S H O P P I N G

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A mulher já estava cansada de tanto trazer vestido para eu provar.

— Não é meu estilo. — Saí do provador dando uma volta, e Lowis que estava sentado um pouco a frente analisou o vestido que eu usava.
— Com certeza não é. Moça, eu quero algo mais elegante, pra um jantar. — Ele virou para atendente e depois sorriu para mim.
— É o último que vou experimentar, já estou ficando estérica. E sem chance de levarmos, não tenho nenhum jantar marcado.
— Ainda. — Ele se levantou e pegou um vestido da mão da mulher. — Vai ficar ótimo em você.
— Obrigada. — Peguei o mesmo da mão dele e depois de fechar a porta do provador, vesti.

Olhei no espelho, e gostei do que vi.
Era um vestido preto, com um bonito decote, mas mesmo assim, clássico. Havia um leve rachado na coxa, nada tão vulgar mas interessante.
— Vem aqui pra gente ver. — A moça pediu e Lowis concordou: — É, venha.
— Eu já tirei.  — Falei alto. — Não ficou bom.

Saí com o vestido na mão, depois de tirar com todo cuidado. Afinal, era uma roupa de grife, passaria meses ajuntando dinheiro pra poder pagar uma parcela. Apesar de ter gostado, não achei que eu iria usar. Era um estilo mais "sou rica e empresaria, vou usar esse vestido e depois guardá-lo no meu closet e esquecer dele." Achei que não combinava com meu jeito peculiar de se vestir.

— Eu gostei dele. — Lowis apontou para o vestido com o dedo indicador.
— Tem cheiro de diamante.
— Talvez tenha alguns escondido.
— Pelo preço, eu suponho que sim.
— Ele riu. — Moça, a gente vai levar.
— O que? não.
— Ah, qual é, vai me dizer que não está afim de ir a um jantar comigo?
— Lowis. — Protestei. — Você está comprando isso pra eu sair com você? está achando que pode me comprar com esses vestidos chiques e uma noite num restaurante caro que provavelmente eu nem saiba usar aqueles minis talheres?
— Claro que não. — Ele se defendeu. — Eu só quero te dar esse vestido, sair com você, jantar, e conversar.
— Ah, só?
— É muito?
— Definitivamente.
— Tá legal, então eu compro o vestido, e a gente vai pra uma barraca de cachorro quente.
— Eu segurei a risada. — Nada do vestido tá?
— Ok.
— Ele ficou sem expressão. — Eu quero um sorvete, me acompanha?

A atendente ficou sem entender a situação e permaneceu intacta com a sacola na mão, vendo a gente se afastar da loja rumo a uma sorveteria.

— Qual seu sabor preferido?
— Avelã. — Eu respondi observando o local. — E o seu?
— Chocolate branco.

O shopping estava lotado mas a sorveteria, estava com vários lugares vazios.
Um homem uniformizado veio perguntar sobre nosso pedido.

— Dois de avelã, por favor. — Lowis disse.
— Mas e o chocolate branco?
— Vou ver se você tem mesmo um bom gosto. — Ele deu de ombros.
— Pra segunda rodada eu quero flocos...ou... baunilha.
— Eu gosto também, mas sempre compro de morango, com cobertura de cereja.
— Você tem um lado dócil, não? deve ser interessante ver um cara assim, com uma casquinha de sorvete rosa e cobertura vermelha. — Eu dei uma risada abafada.
— Um cara assim?
— Acho que vou querer uma coca cola também. — Mudei de assunto.
— Carrie? — Ele me chamou com uma voz tênue.
— Sim?
— Por quê?

Imediatamente entendi a pergunta e engoli seco.
— Por quê? — Ele perguntou outra vez ao ver meu silêncio. — Hein? — Ele insistiu.
— Não sei. — Falei baixo.
— Você tem noção de como eu fiquei?
— O tom da sua voz aumentou. — Como eu havia dito, iria na sua casa, e com esperança de te encontrar lendo alguma coisa, ou no telhado, mas droga, me deparei com aquela cena, uma cena que não consigo apagar. Eu não consigo simplesmente deixar isso pra lá, não quero ir pra minha casa e ficar me perguntando se você está bem.
— Eu...
— Você tem noção do que tentou fazer?
— Ele parecia estressado.
— Sim. Eu tenho noção, e por favor, não use esse tom comigo. — Eu falei alto e firme.
— Como não? você acha que é fácil? e se fosse você hein? se você tivesse ido me procurar e me encontrasse...  — Ele não conseguiu pronunciar nada por uns segundos. — Me encontrasse assim, puxa, voce é uma grande egoísta.

A essa altura as pessoas que passavam por nós notavam a discussão, e alguns atentendes nos olhavam assustados, afinal, eramos dois jovens em uma sorveteria, eles esperavam fotos e selinhos.

— Sim eu sou egoísta. E tanto faz, porque enquanto todo mundo está seguindo sua vida tranquilamente eu me sinto perdida, e enquanto você e a Katy passam as noites juntos, eu fico no meu quarto desejando que pare de doer, e eu sou egoísta, pra caralho, porque as três da manhã enquanto todo mundo dorme, eu peço a os céus forças pra aguentar mais um dia.
— Ele ficou em silêncio, observando a mesa. Então eu continuei: — Sinto muito por ter chegado e me visto naquela situação, mas não vem colocar o fardo em minhas costas porque quem decidiu ir lá, foi você. E se não tivesse chegado, não precisaria me dar essa lição de moral.
— Você está dizendo que não se arrepende? que eu sou um intrometido por ter chegado na hora "H"?
— Só estou dizendo que sou grandinha o suficiente pra lidar com minhas decisões, e você deveria ficar fora disso.
— Não vou. Não vou ficar "fora disso" Carrie. Acha que só pedindo isso vai conseguir que eu desapareça? pois bem, não tente me excluir da sua vida, não vai conseguir.

A nossa frente uma criança deixou seu sorvete cair no chão e entrou em prantos.

— Sabe, eu tentei ser diferente. Eu tentei ser uma pessoa melhor, até assisti tv a tarde toda. Eu jurava que conseguiria, lutei pra ser uma filha adorável para o meu pai, uma irmã melhor para o Gregg, mas acontece que eu sou assim, e nesses dias eu estava tentando ser outra pessoa, e se não quiser desaparecer agora, tudo bem, mas não vai poder chegar perto o suficiente pra me machucar de novo.
— Eu nunca quis que as coisas tomassem esse rumo.
— Aceite as coisas como elas são. Ou vai passar o resto da sua vida se torturando.

Minhas MarésOnde histórias criam vida. Descubra agora