— Você fez tudo sozinho?
— Não. Tive ajuda de alguns duendes.
— Maneiro.Nós estramos e eu continuei abismada. Era pequena mas confortável.
— Você já dormiu aqui? — Eu olhei para direita e vi algumas cobertas.
— Quase sempre. É como se fosse um escudo. O lugar que eu venho quando tudo parece desmoronar.
— Eu preciso de um lugar desses. — Eu ri e fiz análise pela janela.Os galhos da árvore balançava forte e a chuva aumentava juntamente com um vento que vinha de repente.
— Você iria me contar como veio pra cá.
— Você não estava interessada.
— Agora acho que estou.
— Eu tentei me matar umas cinco vezes. — ele respirou e continuou. — Por dia.
— Quando te conheci, você aparentava perigoso, pensei que fosse homicídio.
— Somos muito mais do que os outros vêem.
— Eu deveria ter imaginado por causa das rosas e...
— Meus pais morreram em um vôo pra New Jersey, eu tinha cinco anos.
— Meu Deus, sinto muito.
Eu escutei com mais atenção o que ele dizia e uma pontada de dó caiu sobre mim.
Ele continuou: — Eu fiquei com meus dois irmãos mais velhos, eles são ruins.
— Ruins com você?
— Com tudo.
— Sinto muito mesmo.
— As pessoas sempre sentem, mas não mais do que as que passam pela situação.
— É. — Eu concordei baixo e ouve um breve silêncio.— Meus irmãos me mandaram pra cá quando completei dez anos e tentei de toda forma tirar minha própria vida.
Um relâmpago me fez firmar as mãos no chão e apesar do semblante triste, ele riu.
— Calma, isso daqui não vai desabar.
— Não estou com medo. — Ergui as sombrancelhas.
— Eu acredito em você.
— Ótimo.Eu olhei para Pieter, e ele estava em devaneio. Eu sentia que ele precisava à muito tempo desabafar.
— Você se lembra deles? seus pais.
— O tempo inteiro. Mas se a sua pergunta foi se eu lembro de como eles eram, bem pouco.
— Têm fotos?
— Tinha.
— Eles amavam muito você.
— Eles te contaram? — Ele tentou uma piada para quebrar o clima deprimente.
— Sim, contaram.
— Eu também amava muito eles. E isso eu me contei.
— Eu sei que sim.
— E o seus pais?
— Não quero falar sobre eles.
— Eles estão vivos não é? isso que importa.
— Estão, mas são uns babacas.
— Eu sempre me perguntei se iria achar meus pais uns idiotas.
— Depois dos dezoito todo mundo acha isso.Nós dois rimos, e ao olhar pela janela outra vez, percebi que o dia tinha ido embora.
— A chuva precisa parar, aqui só tem lugar pra um.
— Não precisamos dormir se passarmos a noite brincando.
— Ainda temos tempo, a lua não saiu.
— Você só considera noite quando a lua sair? —Ele riu.
— Não. Mas eu considero uma noite mais bonita depois que a lua aparece.
— Verdade ou desafio.
— O que?
— O que podemos brincar.
— Eu não vou beijar você, eu tenho namorado.
— A sua visita de hoje?Eu fiquei parada por um tempo, e a dor voltou para mim.
Por quê Lowis não foi me visitar? o que havia acontecido? o que ele estava fazendo que esqueceu das promessas de ir todos os dias.
— Não foi ele que veio.
— Por que ele não veio?
— Eu não sei, ta legal. — Falei mais alto e forte.
— Calma, não precisa ser tão sensível. E outra, eu não quero beijar você.
— Que bom, porque eu também não quero que me beije.
— Certo.A claridade da lua entrou pela janela, e nós não pronunciamos mais nenhuma palavra. Só o barulho do vento e as gotas da chuva caindo sobre o pequeno teto de madeira.
— Eu já vou indo. — Iniciei um diálogo e me levantei.
— Mas a chuva ainda está forte.
— Eu tenho que ir.
— Ter é meio que uma necessidade.
— Não estou me sentindo bem.
— A gente pode conseguir algum remédio.
— Existe remédio para excessos de expectativas?
— Ele riu mais uma vez e eu fui até a porta abrindo- a.— Espera?
Ele se levantou e segurou meu braço.

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Minhas Marés
Любовные романы[COMPLETO] Com uma vida fora dos trilhos, Carrie entra em depressão. A falta do carinho dos pais afeta sua rotina, mas quando conhece Lowis e se apaixona mais rápido do que imaginou, enxerga a felicidade perto. Contudo, quando a doença começa causa...