New York, 2019
— Dói tanto, eu não consigo fazer parar, não consigo controlar minhas lágrimas, ás vezes me sinto como uma pequena cápsula flutuando no universo, é como se minha existência fosse em vão, isso me machuca tanto, me ajude, por favor.
— Respire, está tudo bem, você não está sozinha.Fazer faculdade de psicologia foi uma das melhores escolhas da minha vida. Poder ajudar uma pessoa que passa por momentos que eu já passei, é gratificante. Mas ao contrário do que todo mundo imagina, eu não absorvo os problemas pra mim, longe disso, eu me sinto mais leve, com o coração em paz, a arte da bondade é absurda, sou feliz com minha profissão, disso eu não tenho dúvidas.
Assim que Anna acabou a terapia, notei que que o sol estava se pondo, pela enorme janela de vidro, que deixava a minha vista mais alegre.
Conferi no meu macbook se haveria mais algum paciente, e e então, deixei meu escritório, e fui tomar um banho demorado.
Já se passava das 7:00h quando meu marido chegou, ele havia pego um vôo rápido para Indonésia para ver seu pai, óbvio que eu queria ter ido junto, aquele lugar é simplesmente encantador, não me arrependo de escolher tal para lua de mel, que infelizmente foram apenas dez dias, mas pretendo voltar, sem dúvidas. Uma pena meu sogro ir tão longe assim, só pra negócios, aposto que um belo banho de sol olhando uma daquelas incríveis vista o faria relaxar, mas acho que quem está fazendo isso é uma das mulheres que ele levou, nem as culpo, acho que faria o mesmo.
— Oi querida.
— Oi. — depositei um selinho em seus lábios. — como foi a viagem? e o seu pai?
— Foi ótima, papai não quer voltar, acredita?
— Claro, até eu não queria voltar, lembra?
— ele sorriu — como esquecer aqueles dias?
continuei nos abraçada com ele, enquanto íamos para o quarto. Me sentei na cama vendo ele se desmontar, impressionante como eu fico boba ao ver aqueles músculos.
Ele pendurou o terno e foi se livrar dos sapatos quando me tirou do devaneios
— E como foi hoje no trabalho?
— Maravilhoso, sabe, eu sou tão satisfeita com o que eu faço, o dia passa voando.
— Fico feliz. — ele estava só de calça, e com o cabelo meio bagunçado, e meus pensamentos iam longe. É inexplicável saber que o amor da sua vida está ali, bem na sua frente e sem hora pra ir embora.
— Vou pegar um vinho pra gente, estou morrendo de saudades.Ele voltou com duas taças e logo as encheu.
— Eu já volto, preciso muito de um banho. — ele beijou minha testa, colocou a taça no criado mudo.Liguei a tv enquanto o esperava. Seu banho durou uns quinze minutos e logo ele estava de volta, sentou rapidamente ao meu lado, e pegou o controle.
— Por favor, não me diga que vamos assistir. — Caímos na risada.
— Óbvio que não, amor. — desliguei a tv no mesmo minuto, a saudade já não cabia mais em mim, e me aconcheguei nos braços dele.***
Acordamos animados na manhã seguinte, eu o acompanhei até seu escritório, e ele me visitou duas vezes no meu, e ambas com café quente.
— O que quer fazer hoje? — ele me entregou o copo.
— Hum, não sei, panquecas?
— Eu acho que deveríamos sair, fazer alguma coisa diferente.
— Tipo?
— Não sei, tem alguma ideia?
— Acho que não. — arrumei meu cabelo. — mas qualquer coisa com você, eu topo.
— eu gosto assim. — ele flertou comigo. — no fim do expediente a gente decide, preciso voltar ai trabalho.
— Certo.Quando ele estava quase passando pela porta, eu chamei sua atenção;
— Você já encomendou as flores? hoje é sexta.
— Eu tinha esquecido, mas vou fazer isso imediatamente.
— Ok. — dei uma piscadela.Todas as sextas-feiras, a gente vai até o cemitério, enquanto eu falo com Pieter, ele fala com a mãe dele, e nessa não foi diferente.
Meu salto grudava na grama molhada enquanto eu caminhava pelo local e fechava meu sobretudo pra me proteger do frio. De repente avistei uma pessoa no túmulo de Pieter, um homem.
— O que está fazendo aqui? — me aproximei.
— Quem é você?
— Eu que te pergunto, quem é você?
— Tim.
— Preciso mais do que o nome.
— Você o conhece? Pieter?
— Sim, e acredito que sou a única pessoa que vem aqui há anos.
— Droga, eu soube esses dias. — seu semblante estava triste, e foi então que eu percebi marcas parecidas na expressão do seu rosto, o seu nariz era igual do Pieter, até algumas marcas perto do olho, ai meu Deus, só podia ser o...
— Eu sou o irmão dele. — Tim se levantou.
— Querido, pode nos dar licença? — pedi ao meu marido, que logo se distanciou.
— Você é um idiota. — falei por impulso. — me desculpa, eu... — Tudo bem, eu sou.
— Porque está aqui, e só agora? você tem noção do quanto ele precisava de você?
— Às vezes.
— Às vezes? você o abandonou. — eu aumentei o tom de voz.
— Você também. — ele falou firme me fazendo ficar em silêncio e fitar o chão.
E então ele continuou — Meredith contou o que houve entre vocês, você não deveria ter ido embora. — a voz dele continuava ofensiva.
— Você acha que eu não sei disso? acha que eu não fiquei me sentindo horrível por dias?
— Porque você não entrou em contato comigo antes de ir embora?
— Olha Tim, eu sou uma psicóloga, casada com o cara que eu amo e totalmente feliz com a minha vida, poderia muito bem te deixar aqui falando sozinho e ir me arrumar pois eu tenho um encontro essa noite, mas escuta aqui. — tentei acalmar minha respiração. — Você é quem o abandonou! você acha que ele não me contou sobre isso? sobre o quão cruel você foi? não venha aqui depois de todo esse tempo sofrer ressentimento e falar como se a culpa fosse minha, porque o Pieter foi uma sorte que eu tive na vida, se eu tivesse uma bola de cristal eu teria impedido, por Deus, eu teria carregado ele comigo pra qualquer lugar ou sei lá, mas quem poderia imaginar?
— Mas...
— Me desculpa por isso, pareço a minha versão adolescente falando agora, mas espero que você conviva com isso, porque se tem uma pessoa que prejudicou a vida dele, foi você, sinto muito.
— Ok. — ele sussurrou, e eu notei o que memórias invadiram ele.Ficamos uns minutos em silêncio, até que me virei pra ir embora.
— Não se torture Tim. — Falei antes de ir tentando deixar ele mais calmo depois que percebi o que havia falado muito.
— Impossível. — ele respondeu no mesmo instante.
— Vivemos das consequências dos nossos atos, uma pena. Acho que o carma vai sempre apavorar às pessoas, até porque ele nos lembra que tudo pode voltar contra nós, assusta, não é mesmo?
Me afastei e entrei no carro.Quando chegamos em casa meu marido perguntou sobre o que tinha acontecido lá, eu consegui explicar, apesar de algumas lágrimas rolarem pelo meu rosto, e ele me abraçou gentilmente, e prometeu que estaria comigo, sempre.
***
Eu estava em dúvidas de qual brinco usar, quando meu pai ligou.
Conversamos quase quarenta minutos, afinal, já fazia dias desde o aniversário da Jenna que fomos ao parque. Nossa relação tinha mudado totalmente nesses últimos anos, acho que a adolescência é a pior fase da vida, onde odiamos tudo e nada faz sentido, mas agora, adulta, completamente resolvida, minha família é tudo pra mim.
Todos estavam no meu casamento, eu jurava que nem iria casar, mas lá estava eu, em um lindo gramado, com um maravilhoso vestido branco (tive ajuda da Clair pra escolher) e um sorriso inexplicável. Papai tremia sem parar, e o Gregg derramava lágrimas que eu pensei não ver tão rápido.
Meu sorriso foi ainda maior quando vi Willy em uma das primeiras fileiras de assentos, com as rugas mais a mostra, mas com o mesmo olhar de esperança.
Até Katy estava lá, convite do pai do meu marido, é claro, mas isso não importa, ela estava com as malas prontas pro Japão, até hoje não voltou, e acredito que nem pretende, mas quem é que iria querer depois de desfrutar de Tóquio?— Também te amo pai. — desliguei o telefone, e fui ajudar meu marido arrumar a gravata.
— Você está um espetáculo. — ele me abraçou.
eu sorri, porque é até difícil de acreditar na felicidade que sinto a todo momento, o tempo é realmente um milagre.
Não importa o quão triste ou sem direção uma vida pareça estar, o futuro sempre pode surpreender, sempre.
— Eu te amo. — Ele me olhou como se fosse a primeira vez, havia um brilho tão sincero, eu queria me casar com ele de novo.
— Eu também te amo, Lowis.
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Minhas Marés
Romance[COMPLETO] Com uma vida fora dos trilhos, Carrie entra em depressão. A falta do carinho dos pais afeta sua rotina, mas quando conhece Lowis e se apaixona mais rápido do que imaginou, enxerga a felicidade perto. Contudo, quando a doença começa causa...