sabia que em uma hora ele estaria alí, comigo.
Eu sempre fui confusa, diferente, e tantas coisas ruins. E naquela noite, estava feliz por ele ter enxergado além dos meus caos, além, muito além.
Acendi um cigarro e fui pro telhado. Faltavam poucos minutos, eu estava ansiosa, e isso sempre me prejudicou.

Desci, tomei um banho e procurei algo legal pra usar. Eu não sabia se seria um encontro, mas optei pelo "não". Que tipo de menino me levaria pra um encontro me conhecendo em poucos dias, e sem entender seus mistérios?! Contudo, eu não deixava de acreditar que eu ficaria bem naquela noite.
Optei por usar uma calça jeans preta, com uma blusa braca e meu suéter azul claro. Talvez eu devesse usar um vestido e salto, mas não era minha praia. Coloquei meu tênis e desci.

Havia passado cinco minutos e eu estava agoniada como quem tivesse perdido algo que devesse achar imediatamente. De repente, escuto socos leves na porta.
Meu coração acelerou e minhas mãos suaram. Conferi as mangas do suéter que escondiam meus pulsos, arrumei meu cabelo, e fui em direção à porta.

— Você veio. — Falei e olhei pra baixo, assim que abri a porta, ainda tímida.
— Me forçaram. — Brincou
— Quer entrar?
— Na verdade, acho melhor a gente ir.
— Você?... — Ele analisou minha roupa, mas antes de perguntar o óbvio estendeu a mão pra que eu pegasse.

Ele provavelmente iria perguntar se eu estava pronta, porque qualquer outra garota, Katy principalmente, esperaria ele com um vestido de decote, scarpin e muitas jóias.

— Por aqui. — Ele me conduziu até um carro preto, parado junto à algumas árvores.
— OK.

Ele abriu a porta pra mim, em um gesto de cavalheirismo, e assumiu o controle do volante após entrar do outro lado.
Muita coisa pra eu processar. Eu estava mesmo saindo com ele? Minha mente se perdia em pensamentos, mas agora eu me sentia bem.

Engraçado como o futuro nos surpreende. Há dias que parecem ser o fim, já outros, um começo inesperado.
Não sabia aonde estávamos indo, mas no momento só apressiava o quanto ele ficava charmoso dirigindo, e concentrado à pista.
Eu olhava a cidade pela janela, e mais uma vez não conseguia acreditar que estava aquilo acontecendo.
Pode parecer bobeira, mas pra uma menina que passou a maior parte do tempo sendo ignorada, e chorando até pegar no sono, isso sim, era uma infinidade em segundos. A medida que ele acelerava, eu observava as ruas pela janela. Os prédios passando tão rapidamente como se estivessem em uma corrida.

— É linda. — Ele começou um diálogo interrompendo meu devaneio.
— Ãh?
— A cidade.
—  Ah, sim. Muito.

Ele abriu os vidros e o vento adentrou causando fortes tensões aos meus cabelos jogando de um lado para o outro. E naquele momento, eu juro, eu esqueci tudo.

Minhas MarésOnde histórias criam vida. Descubra agora